segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Para Lessa, Nordeste será a Califórnia brasileira



Economista diz que transposição do São Francisco mudará de vez a vida na região

Carlos Newton

O economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), defende o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, afirmando que a intransigente posição do bispo Luiz Flávio Cappio, de Barra (BA), é injustificável e prejudicial à população mais carente do Nordeste.

"A posição de dom Cappio, que já fez duas greves de fome, está baseada em premissas falsas, porque ele entende que, ao invés da transposição das águas, o governo deveria fazer as pequenas obras previstas no chamado Atlas Nordeste, de construção de pequenos açudes e perfuração de poços", assinala Lessa, lamentando que importantes instituições da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), também incorram no mesmo erro do bispo de Barra.

Segundo o economista, o bispo está equivocado por não levar em conta que grande parte dos poços perfurados nas regiões mais pobres do Nordeste tem resultado em água insalubre, com alto teor de salitre e imprestável para consumo humano, por ser cancerígena e causar cardiopatias, doenças renais e anomalias fetais.

"Justamente por isso, é preciso apoiar a transposição das águas do São Francisco, que vai resolver também os problemas de abastecimento de água em importantes cidades, como Fortaleza, Natal e Campina Grande", destaca Lessa, que é um dos combativos críticos da política econômica, mas reconhece o acerto do governo na questão do São Francisco.

Motivos

Em sua gestão à frente do BNDES, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lessa teve oportunidade de estudar profundamente o assunto e está convencido de que a transposição representará a redenção econômica e social do Nordeste.

"Sob o ponto de vista econômico-social, o Nordeste sempre foi considerado um problema praticamente insolúvel. A omissão de sucessivos governos indicava que a chamada indústria da seca estaria destinada a se perpetuar, motivando uma permanente situação de êxodo em direção aos grandes centros urbanos, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Mas essa realidade vai começar a mudar, e de forma radical", diz Lessa.

A seu ver, para garantir um crescimento sustentado à produção agrícola no Brasil, já está comprovado que a alternativa mais viável é o investimento no Nordeste, cujo potencial em termos de agricultura de exportação é espantoso, só comparável ao chamado Vale Imperial da Califórnia, o hectare rural mais valorizado dos Estados Unidos.

Localização

Lessa afirma que essa surpreendente Califórnia brasileira vai surgir no chamado Eixo Norte nordestino - uma vasta região cruzada pelos rios Jaguaribe (Ceará) e Apodi (Rio Grande do Norte), englobando também parte da Paraíba e de Pernambuco. São terras planas, com solos calcários altamente férteis, bem mais propícios à agricultura do que o cerrado. Além disso, há condições ideais de luminosidade, com 320 dias de sol por ano. Só falta a irrigação.

"Dependendo do volume das águas a serem disponibilizadas no projeto de transposição do Rio São Francisco, poderá ser irrigada uma extensão de até um milhão de hectares - ou seja, uma área cerca de 25 vezes maior do que o famoso pólo frutícola de Petrolina, em Pernambuco. Detalhe: na Califórnia brasileira, será de apenas R$ 0,05 o custo do metro cúbico de água para os produtores rurais usarem em irrigação. Fica mais barato do que a água extraída hoje de poços artesianos, que quase sempre é salinizada demais", acentua.

O ex-presidente do BNDES explica que outra vantagem fundamental é que o Eixo Norte nordestino tem localização estratégica, situado próximo ao litoral, podendo exportar sua produção pelos portos de Natal (RN), Suape (PE), Cabedelo (PB) ou Pecém (CE), para abastecer os mercados da América do Norte, da Europa/Oriente Médio e da Ásia (através do Canal do Panamá), com fretes muito competitivos.

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