sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Contraponto antecipado

"A astúcia venceu a soberba"



Vitória de Aldo começou a se concretizar quando o governo conseguiu dividir o
PMDB, inviabilizando Temer e fortalecendo Nonô, um candidato com menor
capacidade de atração de votos. Com Aldo, o governo neutraliza as armas da
oposição para tentar prolongar a crise política.


A oposição se deixou levar pelos triunfos dos últimos meses e avaliou que poderia triunfar novamente com seu candidato mais extremista. Poderia parecer que lançava Nonô para depois apoiar a Temer, o que já representaria uma vitória, porque restabeleceria o marco de alianças entre três grandes partidos – PSDB, PFL e (um setor do) PMDB – e consolidaria o isolamento do governo, que continuaria enfrentando um cenário negativo no Congresso.

Mas a oposição acreditou que poderia vencer sem mediações: diretamente com Nonô. Teria sido uma vitória retumbante, se consideramos que Nonô era o vice-presidente de Severino – considerado pelos tucanos como um primeiro-ministro, o poder real atrás do trono – e dirigente de um partido, o PFL, que propunha abertamente o impeachment de Lula. Estaria dado o marco político para a hipótese anunciada por Wanderley Guilherme dos Santos, em que o PFL, como partido laranja do PSDB, apresentaria a proposta de impeachment, que acompanharia a Lula durante toda a campanha presidencial de 2006, fazendo sangrar sua candidatura à reeleição.

A oposição se deixou iludir com o efeito midiático da eleição de Severino e das CPIs. Confundiu o virtual com o real e acreditou que poderia ter uma vitória retumbante. Lançou o nome de Nonô. Recebeu o apoio do PPS e do PV – inclusive o de Fernando Gabeira, que anunciou que começava o processo de moralização da Câmara, mas apostando que esse processo se daria pelas mãos do vice-presidente de Severino. Acreditou que podia restabelecer a frente de 300 votos que há sete meses havia derrotado o governo, eleito Severino e visto a patética cena da oposição entoando o hino nacional.

Faltou contar com a astúcia do governo. Recomposto da sua desarticulação sob os efeitos da crise, o governo recuperou capacidade de iniciativa, sob a coordenação de Jacques Wagner e de Henrique Fontana, jogou todas suas cartas para recompor a base governamental, em torno da candidatura de Aldo Rebelo. O governo conseguiu dividir ao meio o PMDB, inviabilizar a candidatura de Michel Temer, deixando a oposição com Nonô – um candidato com menor capacidade de atração sobre os partidos que não teriam candidato no segundo turno.

A derrota da oposição é, antes de tudo, a derrota dos seus principais articuladores: José Thomas Nonô, Alberto Goldman, Roberto Freire, Fernando Gabeira, Artur Virgilio, Tasso Jereissatti, ACM, Michel Temer. Junto com eles, os pré-candidatos opositores: Alckmin, Serra, FHC, Garotinho e César Maia.

Mal também ficou o PSOL. Luciana Genro anunciou que o partido se absteria. Os novos deputados, recém saídos do PT, não foram consultados. Alguns anunciaram que votariam em Rebelo, Chico Alencar fez discurso com elogios e críticas a Rebelo e a Nonô, sugerindo a abstenção, mesmo diante de um candidato da esquerda e um da direita, projetando um novo perfil, de crise de identidade, desses parlamentares.

A vitória no governo é, antes de tudo, a de Jacques Wagner, de Henrique Fontana, de Arlindo Chinaglia, do próprio Aldo Rebelo, assim como de Lula, que se envolveu diretamente nas articulações. Essa vitória, por um lado, neutraliza as armas da oposição para tentar prolongar a crise dos últimos quatro meses, indefinidamente.

Ganhar a presidência da Câmara poderia parecer um trâmite normal em outras circunstâncias, mas depois da eleição de Severino e da crise dos últimos quatro meses é uma vitória que dá alento ao governo, no mesmo momento em que a direção do PT e alguns ministros – com destaque para Jacques Wagner – tentam retomar a iniciativa política e as CPIs parecem perder fôlego.

Por outro lado, permite ao governo redirecionar a pauta do Congresso conforme suas prioridades, incluindo a reforma política, bem como recuperar o prestígio da Câmara, depois de Severino, pela condução de um de seus parlamentares. O governo se sentirá com maior blindagem, enquanto a oposição, vendo diminuir seus instrumentos de ação, deve elevar o tom de suas acusações. Voltará à situação de livres atiradores, lançando mão da oratória e do sensacionalismo.

O governo ganha margem de manobra e espaço para reorganizar sua ação política, preparar-se para a campanha presidencial e tentar dar por terminada a crise. Reequilibra-se a relação de forças entre governo e oposição no plano político institucional. Resta saber o que o governo saberá fazer dessa vitória.

Triunfou a astúcia contra a soberba.

ANÁLISE - EMIR SADER
Emir Sader - Carta Maior 28/09/2005


COMENTÁRIO:

"Pior de tudo é a situação do PSOL, que com seu direcionamento político, grita para a sociedade: Acima das "ideologias", prevalece as atitudes extremadas de rancor, ressentimento e mágoa.

Na ânsia de se vingar do PT vale sempre favorecer a direita oligárquica e jogar para a torcida organizada, da agora aliada, imprensa ideológica."

Geraldo

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, como Fernandinho Beira-Mar é "astuto"! Al Capone também era "astuto"! Ronald Biggs foi bem "astuto" também. Lulla é tão "astuto" quanto Fernando Collor foi!!!

MV

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