segunda-feira, 31 de julho de 2006

Deputados sabiam que PF apurava fraudes 5 meses antes das prisões


Darci Vedoin, integrante da máfia, revelou que parlamentares estavam preocupados com investigação da polícia

Expedito Filho e Sônia Filgueiras, BRASÍLIA

O empresário Darci Vedoin, um dos donos da Planam, principal empresa da máfia das ambulâncias, revelou aos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas que em dezembro de 2005 “muitos” parlamentares já sabiam que a Polícia Federal estava investigando o esquema e o procuraram, preocupados. O escândalo só veio à tona no dia 6 de maio, quando a polícia começou a prender os envolvidos e desbaratou a quadrilha.

Em depoimento secreto à CPI dos Sanguessugas, prestado em Cuiabá em julho, a cujas notas taquigráficas o Estado teve acesso, Vedoin revela também que tentou manobrar judicialmente para evitar que a Polícia Federal e o Ministério Público investigassem o caso.

Vedoin explicou aos parlamentares que foi informado da ação da PF por Roberto Cavalcante, seu ex-advogado. Segundo o empresário, uma reportagem publicada por um jornal em dezembro denunciava fraudes nas emendas do deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) e citava o envolvimento da Planam, sua empresa. Após ser alertado, Vedoin contratou os serviços do próprio Cavalcante para que ele tentasse obter um habeas-corpus junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O objetivo era tirar as investigações das mãos da Polícia Federal e do Ministério Público de Mato Grosso, remetendo-as para o STF, já que as denúncias envolviam um deputado. Pela lei, parlamentares têm privilégio de foro e só podem ser investigados pelo Supremo. Vedoin também apresentou petições na tentativa de ter acesso ao inquérito em Mato Grosso.

Questionado pela deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) sobre quais parlamentares o procuraram para se dizerem preocupados com as investigações da Polícia Federal, o dono da Planam preferiu não citar nomes, prometendo fazê-lo depois. “Depois que eu ‘tiver’ em liberdade, eu vou levar para a senhora todos os documentos e nomes. Mas depois que eu estiver em liberdade. Ou a senhora vem aqui em Cuiabá, nós sentamos, passamos dois ou três dias, e eu vou lhe mostrar”, disse o sócio da Planam.

Durante o depoimento, o empresário chegou a confirmar que conhecia muitos dos parlamentares envolvidos, mas não quis dar detalhes, argumentando que seu filho Luiz Antônio Vedoin era a melhor pessoa para relatar com provas o envolvimento de deputados, senadores e prefeitos no esquema.

MUITO BANDIDO
Ele explicou por que preferia que a CPI retornasse a Cuiabá: “Quando digo que não quero ir a Brasília, vocês vão me desculpar. Vocês não estão no meio, mas há muito bandido. Os senhores não estão no meio, mas tem muito bandido”, repetiu. Vedoin foi preso junto com outros 50 envolvidos nas fraudes durante a Operação Sanguessuga. Foi solto pela Justiça depois que ele e sua família decidiram colaborar com as investigações em troca da redução de pena.

O esquema visava à compra de ambulâncias superfaturadas da Planam com recursos do Orçamento da União, liberados a partir de emendas apresentadas pelos parlamentares envolvidos com a máfia.

O dono da Planam ofereceu aos integrantes da CPI uma descrição impressionante do processo orçamentário no País. O empresário afirmou que o esquema de venda das emendas por parlamentares começa na elaboração da lei orçamentária - que define todas as despesas a serem realizadas pelo Executivo no ano seguinte -, momento em que deputados e senadores inscrevem suas emendas.

De acordo com Darci Vedoin, o primeiro passo do processo orçamentário dentro do Congresso, na maioria dos casos, já está viciado. Ele contou que há uma “romaria” de empresários na Câmara e no Senado na época da elaboração do orçamento.

“Se o senhor quer conhecer as empresas que vendem unidades móveis de saúde no Brasil, é chegar na hora do orçamento. Se o senhor quer conhecer quem vende medicamentos, vai na hora do orçamento, quem constrói pontes, quem ‘constrói’ asfalto, quem constrói o que quiser no Brasil, é na hora do orçamento”, declarou o empresário no depoimento dado aos sete integrantes da comissão.

SACRAMENTADA
Vedoin afirmou que a maior parte das emendas, ao ser inscrita no Orçamento, já está comprometida com algum tipo de esquema. “Aonde a pessoa (o parlamentar, no caso) coloca a emenda, a maior parte ‘dele’ já está sacramentada. A maior parte dele já está direcionada para um município e quem vai fazer”, explicou. “É por isso que existe uma peregrinação de prefeitos e lobistas e empresários também.”

Ao dizer isso, Vedoin respondia a uma pergunta do relator da CPI dos Sanguessugas, senador Amir Lando (PMDB-RO). Ele reforçou: o problema “é desde quem coloca, senador”. Deixando claro que emitia uma opinião, o empresário afirmou que “70% (dos parlamentares)” utilizam o cargo para fazer negócios com emendas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Enquanto isso, a oposição quer fazer creer que a corrupção no Brasil foi inventada no governo do PT! Engraçado, né? Te convido a dar uma passadinha aqui: http://marconileal.zip.net/. Parabéns e grande abraço!

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