Fim do PT seria ruim para o Brasil -
KENNEDY ALENCAR-Colunista da Folha Online-O senador Cristóvam Buarque (DF) dirá nesta segunda-feira (15/08) se deixará ou não o PT. O paulista Aloizio Mercadante, líder do governo no Senado, pensou em sair do partido quando ficou com a cabeça quente ao saber do forte depoimento de Duda Mendonça à CPI dos Correios. Um grupo de 22 deputados federais e quatro senadores da legenda se declarou independente do PT em sua atuação parlamentar.
Muitos choram de tristeza, raiva e decepção ao tomar conhecimento a cada dia de uma revelação que mostra que a antiga direção do PT cedeu a um esquema de financiamento político indecente e criminoso.Todos esses petistas têm o direito de deixar a legenda e administrar as suas carreiras políticas como bem entenderem, mas cometerão um erro se o fizerem no calor da crise.
De imediato, deveriam sair do PT aqueles que traíram o partido, não os que se sentem traídos por "práticas inaceitáveis", como disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pronunciamento na sexta-feira (12/08).O PT ainda tem muita lenha para queimar. Os erros da antiga direção do partido não podem significar uma sentença de morte de todos os seus membros.
O que os prefeitos Marcelo Déda (Aracaju) e Fernando Pimentel (BH) têm a ver com isso? Qual a participação da maioria dos parlamentares da sigla nessa lambança? Que culpa têm militantes que dedicaram 25 anos de suas vidas a construir um partido inovador na esquerda brasileira?Um partido político é uma construção humana. Sujeito a erros, portanto. Um lado bom de tanta coisa ruim poderá ser o fim de certa arrogância petista, daquele sentimento de que políticos bons só existiam no PT. O fim do maniqueísmo na política será bom para o país.
Dito isso, convém registrar que, ao lado do PSDB, o PT ainda tem os melhores quadros políticos do Brasil. Aqueles que pensam em sair da sigla deveriam refletir sobre algumas questões. Sair da legenda para ingressar em quais partidos? As alternativas são melhores? Há espaço para a criação de um novo partido de esquerda ou centro-esquerda?Cristóvam avalia ingressar no PPS ou no PDT. Para entrar no PDT, sua condição é que Anthony Garotinho, atualmente peemedebista, não volte a ser pedetista.
Com todo o respeito, o PPS e o PDT são feudos partidários a serviço de caciques políticos. Ciro Gomes, por exemplo, deixou o PSDB pelo PPS para viabilizar um projeto presidencial mais pessoal do que partidário.
O PSB, que perdeu Miguel Arraes neste final de semana, é outra legenda dominada por interesses personalistas. O nanico e atrasado PC do B é uma alternativa? O recém-criado e messiânico P-Sol de Heloisa Helena, que defende a estapafúrdia tese de antecipar as eleições de 2006, é uma opção consistente ao PT? O radical PSTU tem um projeto realista de poder?É uma saída o PFL de ACM, aquele político que renunciou ao mandato para não ser cassado quando foi descoberto que violara o segredo do painel de votação do Senado que presidia?
O PSDB, partido com rivalidades mais de ordem pessoal do que ideológica com o PT, receberá Cristóvam num Distrito Federal onde está aliado a Joaquim Roriz (PMDB)?O PTB, o PL e o PP, legendas alugadas e escravizadas pelo mensalão, são orgulhos da democracia brasileira? O PMDB, agremiação fracionada de caciques regionais, seria um bom destino para Mercadante, que se dá muito bem com uma ala do partido?
A crise do PT é gravíssima. É uma ilusão minimizá-la, tentando, por exemplo, preservar Delúbio Soares e José Dirceu. O Partido dos Trabalhadores nunca mais será o mesmo depois de conhecer Marcos Valério.O PT, no entanto, ainda tem um papel importante a cumprir na política brasileira. Sua ligação com movimentos organizados da sociedade, uma espécie de amortecedor social, não pode ser substituída da noite para o dia. Sua pregação pela ética na política civilizou o país --aliás, teve tanto êxito que hoje devora parte do partido.É verdade que, em política, não há vácuo. Fernando Collor de Mello, apoiado por alguns de nossos principais veículos de comunicação, foi uma prova disso ao final do governo José Sarney. A destruição do PT não interessa à democracia brasileira.
