Engana quem?
A basofia da chamada "origem humilde" de Serra
É patético o esforço feito pelo candidato da direita à presidência da República, o tucano José Serra, de chamar a atenção para sua "origem humilde", que é tão verdadeira quanto a "favela" de estúdio que mostrou em seu programa inaugural de propaganda política na televisão.
A questão da origem pessoal envolve uma série de aspectos que servem mais para confeccionar uma embalagem vistosa do candidato do que para esclarecer seus propósitos e ideias.
É preciso lembrar que origem social, a rigor, significa pouco. O general Ernesto Geisel, por exemplo, era filho de uma família humilde de imigrantes alemães e, durante seu período como aluno na Escola Militar, não tinha sequer trajes adequados para frequentar as festas a que seus colegas compareciam. Quando ocupou a Presidência, entre
O que conta, assim, é a história do candidato, o trajeto que seguiu entre sua origem e a posição que ocupa hoje na cena política. E a comparação, neste particular, é desfavorável para José Serra.
Lula percorreu desde os degraus mais baixos da hierarquia social em nosso país; tornar-se torneiro mecânico de profissão foi percebido, por ele e sua família, como um sinal de ascensão social. Ele surgiu para a vida pública como dirigente sindical e foi o mais notável dirigente de massas de nossa história antes de vir a ser o líder político brasileiro mais reconhecido no país e no mundo. Nessa trajetória, não rompeu com suas origens e este talvez seja o principal fundamento de sua enorme popularidade como presidente e de seu governo.
José Serra não pode exibir trajetória semelhante, por mais que se esforce. Ele é filho de uma família remediada de classe média. Fez carreira como líder estudantil e dirigente de uma organização de esquerda, sofrendo o exílio desde o começo da ditadura militar. Retornou ao país em 1977 já como um economista conhecido, e continuou a resistência democrática agora dentro do território nacional. Na década de 1990, fez uma inflexão importante, que representou o rompimento radical com suas alegadas "origens humildes". Já em 1990, quando foi reeleito deputado federal, o apoio preferencial que recebeu da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indicava o rumo conservador daquela inflexão. Em 1995, compôs – com o ministro da Fazenda Pedro Malan – o núcleo econômico do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Serra foi então um dos principais dirigentes da política de privatizações, como o próprio FHC declarou em uma entrevista à edição eletrônica da revista Veja. Foi uma figura central daquele processo cujo objetivo era entregar ao capital privado os bancos públicos (entre eles o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES), a Petrobrás, e os setores de telecomunicações e de energia elétrica, entre outras empresas públicas.
Nessa época já não era mais o "José" que pretende ser: havia rompido com os projetos socialistas dos tempos da Ação Popular (AP) e da luta estudantil e era agora um dos principais quadros políticos da direita neoliberal no Brasil, rodeado de caciques que haviam dado as cartas durante a ditadura militar de 1964, defendendo a política de subordinação do país aos interesses das nações mais poderosas, executor das diretrizes que, a mando do FMI e do Banco Mundial, impediam o desenvolvimento do país. Ele foi ministro do Planejamento e, depois, da Saúde, de um governo - o de FHC – que estagnou a economia, aumentou o desemprego (criou apenas 798 mil postos de trabalho em oito anos. Lula termina seu governo com 14 milhões!.) e empobreceu os brasileiros.
Apesar de suas "origens humildes" Serra foi um dos principais membros daquele governo, dirigente destacado das forças do retrocesso nacional e do conservadorismo. Ele quer ser presidente e tenta pavimentar seu caminho com a memória de menino pobre. Engana quem?
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