segunda-feira, 27 de março de 2006

Indignação seletiva

Miguel do Rosário é escritor, colunista da Novae, editor de Arte & Política.

A "opinião pública" dos jornais tem, pelo jeito, uma indignação totalmente seletiva. Quando informações sigilosoas vazavam da CPI e paravam nas redações de jornais, não houve uma só voz que se erguesse contra esse tipo de violação jurídica e moral. Não foi um caso não.

Foram vários.Quando a oposição suborna testemunhas para afirmarem que o viram em casas frequentadas por prostitutas, levando-as para o centro do palco midiático das CPIs, nenhum sopro de indignação passa pelas salas ar-condicionadas dos jornais.Quando Fernando Henrique Cardoso diz a seu colega, em gravação tornada pública, que o BNDES deveria favorecer o grupo de Daniel Dantas na compra da Telebrás, nenhuma voz se levanta.

Quando uma desembargadora - e isso é recente - reabre o processo contra a privatização da Vale do Rio Doce, afirmando que há diferenças superiores a mais de 100 bilhões de reais entre o preço de venda e o valor real da empresa; que jazidas inteiras de ouro, urânio, nióbio, foram subavaliadas ou sequer mencionadas, no relatório da empresa norte-americana, Merril Lynch, que avaliou o preço da mineradora; que a avaliadora Merryl Linch estaria ligada aos grupos compradores; ninguém se revolta, ninguém estranha.

Quando um caseiro empregado numa casa pelo PSDB recebe dinheiro de seu suposto pai, do PFL, para depor contra o ministro da Fazenda, segundo cargo executivo mais importante do país, provocando risco de desestabilização econômica, fazendo o país perder não se sabe quantos milhões ou bilhões por causa de investimentos que não são feitos à espera dos fatos, não há uma voz que se alevante contra esses absurdos.

Agora, quando um par de repórteres tem a sorte de pôr a mão no extrato do caseiro, o mundo vira de cabeça para baixo. A privacidade que negam às mais altas figuras da República querem preservar para um dedo-duro de aluguel? Quem mais merece privacidade?

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