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4 comentários:
A herança é a vergonha maior Moreno, calado, tímido, Arnóbio tinha a voz forte e a alma fraca. Ex-seminarista, saiu da Bahia para ensinar história e geografia no ginásio da pequena e saudosa Pedra Azul, fronteira norte de Minas, à beira da Rio-Bahia, ainda não asfaltada, em 51, onde eu ensinava latim, português, francês.
Quatro professores jovens e solteiros, morávamos no andar de cima. No térreo, as salas de aula e o pátio de ginástica, onde a garotada, de manhã, marchava e cantava sob o comando de João Benio (depois diretor de filmes policiais em Goiás).
Com seu vozeirão de estudante de órgão no seminário, cantando bonito no chuveiro, Arnóbio desde o primeiro dia encantou a meninada, que lá embaixo marchava e batia palmas ao ritmo dele.
Um dia, veio o desastre. Arnóbio cantava "Vingança", de Lupicínio Rodrigues ("Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada"), e trocou a letra. Em vez de "Me fazer passar essa vergonha com um companheiro, e a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou", Arnóbio cantou assim: "A herança é a vergonha maior que meu pai me deixou".
Lá embaixo, a garotada marchante bateu palmas ritmadas: "Filho de ladrão, filho de ladrão"! Arnóbio desceu para a aula, a turma batia os dedos nas carteiras: "Tan-tan-tan-tan"!! Na manhã seguinte, Arnóbio não cantou. Mas lá embaixo eles cantavam: "A herança é a vergonha maior que meu pai me deixou. Filho de ladrão!". Arnóbio chorou a noite toda e voltou para a Bahia.
Juros e caixa 2 Na hora da vitória, José Dirceu denunciou "a herança maldita": a dívida interna (sem falar na externa) que já chegou a um trilhão (oficialmente, R$ 965,988 bilhões), com juros mensais que em julho foram de R$ 15,234 bilhões e "superávit primário" (tudo para os banqueiros) de 6,43% do PIB. Mas logo Lula fez da "herança maldita", e piorada, a política econômica de seu governo.
Essa foi uma, a herança econômica. E agora se descobre que Lula e o PT também adotaram a outra "herança maldita" de Fernando Henrique: a corrupção. Justiça se faça aos tucanos. Quem inventou a roubalheira e a compra dos políticos através dos bancos não foi o PT. O PT herdou do PSDB.
Em Brasília, todos sabem como foi a compra da aprovação da reeleição. Sergio Motta chamava o deputado (ou senador), mandava-o ir a um banco em São Paulo (eram alguns) e fazer um empréstimo de R$ 200 mil, R$ 300 mil (presidente de partido ou líder, R$ 500 mil) e deixar lá. Nunca cobraram nada.
PT e governo Lula não inventaram o caixa 2 bancário. O DNA é tucano. Marcio Lacerda
Ninguém entendeu o secretário-executivo do Ministério da Integração, vice-ministro de Ciro Gomes, Marcio Lacerda, recebendo R$ 457 mil da quitanda financeira de Marcos Valério. Sei de onde veio o mistério.
Marcio Lacerda foi um bravo da guerrilha urbana em Minas, do grupo Corrente, ligado à ALN (Ação Libertadora Nacional), de Carlos Marighella. Depois de muita tortura e vários anos de prisão, com a anistia, engenheiro, tornou-se empresário bem sucedido em informática, instalação de redes, etc.
Na campanha presidencial de Ciro, em 2002, foi o tesoureiro e principal doador (legal). É só ver na Justiça Eleitoral. Surpreendente é aparecer agora na lista do Mensalão, pagando restos de dívidas do segundo turno de Lula.
CORRUPÇÃO NO GOVERNO FHC AOS FRACOS DE MEMÓRIA:
- Sivam: Logo no início da gestão de FHC, denúncias de corrupção e tráfico de influências no contrato de US$ 1,4 bilhão para a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) derrubaram um ministro e dois assessores presidenciais. Mas a CPI instalada no Congresso, após intensa pressão, foi esvaziada pelos aliados do governo e resultou apenas num relatório com informações requentadas ao Ministério Público.
- Pasta Rosa: Pouco depois, em agosto de 1995, eclodiu a crise dos bancos Econômico (BA), Mercantil (PE) e Comercial (SP). Através do Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer), FHC beneficiou com R$ 9,6 bilhões o Banco Econômico numa jogada política para favorecer o seu aliado ACM. A CPI instalada não durou cinco meses, justificou o "socorro" aos bancos quebrados e nem sequer averiguou o conteúdo de uma pasta rosa, que trazia o nome de 25 deputados subornados pelo Econômico.
