sexta-feira, 21 de março de 2008

Marinha corta salário de sargento desaparecido


Família de militar protesta contra a informação de que ele teria se suicidado



Um oficial da Marinha veio até a minha casa para me dar a notícia. E me disse: acidentes acontecem e pessoas morrem. A senhora precisa aceitar! Isso é jeito de dar uma notícia dessas, sem mostrá-lo à família?" , Maria Goretti dos Santos Olegário, mulher do marinheiro Láercio Olegário

A dona-de-casa Maria Goretti dos Santos Olegário, de 40 anos, mulher do segundo-sargento da Marinha Laércio de Melo Olegário, de 42, recebeu mais uma má notícia. Além de ter sido informada sobre o desaparecimento do militar, que participava da Missão Antártida, ontem foi avisada de que, como há investigação de suicídio, a Marinha só pagará os próximos dois salários do sargento.

Laércio desapareceu, sábado, do navio de apoio oceanográfico Ary Rongel, que está em serviço na Antártida desde outubro. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama, dona Marisa, estiveram no navio, durante visita à Antártida, em 15 de fevereiro, Láercio integrava a equipe de mergulhadores que os socorreria em caso de acidente. Estava equipado com roupas especiais, para suportar temperaturas abaixo de zero, pois teria de pular na água e tentar salvá-los.

O marinheiro se envolveu num incidente, sexta-feira passada, quando um colega caiu no mar, de um bote conduzido por ele. Por não ter prestado socorro, foi suspenso da missão na Antártida e seria enviado de volta. O sumiço foi percebido quando o navio seguia perto da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) em direção à base chilena Presidente Eduardo Frei (Base Frei), na Ilha Rei George.

Segundo nota divulgada pelo comando do 1º Distrito Naval, quando o desaparecimento foi notado, as buscas foram imediatamente iniciadas no navio e em diferentes setores da Baía do Almirantado, apesar das condições meteorológicas severas. A Marinha então passou a investigar o caso como suicídio.

“É um absurdo. Além da falta de informação, de não ter certeza de que meu marido realmente morreu, ainda vou ter que conviver com a angústia de ficar sem dinheiro. Ele sempre me proibiu de trabalhar e nossa família precisa dele”, disse Maria Goretti, que desde que recebeu a notícia do sumiço está medicada com calmantes.

Para ela, o descaso da Marinha é o que mais causa sofrimento. Ela acredita ainda que a dor da espera por notícias é maior que a que sentiria se estivesse velando o corpo do marido. “Um oficial da Marinha veio até a minha casa para me dar a notícia. E me disse: ‘Acidentes acontecem e pessoas morrem. A senhora precisa aceitar!’ Isso é jeito de se dar uma notícia dessas, sem mostrá-lo à família?”, afirma.

Entre os argumentos de Goretti, casada há 21 anos com Laércio, com quem tem duas filhas, de 16 e 20 anos, estão o fato de o sargento ter sido aprovado em exames psicológicos e psiquiátricos e de ter passado por treinamento que o qualificasse para a missão. “Ele não tinha por que se suicidar. Mas, se o comandante suspeitou ou sabia de alguma coisa, por que a marinha não cuidou dele e o afastou?”, questiona a mulher.

Segundo Goretti, a última vez que Laércio falou com a família foi no domingo anterior ao desaparecimento, por telefone, e durante a semana passada pela internet. “Ele disse: Estou feliz”, conta Goretti, que combinou com o marido uma viagem a Montevidéu, no Uruguai, semana que vem. “Ele falou que queria passar mais tempo com a família. Então, por que ia deixar a família?”, pergunta, ressaltando que o marido era evangélico.

Experiência

Inconformada, ela teme que o navio retorne sem o corpo de Laércio. De acordo com ela, o militar tem 23 anos de Marinha e já havia somado mais de mil horas em alto-mar, além de ter conquistado alguns diplomas pelo bom trabalho prestado.

A Marinha divulgou outra nota oficial, colocando à disposição da família do militar uma equipe multidisciplinar, formada por um assistente social, um psicólogo, um capelão e um agente do Núcleo de Assistência Social da Marinha. “A apuração dos fatos está sendo feita por meio de inquérito policial-militar, aberto por ocasião da constatação do desaparecimento do militar”.

Ao todo, dois helicópteros, o da Marinha do Brasil e o da Força Aérea do Chile, botes infláveis, quadriciclos, veículos terrestres da estação Comandante Ferraz, da estação polonesa Arctowski e pesquisadores da base Argentina, além do próprio navio oceanográfico Ary Rongel, no qual o militar estava embarcado, e o navio Ushuaia estão fazendo buscas

Sargento da Marinha deixa mensagem antes de desaparecer na Antártica

Reprodução TV Alterosa


(Laura Lima/TV Alterosa)

A equipe da TV Alterosa, Portal Uai e jornal Estado de Minas que viajou ao pólo sul em fevereiro, para uma série de reportagens especiais, gravou com o segundo-sargento Laércio de Melo Olegário, de 42 anos, desaparecido, há quatro dias. Ele integrava a tripulação de um navio que participa de uma expedição científica na Antártica.

Veja a mensagem deixada por Laércio antes de seu desaparecimento





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