ASSUNÇÃO (PY) - Atingido pela Operação Navalha, da Polícia Federal (PF), o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, passou ontem o dia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Paraguai. Logo pela manhã, Lula chamou o ministro à suíte do Hotel Sheraton, onde esteve hospedado, em Assunção, para ouvi-lo sobre a denúncia de participação na máfia das obras públicas.
Nunca conversa tensa, segundo fontes do governo, Lula demonstrou irritação e disse palavras duras. Na noite de domingo, o presidente assistiu a uma gravação da PF mostrando que o esquema da máfia havia chegado ao gabinete de Rondeau.
Assessores do governo viram Rondeau sair da suíte com a cabeça baixa e os olhos marejados. Já Lula era apenas sorrisos durante a estada em Assunção. O ministro, que tentou ser a estrela da viagem do presidente - que foi ao Paraguai ouvir pedidos de aumento de preços da energia de Itaipu -, viveu uma situação difícil, sendo confortado em alguns momentos por colegas da comitiva.
Rondeau não escondeu a tristeza. Com voz embargada, ele disse enfrentar um prejulgamento "horrível". "Não posso aceitar isso, tenho uma história e uma biografia a zelar", reclamou. Até poucas horas antes de deixar Assunção rumo ao Brasil, ele dizia rejeitar a possibilidade sair do governo.
"Acho esse processo extremamente nocivo e cabe realmente a todo ritual da Justiça confirmar e esclarecer isso", afirmou. "Eu desconheço essas denúncias, no Brasil vou poder tratar melhor desse assunto."
O ministro disse estar indignado com as suspeitas levantadas pela Polícia Federal contra ele. "Isso é muito ruim, causa uma indignação, porque esse prejulgamento é uma coisa horrível", afirmou. Rondeau ainda passou pelo constrangimento de ser o alvo da pergunta que a imprensa brasileira teve direito de fazer na coletiva de Lula e do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, no palácio do governo.
"Aprendi com o ex-presidente da França Jacques Chirac, a gente só deve tratar de assuntos internos no próprio País", disse Lula, evitando comentar o assunto. Enquanto Silas permanecia de cabeça baixa, Lula demonstrava descontração e bom humor.
O ministro deixou o palácio tenso, cercado de repórteres. Já o presidente saiu do local cantando um bolero. "Solamente uma vez y nada más", cantou Lula. "Una vez nada más se entrega (el alma)"... Quando deixou Assunção, num último contato com jornalistas, o presidente prometeu: "Em Itaipu eu falo".
Nota
A assessoria do Ministério divulgou nota rebatendo as acusações da PF de que a pasta estaria envolvida em supostas fraudes em licitações para a realização de obras do programa Luz para Todos. "O Ministério de Minas e Energia não realiza as licitações, não define os preços dos serviços nem as contratações dos agentes para execução das obras do Programa, assim como não é o responsável pela liberação dos recursos", diz a nota.
O documento afirma também que quem define os programas de obras do Luz para Todos são as empresas concessionárias e permissionárias de distribuição de energia que operam nos estados. A PF suspeita de possíveis fraudes na escolha da empresa Gautama para realizar obras do programa no Piauí.
Tanto que uma das pessoas presas pela chamada "Operação Navalha" foi, justamente, o presidente da Energética do Piauí (Cepisa), Jorge Targa Juni. Sobre isso, a nota do Ministério afirma que o contrato da Gautama com a Cepisa tem um custo médio de R$ 3.853 por ligação, valor inferior ao custo médio estimado para o estado, de R$ 4.930 por cada nova ligação.
"É importante ressaltar que não foi efetuado nenhum pagamento da Cepisa aos contratos firmados com a Gautama, decorrentes da Licitação no 049/2006", diz o texto. Por fim, a nota do ministério afirmas que devido ao "baixo desempenho" da Cepisa e aos atrasos na implantação do Luz Para Todos no Piauí, em janeiro deste ano, a Eletrobrás autorizou a sua subsidiária Chesf a coordenar a execução das obras do programa no estado.
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