Se algum outro partido que não o PSDB e o Democratas tivesse derrubado o imposto do cheque, provocando um rombo no Orçamento do governo de R$ 40 bilhões - e, a partir de então, a Bolsa de Valores tivesse despencado continuamente, esse partido passaria imediatamente a ser acusado de ter agido de forma irresponsável.
Pois desde que a CPFM foi derrubada no Congresso a bolsa de valores só cai. Cai é pouco. Despenca. Foram 4,19% nesta segunda-feira. Eu não sou economista. Presumo que a crise americana, que parece muito mais grave do que se dizia, seja mesmo o principal fator. Mas o súbito "sumiço" de R$ 40 bilhões do Orçamento tem ou não algum impacto? Quase não se toca no assunto. Quando muito aparece lá no pé das análises.
Miguel Daoud, diretor da Global Financial Advisor, disse à Reuters: "'No Brasil, alguma dificuldade do governo em estabelecer uma compensação para a CPMF' também pesou sobre os negócios." É uma tamanha dificuldade. Uma dificuldade de 40 bilhões de reais. Por muito menos qualquer outro seria acusado de ter abalado a confiança na economia brasileira. Mas ninguém tem coragem de tratar diretamente do assunto, nem para dizer: o fim do imposto do cheque não tem absolutamente nada a ver com isso, nem mesmo uma influência secundária ou terciária. Não é nem primo de quinto grau. Pelo simples fato de que, ainda que não seja a causa principal, é com certeza um complicador. Um complicador para o governo, um complicador para os programas sociais, um complicador diante de um cenário que se torna cada vez mais incerto.
Podem ter certeza: antes o Brasil crescia APESAR do governo. Agora a mídia corporativa vai culpar o governo por não ter se preparado para a crise. CPMF? Ninguém nem ouviu falar.
E desta vez não vai ter aquele contador: desde que a CPMF caiu a bolsa de São Paulo já despencou tantos por cento. Aquilo era só para os vôos atrasados durante o caos aéreo. Para sua informação, pós-CPMF a bolsa caiu 2,9% na quinta-feira e 0,66% no pregão de sexta-feira, além de 4,19% nesta segunda-feira. Antes, só subia. Depois, só caiu. Francamente, espero que seja mera coincidência. Pelo menos é o que a gente vai ver na TV, ouvir na rádio e ler no jornal.
Publicado em 17 de dezembro de 2007
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