sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Tesoureiro: SMP&B e DNA movimentaram R$ 53 milhões para o caixa 2 de Azeredo

“Durante a campanha, outras dívidas foram sendo realizadas pela coordenação, sempre em prol da candidatura dos réus (Eduardo Azeredo e Clésio Andrade) e com o consentimento destes, totalizando o absurdo valor de aproximadamente vinte milhões de reais”, relatou Cláudio Mourão, tesoureiro da frustrada campanha de 1998 à reeleição ao governo de Minas Gerais do presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, em ação impetrada no Supremo Tribunal Federal (STF). Mourão buscou as vias judiciais contra o seu ex-chefe para cobrar uma indenização por danos morais e materiais por se sentir prejudicado com o destino dado ao dinheiro arrecadado ilegalmente para o caixa 2 de Azeredo.

De acordo com farta documentação, a campanha de Azeredo teria custado – descontando o valor declarado à Justiça Eleitoral (R$ 8,55 milhões), na verdade, não menos do que R$ 53 milhões, dinheiro este que teria transitado pelas empresas de Marcos Valério. Deste total, cerca de R$ 18 milhões seriam oriundos dos cofres públicos.

Na ação, Mourão descreve parte dos esquemas montados para alimentar o caixa 2 operado por Marcos Valério para convencer o juiz de que foi prejudicado nos pagamentos das dívidas que estavam em seu nome, dívidas estas menosprezadas por Azeredo e Clésio, que optaram por distribuir o dinheiro angariado através do Estado para apoiadores de sua campanha. Em sua defesa, Azeredo sempre tentou negar que sabia do caixa 2, jogando a culpa sobre Mourão, embora tenha admitido que o caixa 2 foi feito em sua campanha. No entanto, o caixa tucano afirma categoricamente que Azeredo sabia de tudo e aprovava tudo, corroborando com o depoimento de Marcos Valério na CPI da Compra de Votos de que o presidente do PSDB tinha pleno conhecimento de todos os passos do caixa 2. Na ocasião, Valério informou que tivera duas reuniões com Azeredo para tratar das dívidas não contabilizadas da campanha, isto é, caixa 2.

“Forçoso reconhecer que o autor (Mourão) dispunha da total e irrestrita confiança e credibilidade junto aos réus, mormente perante o 1º réu, hoje senador da República (Azeredo), que lhe concedeu, a época da campanha, todos os poderes”, afirma Mourão, ressaltando “que todas as dívidas realizadas foram feitas em benefícios dos réus, e com o consentimento destes, que sabiam de tudo que se passava”.

Antes da ruptura, Cláudio Mourão realmente tinha laços estreitos com Azeredo, atuando sempre ao lado do ex-governador. Mourão tornou-se assessor de Azeredo ainda na prefeitura de Belo Horizonte, quando este assumiu no lugar de Pimenta da Veiga, no início da década de 90. Quando Azeredo virou governador, Mourão assumiu a Secretaria de Administração do Estado, sendo promovido, em julho de 1998, ao cargo de maior confiança de uma campanha política, ou seja, tesoureiro.

Documentos analisados pelo HP apontam que, pelo menos, R$ 18 milhões (em valores da época) do caixa 2 de Azeredo foram açambarcados do Estado. Destes, R$ 8,5 milhões eram referentes ao financiamento do enduro da independência (Estado R$ 2 milhões; Cemig R$ 1,5 mi; Copasa R$ 1,5 mi; Bemge R$ 1 mi; Crédito Real R$ 1 mi; Loteria de Minas R$ 500 mil e R$ 1 mi da Comig), R$ 8.505.351,00 através da Secretaria de Comunicação do Estado (Secom) e R$ 1,6 milhão através de contratos da SMP&B com a Cemig. Segundo documentação em mãos do Ministério Público, as empresas SMP&B e DNA, de Marcos Valério, teriam movimentado, em valores da época, cerca de R$ 53 milhões para campanha de Eduardo Azeredo.

Num dos trechos da ação, Mourão não se intimidou em contar detalhadamente que o dinheiro obtido ilicitamente do Estado foi utilizado no caixa 2. No entanto, mostrou-se claramente discordante do destino dado aos recursos que foram operados via SMP&B: “a verdade é que o 2º réu (Clésio), então sócio da empresa SMP&B Publicidade, juntamente com Marcos Valério, utilizou-se de valores obtidos em evento (enduro) promovido pela referida sociedade, cujo origem seja devidamente documentada no decorrer da instrução deste feito, em seu benefício, enviando valores, que deveriam ter sido alocados na campanha para terceiros (políticos), obtendo, então, com tal atitude importante cargo no partido, deixando ao autor somente as dívidas”.

Mourão fez questão de ressaltar que Azeredo, “reconhecendo a dívida, obteve documento do autor (Mourão), tentando se esquivar de seus compromissos, mas não realizou o pagamento, deixando o autor, mais uma vez, com as dívidas”. Esse documento era uma promissória de R$ 700 mil assinada por Azeredo que posteriormente foi protestada por Mourão.

Diante das revelações de Mourão, embasado em vasta documentação, é grande a movimentação na Assembléia de Minas para a instalação de uma CPI. Para o 2º vice-presidente da Assembléia, Rogério Correia (PT), é um absurdo que as CPIs instaladas no Congresso nacional não tenham convocado, ainda, Cláudio Mourão para depor. Correia chegou a enviar uma carta para o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio, detalhando o esquema de caixa 2 tucano em Minas. “Se tem alguém que se beneficiou do caixa 2, do esquema Marcos Valério, foi Eduardo Azeredo”, destaca o parlamentar.

Outro ponto que chama a atenção na ação de Mourão, é que uma de suas credoras é Simone Vasconcelos, secretária de Marcos Valério e detentora de um cargo importante no Estado durante a gestão de Azeredo. Mourão disse dever R$ 8 mil para ela.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nos corredores da Camâra em Brasilia, a noticia que corre é que Ideli Salvatti tem uma bomba, capaz de mandar os tucanos para os quintos do infernos

Anônimo disse...

Enquanto o PT fica tentando desviar a atenção fazendo trocas de "gentilezas" com os tucanos, estão marcando passo perante o Brasil e a opinião pública.

Aqui na minha cidade é notória a revolta nas classes operárias e na periferia contra a cara-de-pau dos governantes.

Penso que talvez não tenha mais volta... não sei se Lulla resiste até o final.

Marcos Vinícius

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