Fábio Grecchi
Percebam o absurdo da situação: a existência de uma suposta lista de 40 chefes de facções criminosas, que eventualmente seriam transferidos para um presídio federal no Paraná, colocou um Estado do tamanho de São Paulo de joelhos. A onda de ataques a bens públicos, policiais, agentes penitenciários e seus parentes mostra que os bandidos têm capacidade de articulação muito superior à da força pública. Encarcerados, reagem ao possível distanciamento das cabeças pensantes dos grupos criminosos dispondo apenas da força das notícias, telefonia celular ilegal, advogados leva-e-traz e corrupção.
Do outro lado, o da lei, existe a tecnologia de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, juízes corregedores experientes e cientes de que é preciso agir rápido. O aparato do Estado dispõe ainda de uma cadeia intrincada de comunicações, que liga as várias pontas de uma investigação. E nas palavras do secretário de Segurança, Saulo Abreu, na coletiva concedida quarta-feira à tarde, foram justamente tais escutas que permitiram às polícias se precaver e esperar o ataque.
Alguma coisa, porém, falhou no meio deste processo.
or mais que uma lista de transferências vaze para a imprensa, o Estado foi pego de calças arriadas, pois pela tarimba dos homens que comandam a área, era certo que haveria reações por parte da bandidagem. Um exemplo: semanas atrás, na penitenciária de Presidente Wenceslau, houve quebra-quebra por parte dos detentos diante da simples possibilidade de o tal Marcos Camacho, o Marcola, chefe do infame Primeiro Comando da Capital, ser transferido. Presenciaram ele sendo levado para depor no fórum local e acreditaram que o estavam mudando definitivamente de endereço. Se houve um ensaio de que remoções da cúpula do crime poderiam gerar reações violentas por parte da marginalidade, como afirmar que as polícias estavam preparadas?
Isso só seria possível ser dito em caso de ter havido apenas mortes de bandidos. Uma dupla foi atacar uma cabine da PM e encontrou resistência maior do que imaginava. Tombaram ambos. Não foi o que se viu: o filho de um carcereiro, de somente 19 anos, foi assassinado por causa da profissão do pai. Ora, isto não é tragédia somente: é a falência total de planejamento, do sistema de vigilância.
Ou se está numa guerra, como classificou o candidato do PDT à Presidência, Cristóvam Buarque, ou se vive tempos de paz. Meia beligerância não existe. Se a idéia é a de um conflito entre bandidos e mocinhos, do lado da lei o mínimo que pode existir é alerta máximo. Folgas são suspensas, efetivo completamente na rua, integração mais intensa entre as polícias, presença ostensiva. E isto só acaba quando ficar evidente que do outro lado a ameaça não mais existe. Definitivamente!
Aqui mesmo, no Rio, a cada ciclo de violência os comandantes da Polícia Militar vinham a público dizer que colocariam todos os homens no patrulhamento.
u seja: tranca em porta arrombada. Passavam um, dois, três dias, andando de um lado para o outro, dedo no gatilho, fuzis apenas travados, e já no quarto diminuía o número de PMs, no quinto mais ainda, no sexto nem sombra e, no sétimo, como Deus, descansavam depois da criação. E os marginais saíam da toca.
Se o Estado de São Paulo tem gente suficiente para controlar a situação, deve mostrar isto o quanto antes. Se não precisa da ajuda do governo federal por ser a Força Nacional de Segurança uma tropa virtual, deve provar isto imediatamente. Caso contrário, restará apenas a retórica, mola-mestra da política de baixa qualidade.
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