segunda-feira, 3 de abril de 2006

A República contra-ataca

Planalto traça estratégia para tirar Lula da defensiva, anular efeito caseiro e mostrar pontos positivos do governo

Daniel Pereira e Sérgio Pardellas

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto e o PT já têm estratégias definidas para tirar o partido e o governo da defensiva e devolver ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provável candidato à reeleição, as rédeas da disputa eleitoral. A ordem é atacar em diferentes flancos. O plano prevê, por exemplo, a retomada das viagens de Lula pelo país e a divulgação de novos pacotes de bondade, considerados responsáveis pelo crescimento do presidente nas pesquisas de intenção de voto entre dezembro passado e fevereiro deste ano.

Os petistas e o Planalto apostam no crescimento da economia, na divulgação dos dados positivos do governo pelos ex-ministros que deixaram os cargos na última semana e nas denúncias contra PSDB e PFL para confirmar o favoritismo de Lula.

- Se crescermos de 4% a 5% este ano, o resultado será decisivo no debate eleitoral - diz o líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS).

A redução das taxas de juros e o aumento dos investimentos são duas das armas a serem usadas para dar fôlego ao desenvolvimento. A tendência é o governo não enfrentar problemas no caso dos juros. Desde setembro do ano passado, o Banco Central tem reduzido a Selic, hoje em 16,5% ao ano. Na última sexta-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN) cortou a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - que corrige os empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao setor produtivo - de 9% para 8,15% ao ano.

Falta desamarrar o nó dos investimentos, garantindo a aprovação do Orçamento da União para este ano.

A votação pode ocorrer amanhã, se a oposição deixar. PSDB e PFL acusam o governo de usar o projeto para atender a interesses eleitorais.

- A oposição não quer deixar o presidente Lula governar, porque as ações de governo têm repercussão maravilhosa na população. A alternativa é colocar o governo para andar - diz a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que reconhece a aprovação do Orçamento como essencial à estratégia de reação.

O cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), concorda. Apesar do entusiasmo da oposição, ele diz que Lula ''ainda não caiu no buraco'' e dispõe de vasto arsenal para sair da defensiva. No sábado entrou em vigor o novo salário mínimo, de R 350,00. O presidente também poderia se beneficiar de telhados de vidro da oposição.

Segundo Fleischer, denúncias de falta de ética por parte de PSDB e do PFL podem levar a um armistício nessa seara. Para Fontana, o PT tem de apostar no embate ético. A idéia é seguir o exemplo da oposição e repetir à exaustão denúncias. Aproveitar, por exemplo, o fato de o governador e candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, ter impedido a instalação de 70 CPIs em São Paulo.

- Vamos repetir cem vezes que ele bloqueou investigações - diz Fontana, para quem o PT não pode tropeçar em erros como o caixa dois e o repasse ilegal de recursos para partidos aliados.
Mas, para ele, a oposição pratica golpismo e quer desestabilizar Lula.

Um dos governistas que criticam a tese do golpismo, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), defende uma agenda positiva para o país, sobretudo para garantir investimentos em infra-estrutura e impulsionar a economia. Não é à toa. Como lembra Fleischer, o brasileiro vota com o bolso.

Em outra estratégia para anabolizar a avaliação do presidente, os ex-ministros foram orientados pelo Planalto a atuar como porta-vozes do governo. Na última semana, oito deles deixaram os cargos para concorrer às eleições.

Numa conversa entre o novo ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, e o antecessor imediato, Jaques Wagner, ambos concluíram que o governo inicia uma nova fase -''a era sem Palocci'': uma equipe de perfil mais técnico, descolada da eleição e, ao mesmo tempo, próxima do ''pulsar das ruas''. Na avaliação de Tarso e Wagner, os ex-ministros são líderes nos estados prontos para mostrar as realizações do governo. Candidato ao governo da Bahia, Wagner, por exemplo, vai ocupar o período pré-eleitoral com palestras, caminhadas e eventos. Os ministros que deixaram os cargos foram instruídos a fazer o mesmo.

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