sexta-feira, 12 de agosto de 2005

AJARDINAR A ESPERANÇA

Ajardinar a Esperança
Leonardo Boff *

Adital - A turma da Casa Grande nunca engoliu em política alguém que viesse
da Senzala. Por conta das corrupções da cúpula do PT e dos equívocos do
Governo Lula nas coligações partidárias ela ganhou de presente uma
oportunidade para a qual não precisou conspirar: a possibilidade de depor
legalmente o Presidente e de liquidar politicamente o PT.

Corifeus da oposição, embora disfarcem a linguagem, aventam claramente tal hipótese.
Logicamente um impeachment não é coisa meramente jurídica, é uma bomba que
pode abalar todo o edifício político de um país. Mas os donos do poder só
têm a ganhar com tal desfecho trágico. A volta ao poder central estaria
aberta. O que aconteceria caso isso viesse a ocorrer?

A primeira reação, como já apareceu na imprensa, viria da Comissão dos
Movimentos Sociais (CMS) liderada pelo MST, CUT e UNE que engloba cerca de
50 entidades populares. A despeito das críticas que fazem à macroeconomia do
Governo, colocariam milhares de pessoas nas ruas para defender o mandato do
Presidente. O argumento de base é este: a conquista da Presidência não é
questão pessoal de Lula, é expressão simbólica do poder popular que depois
de séculos de exclusão conseguiu se articular e chegar lá.

O "Lula-lá" voltará a ser bandeira política. Que legitimidade política e ética tem um
Congresso, pervadido de corrupção sistêmica reconhecida, para julgar um
Presidente por corrupção? Temo que os movimentos sociais cerquem o Congresso
com o grito:"Que se vayan todos". Colocariam os parlamentares sob forte
constrangimento ainda mais que a maioria deles precisa do povo tranqüilizado
para se reeleger pois é o que mais buscam.

Querem julgar? Então que julguem a todos em toda as instâncias e que acabem com a hipocrisia.
Quando há crise de poder, precisa-se voltar à fonte do poder, como está na
Constituição:"todo poder emana do povo e em seu nome será exercido". Todos
os cargos públicos, do Presidente ao último servidor, são instâncias
delegadas deste poder popular. São servidores do povo e não portadores
originários de poder. Importa, pois, radicalizar a democracia. Crise de
democracia se cura com mais democracia e não com golpes autoritários ou
conciliações falaciosas sem o povo.

Nenhum comentário:

Marcadores