Método é o mais adequado, mas, em áreas frágeis, escavação deve ser precedida de análise do solo metro a metro
A pressa na execução das obras da Linha 4 do Metrô, que deverá começar a operar no ano que vem, foi o fator determinante do acidente no buraco da futura Estação Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, cujas margens cederam anteontem. Segundo engenheiros ouvidos pelo Estado, que pediram para não ser identificados, os métodos usados na construção da linha de metrô são os mais avançados, porém em áreas frágeis, como as próximas de rios, a escavação deve ser precedida de análise do solo metro a metro, fazendo com que o trabalho avance vagarosamente.
A mudança do método de escavação ocorreu há cerca de dois anos, depois que técnicos do Consórcio Via Amarela, responsável pela obra, detectaram a presença de rochas fragmentadas nas margens do Rio Pinheiros.
A mesma fonte explica que, como o preço da obra era fechado (custou US$ 980 milhões), não houve reajuste do contrato. “A principal razão para a mudança do método construtivo foi mesmo a questão da segurança. Mas é claro que também pesou o fato de adiantar o andamento da obra”, reconhece. Ele argumenta, porém, que o desmoronamento ocorreu em um poço vertical, usado para a construção da estação, numa área em que o método de escavação não foi alterado. “É o mesmo para todas as estações do metrô e nunca tivemos problemas deste tipo”, afirma.
Segundo o geólogo da Universidade de São Paulo (USP) Cláudio Riccomini, a presença de uma extensa faixa de areia branca, frágil e não-compactável, no subsolo da cratera do metrô, foi preponderante no acidente. A areia, assim como a cobertura de 1 metro de argila, é material típico de margem de rio e estaria no local antes de o Pinheiros ter sido retificado, a partir da década de 1940.
Para outro engenheiro ouvido pela reportagem, não foi apenas a pressa que levou ao acidente. “Cada buraco tem a sua história e isso não ocorre por causa de apenas um erro, mas de uma série.” O acidente, na avaliação dos técnicos, também não ocorreu de uma hora para a outra. De acordo com os engenheiros, é impossível que os funcionários da estação não tenham percebido o solo ceder pouco a pouco. No entanto, dependendo da movimentação da terra, mesmo sabendo que a tragédia é iminente, há pouco o que fazer para evitá-la.
Embora o consórcio Via Amarela afirme que o acidente foi provocado por uma “anomalia” geológica gerada pelas chuvas, há quem atribua o deslizamento a erro humano. Para o engenheiro Mauro Lozano, da Dynamis Engenharia Geotécnica, “não era para ocorrer este desastre por tudo o que a engenharia nacional dispõe de conhecimento”. Segundo ele, “é difícil imaginar que houve uma falha geológica”. Lozano diz que essas falhas podem ser previstas com antecedência, o que depende da profundidade das investigações geotécnicas. Para ele, “houve, infelizmente, negligência na avaliação geotécnica”.
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