quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

TRANSPOSIÇÃO É NOVA DERROTA DA COMUNICAÇÃO

O governo tem perdido importantes batalhas pela falta de uma comunicação eficiente com a sociedade. Foi assim no caso recente da renovação da CPMF e o problema se repete no debate sobre a transposição do rio São Francisco.

Não tenho posição definida sobre o projeto, justamente pela falta de informações. Existem pessoas que respeito nos dois lados da questão. O governo diz ter realizado audiências públicas com os principais envolvidos e atingidos pelo projeto, mas a transposição não é uma questão local e sim uma obra de impacto nacional, que deveria ser do conhecimento de todos e mobilizar a população.

Quando era presidente do BNDES, Carlos Lessa falou da necessidade de um grande projeto nacional, que envolvesse todos os brasileiros, como a campanha do petróleo é nosso e a construção de Brasília, e apontou a transposição do São Francisco com potencial para tanto. À época, Lessa discorreu com entusiasmo sobre o projeto e sua capacidade de transformar o semi-árido nordestino num Imperial Valley, com capacidade agrícola 20 vezes superior à rica área da Califórnia, irrigada pelo rio Colorado.

Um projeto dessa magnitude seria capaz de mobilizar os brasileiros pela capacidade de transformar o Nordeste, eternamente identificado com o flagelo da seca, numa região economicamente próspera. Seria uma causa capaz de levar a população às ruas e garantir um embate público sobre as suas polêmicas. Não é o que se constata agora, quando um bispo faz greve de fome pela suspensão das obras e não se vê manifestação popular contrária. O governo, acuado, negocia para interromper o jejum do bispo e até já cogita interromper a obra por dois meses.

Verifica-se, assim, que a comunicação do projeto foi desastrosa. A começar por seu nome. Transposição do rio dá a idéia de que estão tirando as águas do Velho Chico e ameaçando sua sobrevivência. O projeto utiliza menos de 2 por cento das águas do São Francisco e seria recomendável que carregasse em seu nome uma idéia mais positiva, atrelada a seu caráter transformador.

A falta de um debate nacional permite manipulações, intervenções políticas eleitoreiras, sem compromisso com a melhoria de vida do povo brasileiro, e ações extremadas e intransigentes, como o jejum do bispo de Barra, na Bahia.

O governo deveria usar todos os canais de comunicação possíveis para discutir o projeto. Levar o debate às escolas e universidades, explorá-lo à exaustão na TV pública, caso a grande imprensa não se interessasse pela questão, enfim, conquistar ou perder, democraticamente, os corações e mentes dos brasileiros para o projeto. Ainda há tempo.
MAIR PENA NETO

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