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Cúpula do PSDB teme Nilton Monteiro
Nilton Monteiro voltou novamente. O consultor de empresas rompe o longo silêncio e revela para o Novojornal detalhes dos bastidores sombrios da campanha à reeleição, em 1998, do então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB).
Nilton Monteiro expõe parte da gigantesca gama de informações e documentos que acumulou nos últimos anos da prática de atos ilícitos e caixa 2 na campanha tucana.
Ele destacou que a campanha de Azeredo arrecadou mais de R$ 100 milhões, grande parte oriundos dos cofres públicos, e que pelo menos R$ 4,5 milhões teriam ficado no bolso do ex-governador.
Nome bastante temido por integrantes do PSDB que tentam desesperadamente desqualificá-lo, as informações até agora passadas por Nilton Monteiro mostraram-se todas verdadeiras, em especial, o cheque de R$ 700 mil repassado por Marcos Valério para Azeredo quitar uma dívida com Cláudio Mourão, o seu ex-tesoureiro da mal sucedida campanha.
Um laudo técnico confirmou a veracidade da assinatura de Azeredo em um recibo no qual constata que ele recebeu R$ 4,5 milhões da SMP&B e DNA Propaganda, no dia 13 de outubro de 1998.
Cláudio Mourão também havia afirmado, na CPMI, que não havia repassado nenhuma procuração para Nilton Monteiro representá-lo, fato desmentido posteriormente por um laudo técnico encomendado por uma revista semanal.
Novojornal - Quanto arrecadou a campanha de Eduardo Azeredo em 1998?
Nilton Monteiro - R$ 53 milhões era o que falavam. Mas foi uma campanha milionária, mais de R$ 100 milhões foram arrecadados. Dinheiro de estatais, de empreiteiras, construtoras, doleiros, corretores de seguro, das privatizações. Então, é por isso que o Azeredo entregou o Estado, realmente, falido para o Itamar Franco. O Azeredo perdeu a reeleição e não foi por causa de dinheiro. Perdeu sim, por incompetência. Eu não sei como ele chegou a governador.
NJ - Quem participou ativamente dos desvios dos recursos financeiros do Estado?
NM - O João Heraldo Lima, que foi secretário de Fazenda de Azeredo; o Carlos Elói, ex-presidente da Cemig; o Walfrido dos Mares Guia, então vice-governador na época; o irmão de Azeredo, Álvaro Azeredo, seu assessor. Formou-se um núcleo criminoso para buscar recursos necessários para a campanha. Foi a campanha mais rica da história política de Minas Gerais.
NJ - Qual foi a participação do BDMG?
NM - Na época, tinha muitos empresários que precisavam de recursos para serem liberados do BDMG. Os dirigentes do banco liberavam estes recursos com a condição dos empresários darem o retorno de 5% a 10%, que vinham para a campanha. Todos os fornecedores das estatais mineiras também davam de 5% a 10% para a campanha. Assim como as construtoras, indústrias, empreiteiras, bancos etc.
NJ - E o Banco Rural?
NM - O Cláudio Mourão me disse uma vez assustado: "Nilton, a coisa está uma loucura! O Banco Rural é uma grande lavanderia de dinheiro!" Então é isso, o Banco Rural foi a grande lavanderia da campanha de Azeredo.
NJ - Qual a sua relação com o ex-tesoureiro de Azeredo, Cláudio Mourão?
NM - Hoje eu vejo que eu fui usado por esse cidadão. Tudo o que ele falou lá na CPI, ele mentiu. Ele estava numa situação delicadíssima, quebrado, esse pessoal não queria nem vê-lo: Walfrido dos Mares Guia e outros. Abandonaram ele. No final da campanha, eles falaram que quem fez o Azeredo perder foi João e Mourão. O João Heraldo hoje é um cidadão que está no Banco Rural. E até hoje não sei por quê não foi investigado. Ele foi um secretário muito forte na Fazenda. Não aparece, mas era o homem das negociatas.
NJ - O Mourão atuava só em Minas Gerais?
NM - Mourão era um cidadão viajado. Era um homem de muita confiança. Então ele (Mourão) tinha vários contatos, uma teia. Tinha contato com o Banco Opportunity, com a Elena Landau, com a Cemig, dali saiu dinheiro da campanha, da Telemig saiu dinheiro para a campanha, do BMG saiu dinheiro para a campanha. E cito outras empresas onde foram desviados dinheiro para a campanha: Copasa, Comig, Prodemge, Bemge. Mourão tinha ramificação com doleiros fortes no Rio de Janeiro. Alugava avião da Líder. Às vezes via uma determinada pessoa que eu não posso falar ainda. Ficava o avião no hangar, como se fizesse manutenção, mas não era, estavam passando rios de dinheiro, para depois seguir para Belo Horizonte.
NJ - Que documentos da campanha de Azeredo o Cláudio Mourão entregou para o senhor?
NM - Ele colocou na minha mão o manuscrito de próprio punho do Walfrido dos Mares Guia, que ele já divulgou que ele tinha realmente escrito; colocou na minha mão o recibo do Azeredo recebendo R$ 4,5 milhões; colocou a lista dos deputados e a quantidade de recursos que receberam na campanha.
NJ - Com os recibos?
NM - Não, recibos não. Só o valor que cada um recebeu. Eu já tinha alguns DOCs. Colocou a relação de despesa que o Pratinha (Marco Aurélio Prata, contador de Marcos Valério) assinou, que tinha R$ 53 milhões que foram gastos pela SMP&B na campanha. Diz que gastaram pouquinho no Enduro da Independência e o resto foi tudo para a campanha. Me passou a ação que ele tinha contra o Azeredo e o documento que o Azeredo deu plenos poderes para ele. O Azeredo deu muito poder para o Mourão.
