Ahhh... os tucanos estão descontrolados!!!

Tasso chama Mercadante para a briga

Antes da costura de acordo entre o governo e líderes partidários para sua aprovação, a criação das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) rendeu ontem um estridente bate-boca entre os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Aloizio Mercadante (PT-SP) na sessão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

A discussão começou, primeiro, entre dois senadores do mesmo partido, o PSDB. Tasso, relator do projeto que trata do regime tributário, cambial e administrativo das ZPEs, tentava evitar que a votação da matéria fosse adiada pela quarta vez seguida, enquanto o líder do partido no Senado, Artur Virgílio (AM), contrário à proposta por entender que ela levará prejuízo ao seu Estado, defendia o adiamento da apreciação.

No primeiro round da briga, Virgílio chegou a sussurrar palavrões para Tasso, que cobrou do tucano amazonense uma posição em favor da proposta. Virgílio, então, bradou: "Não sou empregado da Coca-Cola. Sou um senador da República e um diplomata." A frase ouvida e confirmada por três senadores sentados perto do tucano foi uma alfinetada em Tasso, empresário no Ceará e proprietário de uma engarrafadora da Coca Cola.

Depois da troca de farpas entre tucanos, foi a vez de a Comissão virar palco do outro bate-boca, não menos acalorado entre Tasso e Mercadante, presidente da CAE. Dessa vez, a discussão pôde ser acompanhada além do plenário, com transmissão ao vivo pela TV Senado. Sessão aberta e acordo de adiamento de votação do projeto fechado, a contragosto de Tasso, fez o tucano deixar a Comissão.

Mas ao ver, pelo telão, que Mercadante estava criticando a proposta, o tucano voltou para a sala vociferando que o petista não poderia discutir o projeto e presidir a CAE ao mesmo tempo. "Como presidente o senhor não pode discutir a matéria. É praxe, é regimental. "Se Vossa Excelência quer discutir, levante-se e venha para cá como um senador mortal. Ele (Mercadante) tem sempre a mania de dar a última palavra", afirmou Tasso, com a voz alterada.

Mercadante retrucou e disse estar procedendo com base no artigo 89 e que, portanto, teria sim amplo direito de se manifestar. Tasso, aos gritos, devolveu: "Não tem!" E Mercadante, irritado, perguntou ao tucano: "Em qual artigo o senhor está se baseando?" Tasso ainda mais irritado respondeu: "O senhor está de brincadeira com livrinho na mão e assessor te botando número. Deixe de bobagem."

A afirmação de Tasso foi em referência ao fato de o assessor da presidência da CAE, Gonzaga, estar abastecendo Mercadante com informações. Neste momento, um assessor também entrega a Tasso o regimento e o tucano caçoa: "Olha só, também ganhei um livrinho igual ao de Vossa Excelência. Tenha mais humildade, deixe o livrinho de lado e vamos discutir." Mercadante rebate mais uma vez e diz que é Tasso quem precisa ter mais humildade.

Em seguida, o petista sai em defesa de Gonzaga e diz que o funcionário não é "rapazinho", como chamou Tasso. "Ele é assessor e tem 10 anos de Senado", afirmou Mercadante. Em nova rodada de bate-boca, o tucano ironizou: "Vai agora se transformar no defensor dos rapazinhos do Brasil?"

Mercadante respondeu: "Tenho respeito por ele." Tasso então prosseguiu: "Também tenho respeito por ele e o senhor faz muito bem (em ter respeito pelo funcionário). Mas eu o proíbo de discutir (a proposta) aí nessa cadeira (enquanto preside a sessão)." Mercadante, então, resolveu pôr fim à discussão, ressaltando que o projeto das ZPEs estava retirado da pauta desta terça.

Mais tarde, na presença do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o tema voltou a ser discutido na Presidência do Senado. Desta vez, garantiram os líderes partidários que participaram da reunião, tudo transcorreu num clima de absoluta civilidade. À noite, Tasso mandou sua assessoria telefonar para Gonzaga e pedir desculpas.

Mercadante, por sua vez, disse que o tucano não lhe pediu desculpas, mas que estava satisfeito com o acordo estabelecido em torno do tema na reunião da tarde. "Desculpas? Não é do estilo dele, não", alfinetou o petista.