quinta-feira, 20 de setembro de 2007

ATÉ RECURSOS DE BANCO PÚBLICO (BEMGE-BANDO DO ESTADO DE MINAS GERAIS -PRIVATIZADO) FOI PARA CAMPANHA DOS TUCANOS EM MINAS GERAIS

Verba do Bemge foi para valerioduto, diz PF

PAULO PEIXOTO e RUBENS VALENTE
Folha de S. Paulo


EDUARDO AZEREDO NEGA ATÉ DEBAIXO DÁGUA

Polícia Federal afirma que dinheiro teria ido para a campanha de reeleição de Eduardo Azeredo;

Ministério Público do Estado abriu investigação para apurar o patrocínio esportivo de evento realizado por empresa de Marcos Valério

O relatório da Polícia Federal sobre o valerioduto de Minas, encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal), aponta que R$ 500 mil em recursos públicos saíram do Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais), em 1º de setembro de 1998, para a fracassada campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB), hoje senador.

Foram cinco cheques de R$ 100 mil do grupo Bemge, supostamente para patrocínio de evento esportivo organizado pela agência SMPB, emitidos 14 dias antes de o banco ser adquirido em leilão de privatização pelo Itaú. Os cheques foram depositados na conta da SMPB -do empresário Marcos Valério de Souza, denunciado por operar o mensalão do PT- no Banco Rural.

É a primeira vez que esse fato vem à tona com os comprovantes dos supostos pagamentos levantados pelo Instituto Nacional de Criminalística da PF.

O Ministério Público de Minas abriu procedimento investigatório para apurar a questão do patrocínio esportivo. Em 2003 a denúncia foi apresentada ao STF sem citar o Bemge. A primeira vez que o nome do banco veio à tona foi em 2005, na lista do então tesoureiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão -na qual aparecia escrito valor maior, R$ 1 milhão.
Até então, as investigações se davam em torno de duas empresas estatais: Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) e Comig (que virou Codemig, empresa de desenvolvimento econômico).

A CEMIG TAMBÉM ENTROU NA FESTA

Além das duas, em 2005 a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) passou a ser também investigada por suposta colocação de recursos públicos na campanha de Azeredo na forma de gastos com campanhas publicitárias da estatal.
Segundo o relatório da PF, teriam entrado da Cemig R$ 1,67 milhão; da Copasa e Comig, R$ 1,5 milhão de cada uma.
No caso do Bemge, o dinheiro teria entrado na forma de patrocínio ao evento "Iron Biker -O Desafio das Montanhas". A investigação mostrou que cada cheque de R$ 100 mil foi emitido por uma empresa do grupo Bemge: Financeira,

Administração Geral, Seguradora, Cartão de Crédito e DTVM.

Apesar de no verso de 3 dos 5 cheques constar a inscrição "Iron Biker", a PF diz que "nos coletes dos competidores e nas placas de identificação das bicicletas, principais materiais de divulgação dos patrocinadores, não consta a logomarca do grupo Bemge". Menção ao Bemge aparece apenas em um folder distribuído no evento.

Considerando que empresas privadas que patrocinaram o evento com valores de cerca de R$ 3 mil tiveram espaço mais valorizado nos materiais de divulgação, a PF disse que a operação foi "uma simulação para promover o desvio de recursos em benefício da campanha de Eduardo Azeredo".

OUTRO LADO: EXECUTIVO NEGA PARTICIPAÇÃO NO ESQUEMA

Apesar de seis diretores do Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais) terem sido indiciados, a Polícia Federal apontou o presidente do banco em 1998, José Afonso Bicalho, como o principal responsável pela operação. Segundo o relatório da PF, ele "negou ter orientado ou determinado a aquisição de cotas de patrocínio por parte das empresas coligadas ao conglomerado Bemge".

De acordo com a PF, o então presidente do Bemge disse que nem sequer "teve conhecimento ou tampouco autorizou qualquer patrocínio ao "Iron Biker"".

À Folha Bicalho reafirmou ontem que não teve conhecimento desse fato e disse que "cada empresa [do grupo Bemge] tinha o seu diretor executivo", justificando assim a emissão dos cinco cheques de R$ 100 mil, sendo um de cada empresa do grupo.

ESTAVA ENVOLVIDO DE CORPO E ALMA NA PRIVATIZAÇÃO

"Eu estava envolvido de corpo e alma na privatização do banco. Era um momento complicado, estava tendo a crise [econômica] da Rússia, tanto que teve banco que ia participar do leilão de privatização e não participou porque nem teve autorização do Banco Central. Eu estava envolvido só na privatização."

Ele disse não saber do indiciamento. "Eu fui interrogado, mas não teve nada ainda. Não fui comunicado de nada", disse.
No relatório, a PF afirma que não houve formalização de atos administrativos relacionados aos repasses do Bemge. O Itaú, comprador do Bemge, informou à Polícia Federal que "não encontrou em seus arquivos os documentos que fundamentaram os pagamentos relacionados ao patrocínio do evento "Iron Biker"".

A assessoria do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza informou que ele não vai se manifestar sobre o esquema mineiro em investigação.

DESCULPA "ESFARRAPADA"

Em nota encaminhada à Folha, a assessoria do senador Eduardo Azeredo (PSDB) disse que "o patrocínio para o Enduro da Independência foi legal, segundo comprovam documentos das empresas que adquiriram as cotas, e o evento realmente foi realizado" e que "as ações de publicidade institucional da Cemig [...] existiram e se destinaram a campanhas sobre economia de energia".

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