NJ - Um laudo confirmou que a assinatura de Azeredo no recibo em que ele confirma o recebimento de R$ 4,5 milhões é verdadeira?
NM - Exatamente. Azeredo embolsou R$ 4,5 milhões da campanha, dinheiro pago pela SMP&B e DNA Propaganda. Tenho o recibo com a sua assinatura. Ele disse que a assinatura era falsa. Recentemente, no dia 24 de outubro, o Cartório Amaral, através do tabelião Carlos Alberto Fagundes Amaral, enviou ao delegado de Polícia Dr. Bruno Tasca Cabral, ofício no qual comprova a veracidade da assinatura de Azeredo no recibo.
NJ - Você chegou a conversar com o Azeredo sobre o caso?
NM - Cheguei. Depois ele me pressionou, disse que eu estava com documentos que não podiam ficar nas minhas mãos, que ele iria me interpelar, que eram documentos particulares da campanha, que não sabia porque eu estava com isso.
NJ - Ele admitiu que conhecia o esquema de caixa 2?
NM - Azeredo sabia de tudo. O Cláudio falou comigo que ele (Azeredo) sabia de tudo que acontecia. Agora diz que não sabe. O interessante é que o Cláudio mudou muito. Agora assumiu todo o compromisso, porque ele é doido. Mudou a história porque recebeu dinheiro. O dinheiro comprou o silêncio dele. Hoje ele está um homem abonado, tranqüilo.
NJ - Quando você conversou com o Azeredo, ele se negou a fazer o acordo?
NM - O Azeredo falou que não devia nada ao Cláudio Mourão. Na época, Mourão cobrava uma dívida de Azeredo.
NJ - Ele falou que já havia repassado os R$ 700 mil para Mourão?
NM - Falou para mim. Foi onde eu descobri que tinha uma ação que o Cláudio Mourão entrou cobrando cerca de R$ 1,5 milhão do Azeredo. Aí eles chegaram num acordo e o Azeredo pagou R$ 700 mil para o Mourão com o cheque do Marcos Valério. O Azeredo falou: "Nilton, ele fez um recibo para mim, que ele não pode me cobrar. Eu não devo mais nada para esse cidadão". "E outra coisa, Nilton: os carros que ele ficou, não eram dele. Ele tinha que ter vendido, entregado e pronto". Ali é uma quadrilha. Ali é um roubando o outro.
NJ - Como foi a participação de Walfrido dos Mares Guia na campanha de Azeredo?
NM - Mares Guia embolsou R$ 24 milhões da campanha. Quem passou para ele o dinheiro foi Marcos Valério. Mares Guia foi, sim, o coordenador financeiro de peso da mal sucedida campanha à reeleição. Ele se locupletou de recursos públicos. Hoje fico admirado de ver este cidadão articulando com o presidente Lula, no cargo de ministro. Este elemento deveria estar mofando na cadeia, porque ele deve explicações sobre o lamentável episódio da morte da modelo mineira em um flat de Belo Horizonte. Aquilo está ainda muito mal esclarecido. Inclusive, o Cláudio Mourão me disse que foi Walfrido o causador da morte da modelo. Aquela mulher tinha a função de carregar malas de dinheiro desviado de órgãos públicos mineiros, para entregar à quadrilha de Azeredo e Mares Guia. O presidente da Cemig, na época, também esteve envolvido com o assassinato. Isto é gravíssimo.
NJ - Como o senhor vê a atuação da classe política?
NM - Como disse o saudoso Rui Barbosa: "Nós vamos ter vergonha de sermos honestos". A lei atualmente no Brasil é a seguinte: se você não roubar, será preso. Porque o Senado Federal instituiu essa lei ao salvar o mandato de Azeredo. Ele cometeu um grave crime em 1998 e o crime não pode prescrever. O povo precisa ir às ruas exigir mudanças nas leis. Hoje temos um Congresso Nacional falido moralmente, mentiroso, com representantes do povo da pior espécie. Não há credibilidade, falta a sensatez do espírito democrático. O que se vê no Congresso hoje é ladrão investigando ladrão. Isto é uma vergonha! E eu tenho pavor de político desonesto.
NJ - A imprensa fez a cobertura correta do caixa 2 tucano em Minas?
NM - Não. Este canalha do Azeredo fica usando os jornais "Correio Braziliense", "Estado de Minas", "O Tempo", jornais comprados que estão em conluio com esta quadrilha do PSDB, para me difamar perante a opinião pública. Azeredo contrata advogado bandido chamado Joaquim Engler Filho, junto com peritos desonestos, e usa a estrutura criminosa do PSDB para elaborar laudo falso, tentando me desqualificar.
NJ - O senhor acredita na Justiça?
NM - Não tenho medo da Justiça, não devo à Justiça. Pelo contrário, eles é que devem ter medo da Justiça. Eu, enquanto viver, vou lutar contra esse povo. Tenho pavor deles. Não posso nem ouvir falar em PSDB. Considero o PSDB uma grande quadrilha organizada. Pior que essa máfia italiana. Se o presidente Lula quisesse, muitos deles estariam na cadeia hoje. Não teria chance para eles.
Links:
Cópia do recibo de R$ 4,5 milhões assinado por Eduardo Azeredo e repassado pela SMP&B e DNA Propaganda para Cláudio Mourão <http://www.novojornal.net/pdf/recibo1.pdf>
Certidão do Cartório do 5º Ofício de Notas de Belo Horizonte que comprova a autenticidade da assinatura de Eduardo Azeredo no recibo de R$ 4,5 milhões <http://www.novojornal.net/pdf/cartorio.pdf>
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