sexta-feira, 29 de setembro de 2006


Lula errou ao faltar ao debate que, sem ele, deu sono
29.09.2006


Coluna do Franklin Martins

Lula cometeu um erro político ao não comparecer ao debate de ontem na TV Globo. Eleitoralmente, ainda não é possível dizer se a ausência tirou-lhe votos ou não – o mais provável é que não – e nunca se saberá se o comparecimento diminuiria ou aumentaria suas chances de vitória já no domingo. Mas, em termos políticos, Lula ficou menor, e não maior, ao deixar sua cadeira vazia no Projac.

Primeiro, porque passou a idéia de que coloca a conveniência eleitoral acima das convicções políticas. Afinal, em outras campanhas, sempre cobrou dos que lideravam as pesquisas o comparecimento aos debates. Em 1998, por exemplo, bateu duro em Fernando Henrique quando o então presidente, também de olho na conveniência eleitoral, recusou-se a confrontar suas idéias com as dos demais candidatos. Naquela época, Lula dizia com razão que o debate é um direito dos eleitores e uma manifestação de respeito à democracia. Ontem, deu o dito pelo não dito, como já havia feito antes nos debates da Band e da TV Gazeta, e teve o mesmo comportamento que criticara oito anos em Fernando Henrique. Até as desculpas não foram muito diferentes.

Em segundo lugar, porque Lula perdeu uma boa oportunidade para mostrar a uma parcela da sociedade, especialmente da classe média, que se sente capaz de defender seu governo não apenas nos ambientes em que a platéia está a seu favor, mas também em condições adversas, diante de adversários que desejam trucidá-lo. Se entrasse na cova dos leões e saísse vivo ao fim do debate – e creio que sairia, porque Lula é um bom debatedor e, pelo que se viu ontem, nenhum de seus adversários é um craque nessa área – teria dado um passo importante para recuperar parte da credibilidade perdida na classe média ao longo dos últimos 15 meses.

Ouviria coisas desagradáveis? Certamente. Algum adversário descambaria para a grosseria? É provável. Mas Lula também marcaria pontos. E, se seus oponentes partissem para ataques excessivamente ferozes e mostrassem que estavam jogando combinados, talvez os tiros saíssem pela culatra. O eleitor gosta de alguma confrontação, mas não de baixarias e descontroles.

Como Lula não compareceu, o que se viu foi um debate monótono e arrastado, engessado num formato que privilegia o ritual e não o choque de idéias. Nos primeiros blocos, a corrupção foi o tema dominante, a tal ponto que acabou banalizada. Lula não compareceu ao debate? Trata-se de uma forma de corrupção da democracia. Mudaram o nome de Bolsa-Escola para Bolsa-Família? É um sinal de que o programa de transferência de renda passou a corromper vontades e almas dos beneficiários. Como se já não nos bastassem as velhas, tradicionais e renitentes formas de corrupção ...

Fora isso, a noite foi dominada por amabilidades. Expressões como “concordo inteiramente” ou “estou de acordo com o(a) candidato(a)” foram corriqueiras. Apenas Heloísa Helena destoou em alguns momentos do clima de confraternização, dando estocadas no governo Fernando Henrique e nos governos tucanos em São Paulo, o que obrigou Alckmin a subir uma oitava no tom de sua resposta. Mas foram instantes breves, fugazes. Logo todos voltaram a trocar figurinhas amavelmente. Fazia sentido: o adversário estava ausente. Confesso que tive de me esforçar para não dormir.

Agora é com o eleitor. Vamos ou não para o segundo turno? O curioso é que a resposta está nas mãos de eleitores diametralmente opostos: os que estão muitos decididos e os que estão muito indecisos. Se aqueles que ao longo dos últimos 45 dias permaneceram fiéis a Lula não mudarem de idéia nas próximas horas, o presidente deve ser reeleito já no domingo. Em contrapartida, se os que passaram a campanha toda indecisos, agora na boca da urna se decidirem todos a votar em Alckmin, existe alguma possibilidade de que a decisão seja adiada para uma segunda rodada.

Vamos ver o que prevalece

Um comentário:

Anônimo disse...

Discordo totalmente. Não é o debate que consolidaria os programas e os ideais dos candidatos. É querer dar muito poderes a TV. Globo. Quer dizer que a campanha de mais de 40 dias com programas na TV, entrevistas não serviram para nada? Quer dizer que a Globo é tão poderosa que o que acontece em suas tela é o que vale? É substimar minha inteligência, com todo o respeito que tenho por um dos jornalistas mais éticos da história da televisão brasileira que é o Fraklin Martins. Me desculpem.

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