Participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no debate sobre “Responsabilidade Social das Empresas na Construção de um Brasil Melhor” com empresários integrantes do Grupo de Líderes Empresariais
São Paulo-SP, 24 de outubro de 2005
João Dória Júnior: A pergunta vem do Adilson Primo, presidente da Siemens, aliás, uma empresa que há 100 anos investe aqui, no Brasil. Primo, a sua pergunta ao Presidente da República, por favor.
Adilson Primo: Presidente, na Cúpula do Milênio, em setembro de 2000, foram estabelecidas as chamadas Metas do Milênio, com um alcance de 15 anos, estabelecendo índices de desenvolvimento humano, e o senhor, na sua exposição, focou na temática educação.
A minha pergunta é: com relação aos outros índices, quais foram, efetivamente, as iniciativas do seu governo para que nós possamos avançar e próximo a 2015 termos uma diminuição deste déficit social que temos hoje?
Presidente: Olha, eu disse, no meu discurso, que nós tínhamos instituído um prêmio para as melhores práticas, dentro das oito necessidades que a ONU colocou, para o cumprimento das Metas do Milênio. E por que nós instituímos este prêmio? É para que possamos motivar não apenas entidades empresariais, ONGs, prefeituras, governos de estado, mas incentivar a sociedade a assumir, desde o programa de combate à desnutrição infantil, a cuidar da mulher grávida, a cuidar do meio ambiente.
São Paulo-SP, 24 de outubro de 2005
João Dória Júnior: A pergunta vem do Adilson Primo, presidente da Siemens, aliás, uma empresa que há 100 anos investe aqui, no Brasil. Primo, a sua pergunta ao Presidente da República, por favor.
Adilson Primo: Presidente, na Cúpula do Milênio, em setembro de 2000, foram estabelecidas as chamadas Metas do Milênio, com um alcance de 15 anos, estabelecendo índices de desenvolvimento humano, e o senhor, na sua exposição, focou na temática educação.
A minha pergunta é: com relação aos outros índices, quais foram, efetivamente, as iniciativas do seu governo para que nós possamos avançar e próximo a 2015 termos uma diminuição deste déficit social que temos hoje?
Presidente: Olha, eu disse, no meu discurso, que nós tínhamos instituído um prêmio para as melhores práticas, dentro das oito necessidades que a ONU colocou, para o cumprimento das Metas do Milênio. E por que nós instituímos este prêmio? É para que possamos motivar não apenas entidades empresariais, ONGs, prefeituras, governos de estado, mas incentivar a sociedade a assumir, desde o programa de combate à desnutrição infantil, a cuidar da mulher grávida, a cuidar do meio ambiente.
E nós esperamos que com a divulgação deste prêmio, com a inclusão das pessoas e a divulgação do nome das pessoas que ganharam o prêmio, nós vamos motivando o Brasil a assumir para si a responsabilidade de cumprir as Metas do Milênio.
Eu estou convencido que dentre os países emergentes o Brasil é o que tem mais possibilidade de cumprir as oito Metas do Milênio. Não acredito que outros países em desenvolvimento, pela quantidade de gente, China ou Índia, possam ter a mesma facilidade que o Brasil tem. Eu acho que nós temos material humano, nós temos gente organizada, na sociedade civil, o que nós precisamos é motivá-las. E se as prefeituras estiverem motivadas, você pode ficar certo que os exemplos serão os mais extraordinários. Por isso é que eu estou convencido que nós vamos cumprir grande parte das Metas do Milênio.
João Dória Júnior: Presidente, a próxima pergunta vem do presidente da Philips do Brasil, Marcos Magalhães. Marcos, sua pergunta ao presidente Lula.
Marcos Magalhães: Presidente, o tema é educação e uma preocupação do contexto empresarial: o senhor sabe que mais e mais, nos dias de hoje, as empresas, e também os países, são valorados em função do seu capital intelectual acumulado. E capital intelectual é conhecimento, e conhecimento pressupõe sistemas educacionais de qualidade.
E o ponto de partida, vários países demonstraram que são o ensino básico, o ensino fundamental, a pré-escola, o ensino médio. Nós temos problemas em todas essas áreas, o senhor descreveu uma quantidade de ações pontuais do governo mas, na realidade, nós sentimos ainda falta dos pontos fundamentais que países já demonstraram que essa trilha deve ser seguida.
