sábado, 28 de outubro de 2006

Eleição, indecência e o desespero dos jornalões




Toda a página 4 de "O Globo" ontem poderia ter sido assinada pelo comitê eleitoral que distribui a propaganda do tucano Geraldo Alckmin. Na verdade, bem no centro da página estava um anúncio sem esconder o pagador - a "Coligação por um Brasil Decente/PSDB-PFL". Ao menos teve a decência de declarar a origem. A indecência estava no alto, à esquerda, sob o nome de Merval Pereira.

Além dessa diatribe anti-Lula, havia ainda o texto da entrevista do coordenador da campanha do PT, Marco Aurélio Garcia, cujas declarações foram viradas pelo avesso nos títulos. Ele denunciou a tentativa adversária de desqualificar o eleitor do PT como ignorante e sem ética, além de expor propaganda apócrifa contra o candidato. O jornal transformou tudo em outro ataque ao candidato.

Mas o mais grotesco da edição estava no alto da página 32. Sob o patrocínio da Crefisa, Miriam Leitão, consternada, ofereceu uma oração fúnebre para a campanha tucana, no tom superior do "eu bem que avisei". Alega ela ter avisado que estava tudo errado: Alckmin foi bonzinho demais, devia ter baixado o sarrafo em Lula e exaltado o legado das privatizações do santo-padroeiro dos tucanos, FHC.


As trapalhadas e seus culpados

É assim a elite branca, com seus sacerdotes (e sacerdotisas) neoliberais. Para eles, não existe povo: Alckmin perdeu por ter deixado de fazer o que a sabedoria da Leitão ensinava, não porque foi repudiado pelo povo. Ela não leva em conta que a campanha do Globo (jornal e TV) começou muito antes da de Alckmin. Por um ano e meio martelou os mesmos bordões e slogans - e foi ignorada pelo povo.

Eu respeitaria mais o império Globo se tivesse declarado apoio ao candidato. Desonesto é fingir neutralidade e isenção até quando pilhado em flagrante, como foi o caso do diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel. Ontem no Jardim Botânico, subordinados dele pediam assinaturas num manifesto "em defesa da honra" dos jornalistas que trabalham na Globo.

Ora, há meia dúzia de responsáveis pelo excessos da Globo e todos eles estão acima do nível intermediário. William Bonner uma vez comparou quem vê o "Jornal Nacional" a Homer Simpson - o perfeito idiota do cartum. Nem ele e nem Kamel têm o direito de sugerir que os culpados pelas malfeitorias encomendadas de cima são jornalistas, que às vezes até manifestam reservas pelo que se faz ali.

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