Não é apenas a falta de apoio do tucanato, para evitar que seja denunciado ao STF, que incomoda o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Segundo o jornalista Luis Nassif, as estocadas do senador tucano contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso têm raízes antigas. ''Nas eleições de 1998, FHC traiu o companheiro, não apareceu em Minas e acabou até posando em fotografias com seu adversário Hélio Costa'', diz Nassif, em seu blog.
''Essa mesma falta de espírito partidário ocorreu no Espírito Santo, onde FHC deixou órfãos Paulo Hartung e Luiz Paulo Vellozo Lucas para apoiar o chefe político decadente Élcio Álvares'', informa Nassif.
Nesta semana, em declarações à imprensa, Azeredo --que está sendo cusado de ter inventado o esquema do mensalão em Minas Gerais-- abriu crise no PSDB ao afirmar que os recursos de sua campanha, arrecadados pelo esquema do ''valerioduto'' também irrigou outras campanhas tucanas, incluindo a da reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Cardeais do partido, indignados, chamaram-no ontem de ''mau-caráter''. No plenário do Congresso, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, exigiu que Azeredo se retratasse, mas o ex-governador não o fez.
Em São Paulo, o governador José Serra negou o isolamento do senador e repetiu que ''Azeredo é um homem íntegro, honesto, um grande caráter''. Mas frisou ser natural que os comitês estaduais reforcem as campanhas nacionais. ''Todos os candidatos que apoiaram o presidente FHC também fizeram campanha, como fizeram a minha em 2002'', disse Serra, admitindo ser ''impossível que um candidato controle tudo que acontece''.
Procurado ontem, Azeredo disse que não iria mais se pronunciar sobre o assunto.
Dulci: PSDB com a palavra
Ainda nesta quinta-feira (27), o ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência da República, disse que este é um assunto que deve ser respondido pelo PSDB, apesar da pressão da mídia para personalizar no ministro Walfrido Mares Guia, das Relações Institucionais, as acusações sobre o mensalão tucano.
''Pelo que o senador Azeredo falou, não é necessariamente um assunto só de Minas Gerais. Pode ter implicações mais amplas'', disse Dulci, referindo-se à confirmação de utilização de caixa dois nas campanhas de Azeredo, FHC, Aécio Neves, entre outros tucanos.
''Sobre campanhas do PSDB não cabe a mim ou a lideranças do governo darem opinião. Quem tem de prestar esclarecimentos sobre campanhas eleitorais do PSDB são os próprios dirigentes do PSDB. Eles é que têm informação sobre a campanha eleitoral que o PSDB fez'', disse.
Relatório defendido
O relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal, que revela a existência do TUCANODUTO, se pautou pelos padrões técnicos de análise das provas colhidas. Não houve opiniões pessoais, juízo de valor prévio ou adjetivação sobre os investigados. Foi o que disse a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) ao rebater as críticas do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o documento.
Na quarta-feira (26), o procurador se irritou com publicidade dada ao relatório da PF. Ele afirmou que, na denúncia que deverá apresentar ao Supremo, as conclusões do documento da Polícia não serão levadas em conta.
Estranhamente, o mesmo procurador não demonstrou nenhuma irritação quando a mídia fez um verdadeiro escarcéu com o relatório que apontava lideranças do PT envolvidas em esquema semelhante e que também abusava da adjetivação.
A íntegra do relatório da PF foi divulgada pela revista Consultor Jurídico no dia 15 de setembro. Nele, o senador Eduardo Azeredo é apontado como principal beneficiário do esquema de arrecadação ilegal de recursos nas eleições de 1998, quando disputou - e perdeu para Itamar Franco - a reeleição ao governo de Minas Gerais.
O relatório, assinado pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, relaciona 36 envolvidos, a maioria ligados ao tucanato mineiro.
Antonio Fernando de Souza criticou o caráter opinativo do relatório. ''Não vou me basear no relatório, vou me basear nos autos. Quando a Polícia Federal dá opinião no relatório, ele deixa de ser relatório'', afirmou. Na nota, a ADPF refuta a tese de que um delegado, quando elabora um relatório, ''tem de descrever fatos. Se tem opinião, deixa de ser relatório''.
Para a associação, a opinião do procurador-geral não está de acordo com a lei. Enquanto profissional do Direito, o delegado da PF deve fazer relatório do que apurou e enviar os autos ao Poder Judiciário, com as informações necessárias ao julgamento do processo.
De acordo com a nota, ''a autoridade policial no Brasil e em qualquer outro país tem o dever de formar sua convicção sobre as provas colhidas. Trata-se de valoração técnica, racional, lógica e isenta do conjunto probatório da qual poderão discordar ou concordar o Ministério Público e o Poder Judiciário, no contexto de um Estado Democrático de Direito que assegura ao cidadão a garantia constitucional de um julgamento imparcial e justo''.
''As conclusões elaboradas dizem respeito apenas à análise do conjunto probatório quanto à materialidade e autoria dos crimes apurados'', afirma a nota assinada pelo vice-presidente da entidade, Marcos Aurélio Pereira de Moura.
Da redação, <http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=25829>
com agências
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