A primeira delas é a política pública, política pública no sentido que nós percebamos, a Nação perceba, que é uma política de governo, é uma política do presidente e não uma política do ministro da Educação, nem do secretário da Educação.
O segundo tema diz respeito ao pacto que o senhor mencionou, mas eu não percebi uma menção ao tema de educação como um assunto suprapartidário, ou seja, que não hajam periódicas discussões políticas em torno do tema, mas que haja um grande pacto político para assegurar, como o senhor bem colocou, que este programa de 20, 30 anos seja executado sem que as discussões recorrentes interrompam o processo de implementação.
Então, nós consideramos que esses dois temas são realmente fundamentais. Por que isso nos preocupa tanto agora? É que o “Estado de São Paulo” publicou, há um mês atrás, que 75% da população brasileira não sabe ler direito, não consegue interpretar um texto de razoável complexidade. Isso é um desastre, realmente é um desastre.
E o que nos preocupa, adicionalmente? É que em dois anos e meio do seu governo nós tivemos três ministros da Educação. Isso não me parece sinalizar para a sociedade uma continuidade e uma consistência de programas. Minha pergunta é: o que nós podemos esperar do seu governo de sinalizações fortes na direção de política pública continuada e encaminhamento de um pacto político suprapartidário para que nós todos possamos trabalhar para uma política de melhor qualidade de educação?
Presidente: Na verdade, nós trocamos um ministro da Educação, porque o Fernando Haddad é continuidade da política educacional levada adiante pelo ministro Tarso Genro. A segunda coisa, é que eu citei aqui algumas coisas que estamos fazendo, que não são poucas coisas, eu imagino que vocês conhecem perfeitamente bem que a educação fundamental no Brasil é de responsabilidade dos estados e não do governo federal. E em muitos estados ela é de responsabilidade das prefeituras, e nem dos estados. É por isso que você tem tantas coisas, tantos níveis diferentes em cada estado. O governo federal tem responsabilidade, isto sim, pelo ensino médio e o ensino superior. E eu citei algumas coisas que estamos fazendo, o que não é pouco. Se você imaginar que, ao terminar o mandato, vou pegar o dia 31 de dezembro do ano que vem, a gente termina o nosso governo com 32 extensões de universidades federais pelo interior do Brasil, quatro universidades novas, mais 400 novos alunos pelo ProUni, nós fizemos uma pequena grande revolução na educação brasileira. Alunos que, certamente, estariam fora.
Se você imaginar que nós vamos fazer, depois de muitos anos, uma medição para aferir a qualidade do ensino na 4ª e na 8ª séries, isso pode significar, a partir daí, estabelecer um outro padrão de educação para o nosso país, porque até agora o que nós sabemos são pesquisas feitas por amostragens e não têm, efetivamente, a fotografia real de cada estado, de cada cidade ou de cada escola, que é o que nós vamos ter a partir do teste que estamos fazendo agora para todos os alunos do Brasil da 4ª série e para todos os alunos do Brasil da 8ª série. E a partir daí eu espero que a gente estabeleça um outro padrão para a educação brasileira.
Quando nós mandamos o Fundeb para o Congresso Nacional, é porque nós achamos que a partir do Fundeb a gente pode fazer a revolução que a educação brasileira precisava ter feito há muitos anos atrás. E eu acho que essa coisa da educação não pode ser partidarizada. Eu não concebo essa questão da partidarização, porque ninguém pode brincar com a educação neste país e ela não pode ser um modelo (inaudível), ela tem que ser um modelo que interessa a todo mundo. Por que nós demoramos para fazer o projeto de reforma universitária? Porque poderia o Tarso Genro ter sentado com o Fernando Haddad e ter feito. Nós preferímos envolver a sociedade brasileira num debate, elaborou-se um modelo, a este modelo agora está sendo dada a forma jurídica, para que ele vá para o Congresso Nacional. Nós não queremos que seja um modelo do governo ou um modelo do Ministério. O que nós queremos é que seja um apanhado daquilo que é a síntese do pensamento dos que têm interesse na universidade neste país. E o mesmo vale para o ensino fundamental.
Tem muita coisa no ensino fundamental brasileiro que nós precisamos discutir novos parâmetros. É por isso que estamos investindo para reciclar milhares de professores neste país. É por isso que tivemos que fazer o ano passado o concurso – e de vez em quando nós somos atacados porque estamos inchando a máquina –, concurso para seis mil novos professores para repor professores que tinham se aposentado há muito tempo atrás e não tinham sido repostas as suas funções.
