HELIO FERNANDES
Praticamente ninguém esperava uma gravidade tão grande no que se chama de questão Renan. Surgindo de acusações particulares, (já conhecidas, afinal Brasília é isso, mas que pela primeira vez era publicada) e se acobertando atrás de acusações públicas, a Veja provocava uma semana de tumulto e preocupação.
Só que verificando os fatos, o único que permanecia indestrutível, era este: Renan Calheiros realmente teve uma filha "externa", mas isso não o atingiria pessoalmente nem ameaçaria sua presidência. Outro personagem (que ocupou presidência muito mais alta e mais poderosa) sofrera a mesma acusação, e exercera 8 anos do Poder total. (FHC -GRIFO DO ONI PRESENTE)
E neste segundo caso, o presidente usara e abusara do Poder que ocupava, para se livrar da presença do filho e da mãe dele. Também jornalista, foi obrigada a ir trabalhar no exterior, o que fazer? Só a revista "Caros Amigos" e o jornalista Sebastião Nery, trataram do assunto.
A "denúncia" da Veja durou 4 dias. Na quinta-feira da mesma semana, surgia a denúncia (sem aspas) do Jornal Nacional, aí verdadeiramente demolidora. E de tal forma alarmante, que o Jornal Nacional acabou às 9 da noite dessa quinta-feira, e na sexta, quando Brasília está sempre mais vazia do que a acusação da Veja, houve uma reunião concorridíssima.
Ninguém saiu de Brasília, e a Comissão de Ética que se arrastava morna e monotonamente, ganhou uma vibração que ninguém esperava. Houve uma reviravolta inacreditável. E para confirmar e consagrar o surrealismo brasileiro, a Organização Globo no centro dos dois acontecimentos.
Defendendo, protegendo e facilitando para o presidente da República. E atacando, complicando e tumultuando para o presidente do Senado. Neste caso, jornalismo. No outro, proteção de relacionamento extraconjugal, longe do jornalismo.
No final da segunda-feira depois do longo depoimento ouvido pela Comissão de Ética, e na terça, ontem, quando não houve reunião, tudo se passava nos bastidores. O oficial: a reunião de hoje na Comissão de Ética. Mesmo essa, sujeita a chuvas e trovoadas. Por muitas coisas inconsistentes ou desagregadoras que estão acontecendo.
Ontem, tudo era oficioso e anti-Renan. Nunca sua posição foi tão vulnerável e perigosa. Até hoje pela manhã, nos bastidores. Muita coisa mostrando a mudança de posição dos mais diversos senadores. Alguns que antes nem admitiam a menor restrição a Renan.
Reconhecimento geral e só com duas exceções na Comissão de Ética: o problema de Renan, agora, nada a ver com as tolas, não comprovadas e levianas publicações da Sujíssima Veja.
Os obstáculos aparentemente intransponíveis para o presidente do Senado, estão localizados nas matérias do Jornal Nacional.
Primeiro, que no caso, o veículo televisão é mais demolidor do que o veículo revista. E segundo, tranqüilo com a Veja e sem saída com o Jornal Nacional, Renan cometeu erros e forneceu informações tão diversas, que agora, até ele se confunde.
A situação do presidente Renan se complicou de tal maneira, que já se fala em eleição para substituí-lo. Alguns mal informados, acreditam será que o vice. Bobagem. E para essa possível e até provável eleição, já existem três candidatos. Um, que já foi. Outro, que quis ser. O terceiro, que pensa que pode ser.
PS - Ontem, às 4 horas da tarde, no plenário, Pedro Simon abriu o jogo pela primeira vez. Textual: "Acho que o senador Renan deve renunciar". Como ficou dúvida, acrescentou: "Ao mandato de presidente". Repetiu 3 vezes, sempre corrigindo que era o de "presidente da casa".
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