sexta-feira, 20 de outubro de 2006

A direita saberá perder com compostura?

LULA 22 PONTOS DE VANTAGEM SOBRE O "DOTÔ"

Pesquisa do instituto Vox Populi, divulgada nesta quinta-feira 19, mostrou Lula com 22 pontos de vantagem sobre Alckmin entre os votos válidos.

Para Carlos Montenegro, do Ibope, que divulga pesquisa nesta sexta-feira, só um fato "muito espetacular" poderá arrancar a faixa de presidente da República do peito de Lula.

Como gato escaldado tem medo de água fria, muita gente imagina que nos próximos dias a oposição de direita vai tentar criar algum "fato" e vai divulgá-lo de maneira "muito espetacular".

Aliás, nesta semana uma nova onda de boatos tomou conta da Internet, dando conta que o tal "fato espetacular" seria divulgado por uma conhecida revista semanal.

Segundo esta boataria, os "fatos" que seriam divulgados por tal revista tornariam "desnecessárias as eleições no segundo turno".

Esta afirmação revela a concepção de democracia que vigora em setores da direita brasileira.

Alguém que acredita que o noticiário de uma revista é algo capaz de "tornar desnecessárias as eleições no segundo turno", é quem pensa que a escolha do presidente da República pode ser feita num conluio entre alguns barões da mídia e políticos de direita.

Para esta gente, o voto do povo seria algo "desnecessário".

Infelizmente, declarações dadas pelo candidato da oposição vão na mesma linha.

Segundo Alckmin, em frase amplamente divulgada pela imprensa, se Lula for reeleito, seu governo "acaba antes de começar".

Há várias interpretações possíveis para esta frase. Em qualquer uma delas, fica a impressão de que uma parte da oposição de direita está perdendo a compostura.

Algumas recomendações

Primeiro, vamos nos vacinar contra a euforia das pesquisas. Eleição não se ganha de véspera.

Segundo, vamos nos vacinar contra as mentiras dos meios de comunicação. Vem mentira grossa por aí.

Terceiro, vamos nos vacinar contra a raiva da direita brasileira. Parcelas da oposição estão revelando um comportamento histérico e violento.

E, ao contrário do ditado, quem ladra as vezes também morde.

Alguns mordem a própria língua.

É o caso de FHC, que revelou: "Não sou contra a privatização da Petrobras". Para depois inventar que faltou uma vírgula na sua frase, que deveria ser assim: "Não, sou contra a privatização da Petrobras".

É o caso de Mendonça de Barros, que foi reclamar das declarações de Alckmin acerca das privatizações e terminou falando num tom de quem já perdeu as eleições.

É o caso de Alckmin, que ora desautoriza seu conselheiro econômico, o senhor Nakano, e ora diz "eu estou plenamente de acordo com o professor Nakano", como fez nesta quinta-feira durante sabatina promovida pela Folha.

Outros mordem de verdade, como se viu no Leblon.

Mobilização e vacinação

Seja como for, a eleição não está ganha e a direita vai jogar ainda mais pesado nos próximos dias.

Frente a isso, devidamente vacinados, o essencial é a mobilização total, todos os dias e todas as horas, daqui até o fechamento da última urna. E depois, até a apuração. E depois, até a posse. E assim por diante.

A força do povo, vacinado e mobilizado, os males do Brasil derrotarão.



Notas


A vírgula

A Sibila de Cuma, procurada por soldados de partida para a guerra que a interrogavam sobre seu destino, respondia: Ibis, redibis, non morieris in bello. Você irá, voltará, não morrerá na guerra. Nem todos voltavam, e a quem redarguisse por causa da profecia errada, a Sibila prontamente esclarecia: tudo por causa de uma vírgula, eu disse: "ibis, redibis non, morieris in bello". Falo de um passado remoto. Eis, porém, que descubro, não sem um misto de perplexidade e espanto: a Sibila de Cuma reencarnou em Fernando Henrique, o qual disse primeiro "eu não sou contrário à privatização da Petrobrás" e, depois de provocar uma epidemia de gastrite nas hostes da campanha de Geraldo Alckmin, apressou-se a esclarecer ter dito "eu não, sou contrário à privatização da Petrobrás". Sempre sibilina, a vírgula, de maga cumana e do seu cavalo, o príncipe dos sociólogos.

Post do blog do Mino Carta
http://z001.ig.com.br/ig/61/51/937843/blig/blogdomino/


Beth Carvalho: "É hora de apoiar Lula"

"Não há o menor cabimento do PDT ter sequer dúvidas sobre quem apoiar: deve apoiar o companheiro Lula, numa aliança que inclui até mesmo Hugo Chávez, Nestor Kirchner e Evo Morales, os movimentos sociais, os intelectuais e artistas progressistas, a igreja popular, os sindicatos, o empresariado nacional. É isto o que está em jogo agora: Lula, com um projeto em construção, passível de ser corrigido e aprofundado, em defesa dos interesses populares e nacionais; e Alckmin, com o outro projeto, que favorece ao capital estrangeiro, a retomada do controle do Estado pelos neoliberais, levando o Brasil a um distanciamento da América Latina, a uma submissão a Washington, e uma volta à repressão aos movimentos sociais como se viu na triste era FHC, cuja meta, como lembram-se todos, era destruir a Era Vargas!"
O depo imento acima é parte da carta que a cantora Beth Carvalho, presidente de honra do PDT, no Rio de Janeiro, escreveu para seus companheiros de partido, em 13 de outubro, depois que a direção do PDT optou pela neutralidade.

Boff: "O poder e os sem-poder"

"A atual campanha para a presidência se reveste de certa dramaticidade. O que está em jogo são dois projetos de Brasil. Um representa o projeto dos detentores do poder, do ter, do saber e da comunicação. Seus atores ocupam há séculos o espaço público e o Estado. Construíram um Brasil para si, de costas para o povo do qual, no fundo, sentem vergonha, pois o consideram ignorante, atrasado e 'religioso'. O outro projeto é dos sem-poder, dos destituídos de cidadania e excluídos dos benefícios sociais. Historicamente, resistiram e se rebelaram, mas sempre foram derrotados. Entretanto, conseguiram se organizar e criar um contrapoder com capacidade de disputar o mais alto cargo da Nação.

Geraldo Alckmin representa o projeto das classes dominantes. Na verdade, elas não possuem um projeto-Brasil, pois o consideram ultrapassado. Lula representa o projeto alternativo. Cansado das elites, o povo votou em si mesmo elegendo Lula como presidente. Carismático, tentou, com relativo sucesso, fazer uma transição: de um Estado elitista e neoliberal para um Estado republicano e social. Para salvar o Titanic que ameaçava afundar, teve que fazer concessões à macroeconomia de viés neoliberal, mas deu, como nenhum governo antes, centralidade ao social com programas que beneficiaram cerca de 40 milhões de pessoas.

Desta opção pelo social pode nascer um outro tipo de Brasil com uma democracia inclusiva que resgate a dignidade de milhões de excluídos e marginalizados. O significado histórico de reeleger Lula é permitir-lhe acabar esse começo de construção de um outro Brasil possível."
Leonardo Boff é escritor e teólogo, autor de "A águia e a galinha", dentre outros inúmeros livros e artigos.

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