É do conhecimento até do mundo mineral, faz 43 anos, que o governo dos Estados Unidos deu apoio político, material e financeiro ao golpe de 1964. O então embaixador americano Lincoln Gordon e a CIA participaram da conspiração para derrubar o governo de João Goulart e instalar no País uma ditadura que durou 21 anos. Com o aval da chamada elite brasileira, da chamada classe média e dos mesmos órgãos midiáticos que hoje divulgam as provas da conspiração fornecidas pelos documentos secretos tornados públicos pelos EUA.
Permito-me duas observações.
Primeira. Os jornais falam do assunto como se tivessem sido vítimas de uma ditadura que só não foi mais feroz porque não precisou, embora não tenha hesitado em aposentar o Estado de Direito e prender, torturar e matar inúmeros sonhadores da liberdade. Houve também censura, mas a história foi e continua a ser contada de forma insuportavelmente imprecisa. Recordo que durante um debate no Fórum Social de Porto Alegre em 2002, um dos meus interlocutores, Ignácio Ramonet, redator-chefe do Le Monde Diplomatique, falou da censura no Brasil como se tivesse alvejado a mídia em geral. Tive de corrigi-lo e ele caiu das nuvens.
Nem sempre os jornalistas estrangeiros são tão bem informados como imaginamos. Dos jornalões nativos, o único sob censura, exercida na redação com autorização para preencher os espaços em branco com versos de Camões e receitas de bolo, foi o Estadão. Tratava-se do resultado de uma briga em familia, igual àquela que se deu entre os militares e Carlos Lacerda, enfim cassado.
O jornal da família Mesquita e o ex-governador do Rio achavam ter direito à partilha do poder, mas a ditadura fardada, e quem estava por trás dela, não tinham o mesmo entendimento. Censurados impiedosamente nos QGs da Policia Federal, e submetidos a constantes humilhações, foram os órgãos de tendência, imprensa nanica, dizia-se então, (Opinião, Movimento, Pasquim, O São Paulo, jornal da Cúria paulistana, etc.) e a revista Veja, aquela que tive a honra e o orgulho de dirigir, e da qual a censura só saiu depois da minha saída e por causa dela.
A segunda observação diz respeito à política dos Estados Unidos e aos seus agentes. Segundo o embaixador Gordon, o Brasil estava à beira da guerra civil e Washington deveria impedir que se tornasse a China dos anos 60. É o que registram os tais documentos, escancarados 43 anos depois. Aqui, os jornalões advertiam em editoriais enraivecidos contra a subversão em marcha.
O golpe ocorreu, porém, no espaço de mirradas horas e não encontrou a mais pálida sombra de resistência. Não houve guerra civil, o sangue não inundou as calçadas. A seu modo, é um golpe patético. E a marcha da subversão estou a esperá-la até hoje. Haverá quem diga que o governo americano e seu embaixador não passavam de raposas hipócritas, os Talleyrand da hora. Quero dar um crédito de confiança à sua boa fé. Os EUA de Lyndon Johnson eram o mesmo misto de arrogância, prepotência, desinformação, ingenuidade e primarismo dos EUA de Bush Junior.
Permito-me duas observações.
Primeira. Os jornais falam do assunto como se tivessem sido vítimas de uma ditadura que só não foi mais feroz porque não precisou, embora não tenha hesitado em aposentar o Estado de Direito e prender, torturar e matar inúmeros sonhadores da liberdade. Houve também censura, mas a história foi e continua a ser contada de forma insuportavelmente imprecisa. Recordo que durante um debate no Fórum Social de Porto Alegre em 2002, um dos meus interlocutores, Ignácio Ramonet, redator-chefe do Le Monde Diplomatique, falou da censura no Brasil como se tivesse alvejado a mídia em geral. Tive de corrigi-lo e ele caiu das nuvens.
Nem sempre os jornalistas estrangeiros são tão bem informados como imaginamos. Dos jornalões nativos, o único sob censura, exercida na redação com autorização para preencher os espaços em branco com versos de Camões e receitas de bolo, foi o Estadão. Tratava-se do resultado de uma briga em familia, igual àquela que se deu entre os militares e Carlos Lacerda, enfim cassado.
O jornal da família Mesquita e o ex-governador do Rio achavam ter direito à partilha do poder, mas a ditadura fardada, e quem estava por trás dela, não tinham o mesmo entendimento. Censurados impiedosamente nos QGs da Policia Federal, e submetidos a constantes humilhações, foram os órgãos de tendência, imprensa nanica, dizia-se então, (Opinião, Movimento, Pasquim, O São Paulo, jornal da Cúria paulistana, etc.) e a revista Veja, aquela que tive a honra e o orgulho de dirigir, e da qual a censura só saiu depois da minha saída e por causa dela.
A segunda observação diz respeito à política dos Estados Unidos e aos seus agentes. Segundo o embaixador Gordon, o Brasil estava à beira da guerra civil e Washington deveria impedir que se tornasse a China dos anos 60. É o que registram os tais documentos, escancarados 43 anos depois. Aqui, os jornalões advertiam em editoriais enraivecidos contra a subversão em marcha.
O golpe ocorreu, porém, no espaço de mirradas horas e não encontrou a mais pálida sombra de resistência. Não houve guerra civil, o sangue não inundou as calçadas. A seu modo, é um golpe patético. E a marcha da subversão estou a esperá-la até hoje. Haverá quem diga que o governo americano e seu embaixador não passavam de raposas hipócritas, os Talleyrand da hora. Quero dar um crédito de confiança à sua boa fé. Os EUA de Lyndon Johnson eram o mesmo misto de arrogância, prepotência, desinformação, ingenuidade e primarismo dos EUA de Bush Junior.
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