quarta-feira, 21 de setembro de 2005

REMINISCÊNCIAS


Ahh, esta missão de ser revoltado tem lá seus percalços. Somos incompreendidos, ofendidos, maltratados, amaldiçoados e até excomungados. Tudo porquê não aceitamos os métodos de uma DIREITA arrogante, opressora, dominadora.

A vida de revolta do ONI começou na mais tenra idade. Tinha sete anos de idade e cursava o primeiro ano de "grupo". Era assim que chamávamos os primeiros anos do ensino fundamental.

Naquela época, no auge da ditadura, onde a elite detinha de forma descarada o comando deste país com o respaldo dos milicos, e sem resistência a altura, um coronel de minha cidade, Orozimbo Mandacaru, resolveu prestar uma homenagem à sua "querida" maezinha (que o Diabo a guarde, por todo o sempre) construindo um busto da dita cuja e inaugurando-o sob pompas e obas-obas, típicos dessa elite medieval, num domingo de manhã.

Assim o fez . E para satisfazer seu ego necessitado de afagos e mimos, ordenou que as escolas públicas mandassem, no domingo, `as sete da madruga, seus alunos maltrapilhos para a solenidade, enquanto o Colégio formador de "párias de luxo", (uma Escola particular de minha Cidade ) ficou dispensado de ir a inauguração do busto da bruxa.

Aquilo me revoltou de tal maneira que despertou em mim o "sangue Petista". O PT nem era projeto de partido, mas no meu sangue já corria a bandeira do questionamento, da não aceitação da opressão, da resistência, do não calar-se diante de tanto desmando, mesmo naquela tenra idade: sete anos.

Sentindo-me encorajado, convoquei uma assembléia com o "grupo" na qual ficou decidido que iríamos dar um basta naquela situação. Iríamos, à partir daquele momento, iniciarmos um movimento para combater a opressão, o desmando e o descalabro político reinante. Ali estaria um embrião de um partido político. Era minha primeira investida na representação parlamentar.

Na sexta-feira anterior a inauguração do busto da mocréia, a Diretora do Grupo Escolar nos reuniu no pátio, na presença do CORONEL MANDACARU e disse que deveríamos estar reunidos na praça principal, para inauguração solene do busto da velhota ( Senhora Rita Mandacaru) no domingo bem cedinho. Discursou por quase meia hora, enaltecendo a bruxa.
No final perguntou:

- Quem, no meio de vós que não vai a inauguração, se apresente.

Imediatamente, e sabendo de antemão o combinado com os outros, confiante, sorridente, satisfeito, e perfilado na coluna da frente, levantei a mão. Quando dei por mim, notei que todos deram um passo para trás, (literalmente).

Isso me colocou em evidência, porquê somente eu estava adiantado, sozinho, lá na frente do grupo, com a mão levantada, enquanto os outros, ficaram bem afastados de mim. Foi a primeira decepção de minha vida política. Fui traído pelos meus pares.

Nisso, senti uma mão cheia de dedos enormes, entrar em declive cruzado, entre o couro cabeludo da parte lateral do crânio e o lóbulo da orelha esquerda: Era um SAFANÃO dado pelo CORONEL MANDACARU, uma espécie de "pedala robinho" enviesado lateralmente. Sentia o mundo rodar, um zunido acompanhado de um gosto estranho na boca e via estrelinhas cintilantes por toda parte.

Fui conduzido, segurado pelo RABO DA CALÇA para a delegacia mais próxima. E lá, num julgamento sumário de quinze minutos, fui condenado a passar minha infância em BARBACENA, no MANICÔMIO JUDICIÁRIO , de onde só saí com 17 anos. Fui preso político aos sete anos de idade. Lá, em BARBACENA, comi o pão-que-o-diabo-amassou.

Era obrigado a comer JILÓ. E caso não quisesse, de livre e espontânea pressão, era trancafiado numa solitária. Eu preferia ir para a solitária, mas JILÓ eu não comia e não COMO, bem como NÃO SOU MASSA DE MANOBRA de ninguém!!!

E foi assim que passei a ter consciência política. Ninguém precisa de uma experiência como a minha, mas deve estar sensível aos desdobramentos e consequências de um fato como esse.

Oni Presente

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