Em mais uma demonstração de arrogância e de  desrespeito às instituições, o ministro Joaquim Barbosa — presidente do  Supremo Tribunal Federal — afirmou nesta segunda-feira (20) que os  partidos políticos no Brasil são de "mentirinha" e que o Congresso  Nacional é "ineficiente" e "inteiramente dominado pelo Poder  Executivo".
    
  As declarações foram feitas durante uma palestra proferida no Instituto de  Educação Superior de Brasília (Iesb), instituição da qual é professor.  "Nós temos partidos de mentirinha. Nós não nos identificamos com os  partidos que nos representam no Congresso, a não ser em casos excepcionais. Eu  diria que o grosso dos brasileiros não vê consistência ideológica e  programática em nenhum dos partidos. E tampouco seus partidos e os seus líderes  partidários têm interesse em ter consistência programática ou ideológica",  disse ao responder a pergunta de um aluno sobre a suposta interferência do  Judiciário em assuntos do Legislativo.
  As reações contrárias às declarações de Barbosa foram imediatas. O presidente  em exercício da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), classificou como  “lamentáveis” e “desairosas” as declarações do  presidente STF. Ele criticou Barbosa que, segundo ele, tem desrespeitado as  instituições. 
  
  “O que ele [Joaquim Barbosa] vem fazendo ultimamente é apostar na crise entre  os Poderes. Ele é o fator de crise. Nós podemos dizer que hoje se há uma crise  entre o Legislativo e o Judiciário este fator se chama Joaquim Barbosa que não  pode se comportar como tutor da sociedade e nem como censor do Congresso  Nacional”, disse.
  
  O presidente em exercício da Câmara disse que Barbosa “não se dá o  respeito” e “não está à altura” do cargo de presidente do  Poder Judiciário. Ele lembrou que o presidente do STF recentemente destratou  presidentes de associações de classe da magistratura, após ter considerado  formação de ‘lobby’ pela aprovação no Congresso de emendas  constitucionais para a criação de tribunais regionais.
  
  “Não são as primeiras [declarações] lamentáveis que ele dá. Já fez isso  com representantes do Judiciário, já fez isso com integrantes do próprio  Congresso Nacional em alguns momentos. Isso não está a altura do representante  de um Poder como o Supremo Tribunal Federal, que deveria apostar na relação  harmônica e colaborativa entre os Poderes e não como o militante de uma causa  ou como alguém que se manifesta com paixão ou até com desdém em relação a outro  Poder. Então, lamentamos muito. Isso não tem nada a ver como STF, apenas com o  presidente do Supremo, que não está a altura do cargo que ocupa no  momento”, disse o presidente em exercício da Câmara.
  
  Por fim, André Vargas lembrou que os deputados e senadores são eleitos pelo  voto popular e acusou Barbosa de “não ter apreço pela democracia”.  Ele defendeu a atuação dos parlamentares e disse que “se o Brasil vai bem  é porque o Congresso Nacional vota bem”, se referindo à solidez com que o  país tem passado pela crise econômica internacional.
  
  O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que está em viagem  aos Estados Unidos, divulgou nota, por meio de sua assessoria de imprensa,  lamentando as declarações de Joaquim Barbosa.
  
  “Uma desrespeitosa declaração como essa não contribui para a harmonia  constitucional que temos o dever supremo de observar”, disse Henrique  Alves. “E, com a responsabilidade e maturidade que tenho, não quero nem  devo tensionar o relacionamento entre os Poderes. O Parlamento e os partidos  políticos, sustentáculos maiores da democracia brasileira, e todos os seus  integrantes, sem exceção, legitimados pelo voto popular, continuarão a exercer  o pluralismo de pensamentos, palavras e ações em favor do Brasil mais justo e  democrático. Tenho consciência que esse é o verdadeiro sentimento do Poder  Judiciário, do Poder Executivo e do Poder Legislativo”, concluiu.
  
  Crise entre os Poderes
  
  As críticas ao Legislativo continuaram ao longo da palestra, quando Barbosa  voltou a falar sobre os problemas do Congresso. "O problema crucial  brasileiro, a debilidade mais grave do Congresso brasileiro, é que ele é  inteiramente dominado pelo Poder Executivo", afirmou. "O Congresso  não foi criado para única e exclusivamente deliberar sobre o Poder Executivo.  Cabe a ele a iniciativa da lei”, afirmou Barbosa.
  
  Mais tarde, o presidente do STF divulgou nota na qual diz que não teve a  intenção de criticar ou fazer juízo de valor a respeito da atuação do  Legislativo e de seus integrantes. No documento, o ministro alega que estava  fazendo um “exercício intelectual em um ambiente acadêmico”.
  
  A crise entre os Poderes Legislativo e Judiciário se arrasta há meses com  diversos episódios de troca de acusações. Recentemente a Comissão de  Constituição e Justiça da Câmara chegou a aprovar uma proposta de emenda à  Constituição que submetia ao Congresso Nacional as súmulas vinculantes e  decisões do Supremo que considerassem leis inconstitucionais.
 
 
 
Um comentário:
O Brabosa não mentiu, mas não devia, pelo cargo que ocupa, tecer opiniões sobre os outros poderes...
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