As informações do relatório confidencial da Polícia Federal sobre o esquema de lavagem de US$ 30 bilhões através do Banestado, reveladas com exclusividade pela revista DINHEIRO em 2003, foram confirmadas pelas autoridades responsáveis pelo caso. Os policiais que conduziram as investigações no Brasil e em Nova York – delegado José Francisco Castilho Neto e perito Renato Rodrigues Barbosa – concordaram em falar à reportagem da DINHEIRO (leia a entrevista do delegado Castilho). Confrontados com os documentos, nos quais aparecem os nomes Jorge Bornhausen e José Serra, os dois reconheceram a autenticidade do dossiê. “Os documentos são verdadeiros”, assegurou Castilho. “Eles fazem parte da investigação policial”, garantiu.
Castilho estava convencido da existência de conexões políticas no bilionário esquema de lavagem de dinheiro que transitou pelo banco paranaense. Embora reconhecesse a possibilidade de que os nomes surgidos nas investigações seriam de homônimos, o delegado Castilho disse que os indícios levam aos políticos citados. “São enormes as coincidências em torno dos seus nomes e temos o dever de investigar, até para, se for o caso, comprovar sua possível inocência”, diz Castilho. A revista DINHEIRO informou que o ex-ministro José Serra estava sendo investigado pela Polícia Federal. Fato este confirmado pelo delegado Castilho.
No caso de Serra, as coincidências levantadas pelo delegado e pelo perito da Polícia Federal são três. A primeira é o próprio nome. A segunda é o fato de ter sido identificada uma ordem de pagamentode US$ 15,7 mil, feita sob o nome José Serra, da conta 310035 do banco americano JP Morgan Chase para uma empresa com conta no Helm Bank em Miami, nos Estados Unidos.
A conta 310035 é registrada, oficialmente, no JP Morgan como “Conta Tucano” e recebeu, entre 1996 e 2000, US$ 176,8 milhões a partir do Banestado. A terceira coincidência é o fato de a jornalista Valéria Monteiro, que apresentou os programas eleitorais de Serra na campanha presidencial, também ter recebido alguns depósitos a partir da mesma Conta Tucano.
Castilho confirmou ainda que, no decorrer das investigações, surgiram outros nomes possivelmente ligados ao PSDB. São eles os de Ricardo S. Oliveira e S. Motta, que levariam ao ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, e ao ex-ministro das Comunicações, Sérgio Motta. “Se existem documentos idôneos, nos quais aparecem os nomes José Serra, Ricardo S. de Oliveira e S. Motta, esses nomes já estão sendo investigados”, disse o delegado.
Castilho, 43 anos na época, dos quais 17 na Polícia Federal, era o personagem central desse caso. Durante dois anos, desde maio de 2001, ele presidiu o inquérito policial que investiga a lavagem a partir das agências bancárias em Foz do Iguaçu, Paraná. Também foi ele quem convenceu a Justiça dos Estados Unidos a quebrar o sigilo de nove contas da agência do Banestado em Nova York – e depois passou 73 dias no exterior acompanhando o trabalho de rastreamento de 1,5 milhão de operações financeiras.
Retirado do caso em fins do ano de 2002 pelo governo tucano, Castilho voltou a participar das apurações na gestão petista. Porém, acabou sendo afastado novamente por decisão do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sob a alegação de que estaria cedendo informações à imprensa – Thomaz Bastos, em entrevista, o chamou de “delirante”.
Em maio de 2003, já fora do caso, ele foi convidado a integrar uma força-tarefa especial da Procuradoria da República, onde vinha trabalhando. “O delegado Castilho é a autoridade brasileira que hoje mais conhece do assunto”, elogia o procurador federal Luiz Francisco de Souza, que lidera a força-tarefa. “Seu conhecimentoé fundamental para prosseguir com as apurações”, enfatiza o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
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