segunda-feira, 11 de março de 2013

No capítulo das mulheres, nada de novo no Vaticano

Carlos Pompe *

 

Neste momento, no Vaticano, senhores idosos, vergando batina, que, presumivelmente, não conhecem as mulheres, ao menos no, digamos assim, sentido bíblico do termo, preparam-se para indicar o novo chefe supremo da Igreja Católica Romana.


Todos se consideram porta-vozes dos deuses Pai, Filho e Espírito Santo e intérpretes autorizados da Bíblia, em especial do Novo Testamento. Uma reunião em que mulher não entra – a não ser para executar serviços de copa e limpeza ou, quem sabe, lavar os pés dos presentes, como no mito de Madalena e Jesus Cristo.

Jesus, nos evangelhos, é apresentado como uma pessoa que se comunicava com várias mulheres, inclusive prostitutas. Acompanhava-se também de mulheres nas suas pregações itinerantes, mas a posição delas era de dependentes: “Jesus ia passando pelas cidades e povoados proclamando as boas-novas do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens” (Lucas 8.1-3). Mulheres presenciaram sua crucificação e testemunharam sua ressurreição.

Em João 4: 1-42, Jesus repreende uma samaritana por adorar um deus quem não conhece, em vez do deus judaico, e declara ser o Messias. Ela acredita e vai chamar seu povo, que a segue e também aceita que de fato encontrara o Messias, mas “não somente por causa do que você disse, pois nós mesmos o ouvimos e sabemos que este é realmente o Salvador do mundo". Ou seja, a palavra da mulher não bastava... Marta de Betânia, irmã de Lázaro, a quem Jesus ressuscitará, foi a primeira a chamá-lo “o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo".

Na única referência evangélica à adolescência de Jesus (Luca 2: 41-52), ele foi esquecido pelos pais em Jerusalém, na festa de Páscoa, quando tinha apenas 12 anos – José e Maria voltaram para Nazaré e só lá deram pela falta do moleque. Encontraram-no quatro dias depois, pregando a doutores. Maria o repreende por ter se separado dos pais, mas o garoto, respondão, destrata-a: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” Esse despeito são as primeiras palavras de Jesus registradas nos evangelhos.
Mas o Novo Testamento não são só os evangelhos. Pedro ordena a todas as esposas estarem "sujeitas ao vosso próprio marido". (1 3:1) Em 1 Timóteo 2: 9-14, escreve o apóstolo Paulo:

“quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças e com ouro, nem com pérolas ou com roupas caras, mas com boas obras, como convém a mulheres que declaram adorar a Deus. A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a mulher que, tendo sido enganada, se tornou transgressora”.

Em 1 Coríntios 14: 34-35, assevera: “As mulheres estejam caladas na igreja porque não é permitido falar e se querem aprender alguma coisa pergunte ao seu marido em casa porque é indecente a mulher falar na igreja”. Em outro trecho da mesma epístola (11:3): “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo”. E continua (6-10): “se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos”. Assim está escrito na Carta aos Colossenses: “Esposas, sede submissas aos maridos, como convém no Senhor.”

Intérprete do Novo Testamento, São Tomas de Aquino considerava que a mulher “era um ser acidental e falho e que seu destino é o de viver sob a tutela de um homem, por natureza é inferior em força e dignidade”. Tertuliano dizia que ela “era a porta do Demônio”.
Naturalmente, nos vários escritos do Novo Testamento, há também recomendações para que os homens honrem e respeitem as mulheres, mas é inegável o papel subalterno que lhes cabe, o que é até hoje mantido na hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana. Infelizmente, essa visão extrapola as paredes dos templos, pois os líderes religiosos conseguem impô-la à sociedade e inclusive ao Estado.

Como escreveu Vinícius,

“E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!...
E se piedade voz sobrar, Senhor, tende piedade de mim”

* Jornalista e curioso do mundo.

 

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