sexta-feira, 29 de setembro de 2006

O que impressiona é a incapacidade do Alckmin de tirar voto de Lula


O código Lula

Oposição errou seguidamente ao não entender os fatores determinantes para a alta popularidade de Lula. Especialistas avaliam que as camadas mais pobres vêem presidente como um igual que luta pela melhoria da qualidade de vida de todos

Maurício Reimberg – Carta Maior

SÃO PAULO - Na reta final das eleições, todas as pesquisas de intenção de voto são unânimes em apontar a vitória do presidente Lula já no próximo domingo, dia do primeiro turno de votação. O cientista político Carlos Melo, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec São Paulo) chama a atenção para uma análise dos gráficos além dos números que pontuam a polarização entre o candidato do PT e do PSDB.

“Desde o começo da campanha, o que impressiona não é o índice do Lula. Mas sim, a incapacidade do Alckmin de tirar voto dele. O Alckmin cresce entre eleitores indecisos. Mas você não pôde falar em nenhum momento de uma queda do Lula. Foram, no máximo, pequenas oscilações”, explica Melo.

Para ele, esta percepção não significa que o confronto já esteja “resolvido”. “Na história do Brasil, há provas de que episódios de última hora podem decidir uma eleição.” Como exemplos, Melo cita o seqüestro do empresário Abílio Diniz, a poucos dias da disputa presidencial de 1989 e o massacre do Carandiru em São Paulo, na véspera do pleito municipal de 1992.

Nordeste

Já Rubens Figueiredo, diretor geral do Cepac – Pesquisa e Comunicação e autor do livro “Marketing Político e Persuasão Eleitoral”, aposta que “o natural seria mesmo que não houvesse segundo turno”. Ele salienta que o Nordeste, região onde Lula mantém a faixa de 70% dos votos estáveis desde o início da campanha, vai ser um dos fatores principais para uma possível vitória no domingo.

“O Lula é um presidente-ídolo para as camadas populares. É considerado um deles na presidência. Alia-se o seu estilo e a temática própria, que é mais próxima ao dia-a-dia deste eleitor, com a melhora real da vida da população de baixa renda, e está construído um candidato fortíssimo”, argumenta Figueiredo.

Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, critica as análises que atribuem um peso excessivo ao apoio eleitoral recebido pelo presidente no Nordeste. “É bom lembrar que a única região que Lula não lidera é o Sul”, observa. “Há uma melhora geral da avaliação do governo, dificuldades da candidatura da oposição e a presença da característica de liderança política de Lula. Mas as chances de segundo turno ainda existem, são maiores do que a um mês atrás”.

Voto e racionalidade econômica
O Ministério do Trabalho anunciou, no último dia 27 de setembro, dados sobre o emprego formal em 2005 no Brasil. Os índices podem ajudar a entender a “consolidação” dos votos em Lula. Tendo como referência a mais recente avaliação do Ibope, a comparação das duas tabelas é sintomática. Lula lidera as pesquisas em todos os 17 Estados com o crescimento de emprego acima da média nacional.

“Isto se chama ‘ação de governo’”, identifica Melo. “Houve uma certa distribuição de renda, ampliação do bolsa-família, aumento do salário mínimo e a criação do Prouni. Isso criou uma sensação de amparo”, diz.

O foco das ações, continua Melo, atingiu em cheio a parcela do eleitorado classificada como “ignorante” pela mídia. “Ao contrário disso, se você for investigar a fundo, é um eleitor que tem agido com extrema racionalidade, pois bem ou mal, tem sido correspondido em algumas das suas necessidades básicas”.

Erro da oposição
O discurso utilizado pela oposição também é apontando como um erro estratégico crucial ao longo da campanha. “Alckmin achou que o ataque moralista tiraria votos do Lula, e que isso pesaria mais que as necessidades imediatas da população. Para quem passa fome, essas questões são secundárias. O governo foi conservador na política econômica, mas conseguiu demonstrar que entregou crescimento econômico superior ao governo anterior”, compara Melo.

Para ele, a oposição “jogou errado”. “Demoraram a decidir o candidato, e escolheram aquele que não tinha recall. Depois, pecaram pela falta de proposta programática clara. Alckmin abusou de frases genéricas, não disse porque queira ganhar a eleição e a crítica à ineficiência do Estado foi feita na linguagem do ‘economês’.

Devido a isso, conclui Melo, “a oposição não soube levantar bandeiras nem traduzi-las de uma forma simples. Junte todos esses fatores com as características carismáticas do Lula e perceba o porquê dele estar tão à frente”.

Ausência no debate
Para Marcos Coimbra, a ausência de Lula no debate final da Rede Globo não é um fator decisivo para as estatísticas eleitorais. “O debate na televisão, nos moldes como ele é feito hoje, tem cada vez menos importância no processo político. É apenas um momento de afirmação de liderança comercial de uma emissora e manifestação de seu poderio de audiência e de sua própria marca”, polemiza Coimbra.

Para ele, a discussão gira em torno de outro aspecto. Coimbra diz que o país precisa “pensar como fazer com que o eleitor popular, sem acesso à internet, revistas ou jornais, encontre mecanismos de informação”.

Isso não inviabiliza, de acordo com ele, a existência de debates numa democracia. “Nos Estados Unidos, debates só são feitos por entrevistadores não-partidários, independentes. Assim, eles realmente são extremamente úteis”.




Um comentário:

Anônimo disse...

eu só vou ficar tranquilo depois da apuração de todos os votos!
enquanto isso não ocorrer, a tentativa golpista continua viva.

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