domingo, 4 de fevereiro de 2007

O MST NÃO É O SENDERO LUMINOSO

Berna (Suiça) - O Estadão publicou reportagem (dia 25 último) sobre utilização de “recursos oficiais do governo suíço” para financiar atividades do MST, através de ONGs.

Escrevo, não para desmentir porque a informação é exata, qualquer pessoa pode obtê-la no site da ONG, não é segredo. Mas para mostrar como uma informação verdadeira pode ser desvirtuada e transformar em algo duvidoso e quase delituoso uma ajuda da Suíça a certos segmentos de nossa população, em alimentação, maternidade e agricultura, por se inscrever no contexto do Movimento dos Sem-Terra, o diabolizado MST.

Já na primeira frase o objetivo é claro: "Recursos oficiais do governo suíço estão servindo para financiar atividades e programas do Movimento dos Sem-Terra". E um entretítulo, insiste - "Entidade até treina sem-terra em informática".

Qual o objetivo dessa matéria sobre subvenções da Suíça ao MST, mesmo que sejam legais e se enquadrem no programa de desenvolvimento e cooperação com países estrangeiros?

O destaque, que provavelmente visava abafar o prestígio de Lula e do Brasil em Davos, só pode ter sido com o objetivo de gerar mal estar e provocar um corte na subvenção dada pelo governo suíço à respeitada e conceituada ONG E-Changer nos projetos do MST.

Como não há clima para golpe num governo com folgada maioria absoluta, num pleito correto e sem fraudes, a solução, então, é diabolizar o MST ao máximo e tentar forçar os outros países a cortarem verbas às ONGs implantadas no Brasil.

- "Alô governo suíço, alô deputados e senadores suíços, tem dinheiro suíço sendo desviado para financiar a revolução agrária no Brasil. Cortem a subvenção!" - esse é mais ou menos o recado que o artigo quer transmitir à Suíça.

Recentemente, o vice-presidente colombiano, alertado pela imprensa de direita de seu país, denunciou a Suíça como cúmplice por deixar funcionar um site da FARC, dentro da Suíça ou pelo menos com o final CH, de Confederação Helvética. E acusou duas ONGs, a Ação de Quaresma, católica, e o Pão para o Próximo, protestante, de utilizarem subvenções suíças em apoio à FARC.

Provavelmente foi essa a inspiração para se criar um caso suíço-brasileiro, desta vez envolvendo o MST. Só que o MST não é um movimento guerrilheiro, nem é o Sendero Luminoso e é reconhecido internacionalmente como um movimento que luta pela reforma agrária.

A Suíça é um país de direita, de banqueiros, de neoliberais, isso não impede que respeite a democracia e os direitos humanos. Mesmo os suíços de direita não aprovam os latifúndios e, como têm um profundo respeito por seus agricultores regiamente subvencionados, reconhecem a necessidade de uma melhor divisão de terras no Brasil.

Conheço a Suíça, tenho criticado duramente a cúpula de banqueiros e empresas que governam o país, mas tenho certeza que dedurar para o governo suíço que “dinheiro do apoio ao desenvolvimento está sendo desviado para o MST brasileiro” vai dar em nada.

A Suíça está esperando que dêem certo os planos sociais do governo Lula, pois um país com melhor distribuição de rendas e reforma agrária se torna um melhor parceiro comercial, e ajuda na paz mundial. A ministra democrata-cristã Doris Leuthard vai se encontrar, nos próximos dias, com Lula, que provavelmente agradecerá à Suíça seus diferentes tipos de ajuda, inclusive essa ao MST (a ONG E-Changer é cristã).

Talvez valha contar que, há pouco tempo, levei ao Club de la Presse de Genebra, subvencionado pela cidade de Genebra, uma representante do MST para uma doação simbólica. Paulo Maluf tinha prometido doar todo seu dinheiro depositado nos bancos suíços a quem provasse que tinha dinheiro na Suíça. Como eu e Jean-Noel Cuenod, da Tribuna de Genebra, provamos em artigos na imprensa suíça e, na época, pela CBN (essa é outra história), e no meu livro, reivindicamos ali o cumprimento da promessa. E prometemos, caso Maluf cumpra a palavra (estamos esperando) doar tudo ao Movimento dos Sem Terra.

O site onde estão os nomes e atividades no MST, financiadas com dinheiro suíço é

http://www.e-changer.ch/lettres%20circulaires.html


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