por Antônio Augusto de Queiroz*
A rejeição da CPMF, que retirou do Governo do presidente Lula algo como R$ 140 bilhões de reais nos próximos três anos, custará caro ao PSDB, especialmente nas eleições municipais de 2008 e gerais de 2010. Os motes de campanha serão "apesar do PSDB", se o Governo estiver bem, e "por causa do PSDB", se a administração tiver problemas.
De fato, o presidente da República dispõe de um bom álibi para eventuais problemas nas áreas de saúde e de infra-estrutura, na manutenção ou ampliação do programa bolsa-família, bem como na relação com os servidores públicos. Se não tiver como atender esses setores, dirá que foi por "por causa do PSDB", que negou ao Governo os recursos indispensáveis.
Mesmo na eventualidade de o Governo recuperas os recursos perdidos com a não prorrogação da CPMF, e há meios e formas para isso, o presidente não perderá a oportunidade de alfinetar os tucanos. Nessa hipótese, o discurso ufanista será de que o Governo venceu e melhorou os indicadores sociais e aumentou os investimentos em infra-estrutura, apesar do PSDB.
A vitória da oposição, contraditoriamente, favorece mais aos democratas do que ao PSDB. Os democratas, que andavam sem discurso afirmativo, vão aproveitar a rejeição da CPMF para apresentar um discurso positivo, programático, de combate à excessiva carga tributária praticada no país e tentar uma aproximação com o setor produtivo, especialmente com as entidades de classe do empresariado.
Os democratas, apesar de terem tido papel decisivo na rejeição da CPMF, não serão objeto da campanha governamental. Na opinião dos analistas palacianos, os democratas não têm perspectiva de poder - nem no plano local, nem estadual nem tampouco nacional - e citá-los como relevantes na derrota do Governo seria uma forma de promovê-los.
Os tucanos, que têm real perspectiva de poder, deram um tiro no pé na opinião dos analistas palacianos. O raciocínio é simples e pode ser assim resumido: i) a decisão rachou o partido, ii) antecipou o calendário eleitoral, iii) alertou o presidente para a necessidade urgente de forjar um candidato à sua sucessão, iv) preveniu o Governo sobre a nova postura dos tucanos, fato que terá reflexo na relação com os governadores do PSDB, especialmente os de MG e SP; e v) na hipótese de acontecer o pior, os tucanos podem até suceder ao presidente Lula, mas poderão receber um país com as finanças desorganizadas e sem os recursos da CPMF no primeiro ano de mandato.
Em conclusão, o preço da vitória da oposição no parlamento pode significar derrota eleitoral, dependendo do desempenho do Governo. O Governo do presidente Lula perdeu muito dinheiro com a não prorrogação da CPMF mas ganhou um grande discurso. Se der errado, a culpa será atribuída ao PSDB e se der certo, terá sido "apesar" do PSDB. Além disto, setores do PT poderão acusar os tucanos de terem (indiretamente) favorecido o crime organizado, ao negarem ao Governo um instrumento de fiscalização da movimentação financeira, essencial ao combate à lavagem de dinheiro e à sonegação.
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