- Precatórios: Em novembro de 1996 veio à tona a falcatrua no pagamento de títulos no Departamento de Estradas de Rodagem (Dner). Os beneficiados pela fraude pagavam 25% do valor destes precatórios para a quadrilha que comandava o esquema, resultando num prejuízo à União de quase R$ 3 bilhões. A sujeira resultou na extinção do órgão, mas os aliados de FHC impediram a criação da CPI para investigar o caso.
- Compra de votos: Em 1997, gravações telefônicas colocaram sob forte suspeita a aprovação da emenda constitucional que permitiria a reeleição de FHC. Os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre, teriam recebido R$ 200 mil para votar a favor do projeto do governo. Eles renunciaram ao mandato e foram expulsos do partido, mas o pedido de uma CPI foi bombardeado pelos governistas.
- Desvalorização do real: Num nítido estelionato eleitoral, o governo promoveu a desvalorização do real no início de 1999. Para piorar, socorreu com R$ 1,6 bilhão os bancos Marka e FonteCidam - ambos com vínculos com tucanos de alta plumagem. A proposta de criação de uma CPI tramitou durante dois anos na Câmara Federal e foi arquivada por pressão da bancada governista.
- Privataria: Durante a privatização do sistema Telebrás, grampos no BNDES flagraram conversas entre Luis Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações, e André Lara Resende, dirigente do banco. Eles articulavam o apoio a Previ, caixa de previdência do Banco do Brasil, para beneficiar o consórcio do banco Opportunity, que tinha como um dos donos o tucano Pérsio Árida. A negociata teve valor estimado de R$ 24 bilhões. Apesar do escândalo, FHC conseguiu evitar a instalação da CPI.
- CPI da Corrupção: Em 2001, chafurdando na lama, o governo ainda bloqueou a abertura de uma CPI para apurar todas as denúncias contra a sua triste gestão. Foram arrolados 28 casos de corrupção na esfera federal, que depois se concentraram nas falcatruas da Sudam, da privatização do sistema Telebrás e no envolvimento do ex-ministro Eduardo Jorge. A imundice no ninho tucano novamente ficou impune.
- Eduardo Jorge: Secretário-geral do presidente, Eduardo Jorge foi alvo de várias denúncias no reinado tucano: esquema de liberação de verbas no valor de R$ 169 milhões para o TRT-SP; montagem do caixa-dois para a reeleição de FHC; lobby para favorecer empresas de informática com contratos no valor de R$ 21,1 milhões só para a Montreal; e uso de recursos dos fundos de pensão no processo das privatizações. Nada foi apurado e hoje o sinistro aparece na mídia para criticar a "falta de ética" do governo Lula.
ENGAVETADOR-GERAL:
Apesar dos escândalos que marcaram a sua gestão, FHC impediu qualquer apuração e sabotou todas as CPIs. Ele contou ainda com a ajuda do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que por isso foi batizado de "engavetador-geral". Dos 626 inquéritos instalados até maio de 2001, 242 foram engavetados e outros 217 foram arquivados. Estes envolviam 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e ex-ministros e em quatro o próprio FHC. Nada foi apurado, a mídia evitou o alarde e os tucanos ficaram intactos. Lula inclusive revelou há pouco que evitou reabrir tais investigações - deve estar arrependido dessa bondade!
O COLAPSO PETISTA E UMA NOVA CONSTITUINTE
Em ocasião do colapso petista, alguns setores da oposição aventam a idéia de uma revisão constitucional. Matérias da Folha de São Paulo, semana passada: "CCJ aprova projeto de revisão constitucional" e "Presidente da OAB defende Constituinte". A meu ver, a meta é moldar a Constituição de 1998 aos interesses liberais, aproveitando a desarticulação da principal força de esquerda da política brasileira.
Se confirmadas as revelações do Duda Mendonça a respeito das "offshores", o PT poderá ter o seu registro partidário cassado, e na melhor das hipóteses, o partido perderá representatividade com a emigração de vários dos seus membros para outros partidos.
A seguir, sobrevirão as eleições de 2006, quando o PT se submeterá ao julgamento eleitoral, da qual dificilmente sairá fortalecido.
Assim, se a idéia da revisão constitucional for adiante, o PT não terá forças suficientes na futura Constituinte. Sem um partido forte como o PT e com as esquerdas fragmentadas, como ficará "a cara" da nova constituição, lá para meados de 2008?
No meu post anterior, em "Constituição de 1998", lê-se, Constituição de 1988.
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