A Folha de S. Paulo parece ter aderido ao estilo Veja de fazer jornalismo: publica denúncias sem nenhum tipo de confirmação e depois fica em silêncio quando surgem evidências de que as denúncias eram falsas. É o que está acontecendo com o caso da suposta "espionagem" que a Folha e a revista Veja anunciaram neste final de semana e que foi desmentida pela principal fonte da "denúncia".
A grande imprensa propagandeou no final de semana que o advogado Heli Dourado "confirma espionagem tramada por Renan". Pois nesta segunda-feira (8), o mesmo advogado que teria "confirmado" a denúncia publicou uma nota dizendo, com todas as letras, que jamais fez tal acusação. "Tão logo começou a conversa entre os dois ex-colegas de Parlamento, me retirei da sala para cuidar de afazeres pertinentes à advocacia. No meu entra e sai, percebi que falaram de tudo, desde os tempos em que Alexandre Costa era ministro até os dias de hoje. Esclareço que da parte da conversa que ouvi, não houve qualquer afirmativa por parte de nenhum dos dois sobre fotografias, espionagem, grampos e nada que pudesse relacionar com o caso Renan Calheiros. São os fatos ocorridos e de meu conhecimento", diz a nota de Heli Dourado.
Ninguém confirmou
Todos os outros personagens envolvidos na tal "denúncia" também desmentiram as informações publicadas pela revista Veja e pelo jornal Folha de S. Paulo. A "denúncia" sustentava que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) enviou um funcionário da presidência do Senado, o ex-senador Francisco Escórcio, e os advogados Wilson Azevedo dos Santos e Heli Dourado para espionar os senadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO), adversários políticos de Renan.
Segunda a denúncia, Escórcio teria planejado a instalação de câmeras de vídeo em um hangar de táxi aéreo em Goiânia para filmar os senadores em alguma atividade ilegal. Para isso, contaria com a ajuda do ex-deputado Pedro Abrão, dono de um hangar e aviões particulares usados por políticos.
O advogado Wilson Azevedo dos Santos também divulgou nota nesta segunda-feira negando participação em qualquer estratégia de chantagem. Azevedo diz que só se encontrou com o ex-senador Francisco Escórcio em Brasília e no Maranhão, nunca em Goiânia. Diz ainda que faz mais de cinco anos que não vê o ex-deputado Pedrinho Abraão.
O assessor do gabinete da Presidência do Senado, Francisco Escórcio, também divulgou nota em que nega as denúncias de que chefiaria, a mando do presidente do Senado, um esquema de espionagem dos senadores de oposição.
Em nota à imprensa, Escórcio confirma que esteve em Goiânia no dia 24 de setembro para obter documentos usados em processo contra a diplomação do governador do Maranhão, Jackson Lago, que seriam entregues a uma emissora de televisão. "O objetivo da viagem foi reunir-me com o advogado patrono da causa de minha coligação partidária contra a diplomação do governador do Maranhão e obter cópia de alguns documentos que me foram solicitados por uma televisão desejosa de fazer uma matéria a esse respeito", afirma o assessor da Presidência do Senado.
Escórcio diz ainda que, no escritório do advogado, encontrou-se com o ex-deputado Pedrinho Abrão, a quem trata de "velho amigo". O assessor acrescenta que, em nenhum momento, tratou com Abrão de questões como espionagem dos senadores Marconi Perillo e Demóstenes Torres ou de denúncias contra Renan Calheiros. "No escritório do advogado, encontrei-me com meu velho amigo ex-deputado Pedro Abrão, com quem sempre tive estreita relação. Desde o tempo em que fui secretário-executivo do Ministério da Integração, então ocupado pelo saudoso senador Alexandre Costa. No nosso encontro não constou qualquer sugestão de obter informações sobre senadores de Goiás, nem examinado o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros", afirma o assessor da presidência do Senado, ressaltando ainda que é "amigo pessoal" de Demóstenes Torres.
Renan: repúdio com veemência
O presidente do Senado também emitiu nota repudiando as acusações. "Repudio, mais uma vez - com a veemência e indignação que a situação exige - as falsas acusações de que estaria usando servidores do Senado Federal para práticas inescrupulosas, imorais e ilegais. Isso não faz parte do meu caráter", diz o documento assinado por Renan Calheiros.
Na nota, Renan afirma que a espionagem não faz parte de seu caráter. "Na medida em que a verdade vai destruindo as falsas imputações pretéritas buscam-se novas tramas para indispor-me com a Casa, como já vimos no passado recente. Eu sim tive a vida devassada e não recorreria a indignidades como as que me foram falsamente atribuídas. É preciso ter responsabilidade e cobrar das fontes das maledicências as provas das acusações", diz o presidente do Senado no comunicado.
Cautela
O senador Demóstenes Torres afirmou que comparecerá amanhã (09), à tribuna parlamentar para pedir pessoalmente a Calheiros que "dê as explicações necessárias a todo o Senado".
O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que o partido considera insuficiente a nota em que Renan nega envolvimento no suposto esquema de espionagem, mas pretende aguardar um pronunciamento dele com mais explicações antes de decidir pela representação.
"A palavra está com Renan Calheiros. O Democratas vai querer ouvir de Renan Calheiros, como ele o fez em outras oportunidades, sua manifestação na tribuna do Senado. Se as explicações forem convincentes, o partido avaliará o que fazer. Se não forem, o partido seguramente entrará com representação", disse Agripino.
Já o PSDB, partido de MArconi Perrillo, confirmou na tarde desta segunda-feira que vai apresentar uma nova representação contra Calheiros para investigar a denúncia sobre o suposto esquema de espionagem. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que, se o DEM não quiser assinar a representação, o PSDB o fará sozinho. Será a quinta investigação contra o presidente do Senado.
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