Então, eu penso que Fernando Haddad tem nas suas mãos, por tudo que já foi planejado, por tudo que está no Congresso Nacional e por tudo que está sendo feito, a possibilidade da gente dar um novo padrão à educação brasileira. E para isso nós precisamos aprovar o Fundeb.
Quero ressaltar, aqui, eu estou vendo aqui que já foram embora alguns, tem aqui muitos deputados. O Fundeb, meu caro Arlindo, é imprescindível que seja votado para que a gente possa garantir a qualidade do ensino fundamental no Brasil.
João Dória Júnior: Presidente, a última pergunta de hoje, eu peço às senhoras e aos senhores, por favor, aguardem o encerramento pleno para se levantarem, até por razões de segurança, tanto das senhoras e dos senhores, como também das autoridades, a começar do Presidente da República.
A última pergunta da mesa é a do presidente da Nívea, Paulo Zottolo. Paulo, a sua pergunta ao presidente Lula.
Paulo Zottolo: Presidente, uma pergunta bem rápida. Quando o senhor terminar o mandato, no dia 31 de dezembro de 2006, como é que o senhor gostaria de ser lembrado pelo povo brasileiro?
Presidente: Eu disse no dia 1º de janeiro de 2003, quando fiz o discurso, de que, se ao terminar o meu mandato, todos os brasileiros tivessem comendo no mínimo três refeições por dia, eu ia estar satisfeito. Porque Paulo Freire nos ensinou que uma criança com fome não aprende, uma criança com fome, ela vai para a escola um monte de tempo e ela não vai conseguir aprender, com o risco de que pode ficar com o cérebro atrofiado para o resto da vida. Essa é uma coisa.
A outra coisa, eu acho que qualquer brasileiro quer ser lembrado, e aí não sou eu que tem que lembrar, quando eu terminar o meu mandato eu gostaria que vocês empresários fizessem uma medição do que aconteceu nos últimos 30 anos na economia brasileira e fizessem um estudo comparativo em que momento nós estivemos melhor, em que momento nós tivemos mais solidez, em que momento tivemos mais credibilidade, em que momento as coisas andaram muito melhor para o Brasil. Eu acho que é assim que eu quero que a sociedade veja, analise corretamente, pense, porque eu acho que estamos fazendo para o Brasil uma coisa que deveria ter sido feita há 30 anos atrás. Nós estamos garantindo que o Brasil tenha a primeira oportunidade de ter um ciclo de desenvolvimento sustentável, sem que o governo permita que por causa de um processo eleitoral ou por causa do atendimento ou não de uma categoria, seja ela de grandes empresários ou de pequenos, que a gente faça estupidez ou tente fazer mágica com a economia brasileira.
Eu sei da angústia, porque converso com muitos de vocês individualmente, eu sei daqueles que querem que o câmbio seja um pouquinho mais alto, mas também é importante lembrar que pediram, o tempo inteiro, que o câmbio deveria ser flutuante, o câmbio flutuante flutua. Portanto, nós temos que saber que temos que ter paciência nessa coisa.
Nós sabemos que o trabalho feito até agora foi o de dizer para o Brasil: olhe, nós não jogaremos fora esta chance, nós não jogaremos fora. Não haverá nenhuma pressão, de quem quer que seja, que faça com que a gente mude o rumo de uma coisa que está dando certo. Se nós jogarmos fora essa oportunidade, vocês aqui empresários já foram dormir ganhando dez, levantaram perdendo 15; já foram dormir devendo 100 e acordaram devendo 400. Tudo mundo, aqui, já sabe que não tem mágica, quem inventou mágica quebrou a cara neste país. E a nossa mágica, na verdade, é a seriedade no trato da economia brasileira para que ninguém seja pego de surpresa, que as coisas aconteçam todo mundo sabendo o que está acontecendo.
É por isso que a exportação está crescendo; é por isso que as importações de bens de capital estão crescendo; é por isso que a poupança interna, que era 18, quando disputamos as eleições, está 24% hoje; é por isso que o crédito cresce, o crédito ao consumidor cresce; é por isso que o emprego cresce; é por isso que o superávit de conta corrente cresce. O que está decaindo no Brasil neste momento? Agora começaram a cair os juros, a inflação e o custo de vida. E eu acho que nós não temos razão para reclamar. Temos razão, sim, para exigir cada vez mais, porque é com muita exigência que este Brasil pode dar certo.
Muito obrigado.
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