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Parlamentares que se destacaram nas CPIs contra o governo Lula vão mal nas urnas

Plantão Publicada em 25/09/2006 às 16h05m

Evandro Éboli - O Globo

BRASÍLIA - No rastro e no auge dos escândalos políticos recentes, um grupo de deputados e senadores viveu dias de glória: eram reconhecidos nas ruas, distribuíam autógrafos e posavam para fotografias. São parlamentares que ganharam fama e visibilidade durante as investigações das CPIs dos Correios e também na dos Bingos. Com o lastro desse sucesso, descartaram a reeleição certa e optaram por disputar cargos majoritários. Mas, por enquanto, o eleitor parece não estar dando o retorno esperado. Eles viveram momentos de ascensão e, agora, amargam dias de queda.

Ex-presidente da CPI dos Correios, o senador Delcidio Amaral (PT-MS) ficou em evidência durante os onze meses que duraram os trabalhos da comissão. Ele aparecia quase que diariamente em reportagens das TVs, rádios e jornais, era convidado de programas de talk-show, foi apontado como galã e chegou a lançar um livro com as entrevistas que concedeu no período.

Delcidio Amaral concorre ao governo de Mato Grosso do Sul e, segundo o Ibope, se a eleição fosse hoje, perderia no primeiro turno para o ex-deputado André Pucinelli (PMDB), que está com 64% da preferência do eleitor. Delcidio está com 27%, mas ainda acredita na virada.

- Claro que o trabalho na CPI deu visibilidade e também reconhecimento. Mas não é suficiente, não garante a eleição. Ter sido presidente da CPI não foi a razão da minha candidatura, mas ajuda muito. Faltam quinze dias, já tirei muito da diferença do outro candidato e sempre fui de chegada - disse Delcidio Amaral.

Situação semelhante enfrenta o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Sua campanha para governador em Mato Grosso também não decola. Antero tem sido um ferrenho opositor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus auxiliares no Congresso. Foi ele quem descobriu o caseiro Francenildo Costa, na CPI dos Bingos, e que acabou como responsável pela queda do poderoso ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, acusado de ordenar a quebra do sigilo bancário de Nildo, como ficou conhecido nacionalmente.

O senador contou que, apesar da fama que conquistou na época, sua atuação na comissão não está sendo suficiente para derrotar, até agora, o favorito Blairo Maggi (PPS), governador que disputa a reeleição no estado. Maggi está com 66% e Antero, com 12%.

- Enfrentei a turma do establishment, como José Dirceu, Palocci e Lula. E, no estado, ainda enfrento todo o poder econômico do governador. É a campanha do meio tostão contra a do milhão. Mas não me deslumbrei com os holofotes da CPI. Tentei ser candidato à reeleição, mas Geraldo Alckmin (presidenciável do PSDB) precisava de um palanque aqui - disse Antero Barros.

Com atuação destacada na CPI dos Correios, o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) trocou uma garantida reeleição à Câmara para tentar o governo do Rio. A candidatura de Paes é a que apresentou o pior percentual entre os parlamentares das CPIs que tentam esses vôos mais altos. Na última pesquisa do DataFolha, o tucano aparece em quarto lugar, com apenas 4%. O deputado estaria de olho, na verdade, nas eleições para a Prefeitura do Rio, em 2008.

Sérgio Cabral (PMDB) lidera a corrida para o governo do estado com 43% e pode ganhar no primeiro turno. Outra ex-integrante da CPI dos Correios, a deputada Denise Frossard (PPS) também disputa a sucessão estadual no Rio. A parlamentar está sem segundo lugar, com 19%.

- Troquei a Câmara para disputar o governo do Rio consciente. Faltavam boas alternativas para o eleitor. Sabia que ia sair de uma situação confortável, praticamente reeleito deputado, para esse desafio. Não me arrependo disso. O trabalho na CPI foi relevante para a minha biografia - disse Eduardo Paes.

Candidato a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), o senador José Jorge (PFL-PE) atuou na CPI dos Bingos e foi um dos que infernizaram a vida do governo na comissão. Mas o senador tem sua imagem pouco aproveitada na campanha presidencial. Até a semana passada, por exemplo, ele sequer tinha dado um depoimento no programa de TV da chapa. Mas ele não tem ressentimentos e diz que Alckmin precisa ficar conhecido do povo.

- Esta é a sétima vez que Lula disputa uma eleição presidencial. O Geraldo é a primeira. Ele é pouco conhecido e tem que aparecer mais que eu - disse o senador.

José Jorge disse ainda que a CPI deu-lhe visibilidade, mas afirmou que só quem gosta de política assistiu às transmissões das sessões da comissão na TV Senado.

- Quem assistiu às transmissões das sessões fazia até fila para falar com você na rua. Mas como vice não dá para eu sentir se está tendo reflexo na campanha do Geraldo. Ninguém vota mesmo em vice - disse, resignado, José Jorge.

O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), candidato ao governo do estado, é outro que se destacou na CPI dos Bingos e vai mal nas pesquisas. Na CPI dos Correios, foi ele quem apareceu com o nome da cafetina Jeanny Mary Corner, uma das descobertas de maior sucesso das investigações. Ele até comemora o atual terceiro lugar e atribui isso a sua atuação na CPI. Ele está com apenas 6% das intenções de voto em Goiás.

- Mas muita gente não tem acesso a informação. Noticiário de Congresso é para formadores de opinião. Numa eleição, pesam outros fatores, como as forças dos partidos nos estados, o volume de dinheiro na campanha. Mas perder uma eleição não quer dizer absolutamente nada. Veja o caso de Rui Barbosa. Perdeu quatro eleições para presidente da República e acaba de ser eleito o homem mais inteligente do Brasil - disse Demóstenes Torres, que ainda tem mais quatro anos de mandato como senador.

O ex-relator da CPI dos Bingos, Garibaldi Alves (PMDB-RN), estava bem nas pesquisas até semana passada para a disputa do governo do estado. Vilma Faria (PSB) já o ultrapassou e deve vencer ainda no primeiro turno. Segundo o Instituto Sensus, Vilma já está com 49,6% e Garibaldi, com 35,8%.