
O caseiro, a mansão e o ministro foram os ingredientes da segunda maior crise do governo Lula, depois da descoberta do mensalão. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, rechaçou denúncias de corrupção da época em que foi prefeito de Ribeirão Preto (SP) e enfrentou vários depoimentos no Congresso, mas não resistiu às palavras de um caseiro, Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.
O ministro todo-poderoso começou a desmoronar quando foi desmentido em entrevista de Nildo publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 14. O caseiro garantiu que Palocci visitava, sim, a chamada República de Ribeirão Preto, uma mansão no Lago Sul usada por ex-assessores para festas e, supostamente, para negociatas e divisão de dinheiro.
O ministro afundou um pouco mais quando uma revista semanal publicou extrato bancário mostrando que Nildo tinha R$ 38 mil em sua conta na Caixa Econômica Federal (CEF). Seria uma “prova” de que Nildo recebera dinheiro para mentir. Mas ninguém prestou atenção nessa motivação financeira. A quebra do sigilo bancário era uma questão muito mais grave - e por ela Palocci se viu forçado a pedir demissão, 14 dias depois da primeira entrevista do caseiro, e ainda ser indiciado pela Polícia Federal como mandante da violação.
Em sua defesa, Nildo alegou que o dinheiro veio de seu pai, um pequeno empresário do Piauí que não reconheceu a paternidade mas confirmou ter feito depósitos para que o caseiro não lhe trouxesse problemas familiares. Ou seja: o novo herói nacional, réplica viva do exemplo cívico do motorista Eriberto França no impeachment de Collor, na verdade conseguia dinheiro extorquindo o pai. Um herói sem caráter.
As instituições do País e a sociedade preferiram expelir o ministro. Não por muito tempo: Palocci voltaria à cena política quatro meses depois, como candidato a deputado federal pelo PT paulista. Após uma campanha discreta, quase em sem aparições públicas, foi eleito com 152 246 votos, o 25.º mais votado do Estado de São Paulo
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