Poeta desmente golpe baixo de "pistoleiros" demo-tucanos da internet, usando seu nome
O poeta Affonso Romano de Sant'Anna, divulgou em seu blog um  desmentido a respeito de uma corrente de e-mail desses mentirosos, do  tipo daqueles que espalham fichas falsas por aí.
O e-mail falso, muda seu poema e o contexto, publicado originalmente no  "Jornal do Brasil" em 1984, quando do episódio do desfecho da apuração  do atentado do RioCentro, que acabou em pizza.
Nem precisa dizer que, obviamente, o conteúdo  email falso é para atacar Dilma e  Lula.
Segue a nota do poeta:
A VERDADE DA MENTIRA
Postado por Affonso Romano, em 01/04/2010, às 10:47
HOJE DIA DA MENTIRA  ME VEJO OBRIGADO A UMA VEZ MAIS A DESMENTIR UM  TEXTO QUE CONTINUA A CIRCULAR DOIDAMENTE NA INTERNET COM MEU NOME.
AGORA PIOROU. ADICIONARAM O SEGUINTE:
"ESSE TEXTO DEVE-SE TRANSFORMAR NA MAIOR CORRENTE QUE A INTERNET JÁ VIU,  PARA QUE NA ÉPOCA DAS ELEIÇÕES CONSIGAMOS FREAR A ESCALADA DO MAL!!!! "
FAVOR DIVULGAR O POEMA CORRETO QUE NAO TEM NADA A VER
COM A CONTRAFACÇÃO QUE ANDA PELA INTERNET,
ESTE POEMA É DE 1984, ESCRITO DURANTE A DITADURA
E O EPISODIO DO 'RIO CENTRO'
A Implosão da Mentira
 Affonso Romano de Sant'Anna
Fragmento 1
               Mentiram-me. Mentiram-me ontem
               e hoje mentem novamente. Mentem
               de corpo e alma, completamente.
               E mentem de maneira tão pungente
               que acho que mentem sinceramente.
               Mentem, sobretudo, impune/mente.
               Não mentem tristes. Alegremente
               mentem. Mentem tão nacional/mente
               que acham que mentindo história afora
               vão enganar a morte eterna/mente.
               Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
               falam. E desfilam de tal modo nuas
               que mesmo um cego pode ver
               a verdade em trapos pelas ruas.
               Sei que a verdade é difícil
               e para alguns é cara e escura.
               Mas não se chega à verdade
               pela mentira, nem à democracia
               pela ditadura.
Fragmento 2
               Evidente/mente a crer
               nos que me mentem
               uma flor nasceu em Hiroshima
               e em Auschwitz havia um circo
               permanente.
               Mentem. Mentem caricatural-
               mente.
               Mentem como a careca
               mente ao pente,
               mentem como a dentadura
               mente ao dente,
               mentem como a carroça
               à besta em frente,
               mentem como a doença
               ao doente,
               mentem clara/mente
               como o espelho transparente.
               Mentem deslavadamente,
               como nenhuma lavadeira mente
               ao ver a nódoa sobre o linho.Mentem
               com a cara limpa e nas mãos
               o sangue quente.Mentem
               ardente/mente como um doente
               em seus instantes de febre.Mentem
               fabulosa/mente como o caçador que quer passar
               gato por lebre.E nessa trilha de mentiras
               a caça é que caça o caçador
               com a armadilha.
               E assim cada qual
               mente industrial? mente,
               mente partidária? mente,
               mente incivil? mente,
               mente tropical?mente,
               mente incontinente?mente,
               mente hereditária?mente,
               mente, mente, mente.
               E de tanto mentir tão brava/mente
               constróem um país
               de mentira
                                       -diária/mente.
Fragmento 3
               Mentem no passado. E no presente
               passam a mentira a limpo. E no futuro
               mentem novamente.
               Mentem fazendo o sol girar
               em torno à terra medieval/mente.
               Por isto, desta vez, não é Galileu
               quem mente.
               mas o tribunal que o julga
               herege/mente.
               Mentem como se Colombo partin-
               do do Ocidente para o Oriente
               pudesse descobrir de mentira
               um continente.
               Mentem desde cabral, em calmaria,
               viajando pelo avesso, iludindo a corrente
               em curso, transformando a história do país
               num acidente de percurso.
Fragmento 4
               Tanta mentira assim industriada
               me faz partir para o deserto
               penitente/mente, ou me exilar
               com Mozart musical/mente em harpas
               e oboés, como um solista vegetal
               que absorve a vida indiferente.
               Penso nos animais que nunca mentem.
               mesmo se têm um caçador à sua frente.
               Penso nos pássaros
               cuja verdade do canto nos toca
               matinalmente.
               Penso nas flores
               cuja verdade das cores escorre no mel
               silvestremente.
               Penso no sol que morre diariamente
               jorrando luz, embora
               tenha a noite pela frente.
Fragmento 5
               Página branca onde escrevo. Único espaço
               de verdade que me resta. Onde transcrevo
               o arroubo, a esperança, e onde tarde
               ou cedo deposito meu espanto e medo.
               Para tanta mentira só mesmo um poema
               explosivo-conotativo
               onde o advérbio e o adjetivo não mentem
               ao substantivo
               e a rima rebenta a frase
               numa explosão da verdade.
               E a mentira repulsiva
               se não explode pra fora
               pra dentro explode
                                implosiva.
 (Poema publicado no JB em 1984, quando do episódio do Rio Centro e em  diversas antologias do autor. Está em "Poesia Reunida" - L&PM,1999,  v.2)
 
 
 
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