sexta-feira, 28 de março de 2008

Traiu-se ou "que rei sou eu?"



Depois de uma carta endereçada aos integrantes do diretório nacional do PSDB, derramou-se Fernando Henrique Cardoso em entrevistas à imprensa, onde repetiu à exaustão abrir mão de qualquer sigilo em suas contas, enquanto presidente da República. Mereceriam todos os aplauso, não fosse um ato falho praticado ao falar a uma emissora de rádio.

Utilizando sofisticada figura de retórica, o sociólogo criticou a concepção de que basta ser governo para ser corrupto e acrescentou: "Todos acham que há algo de podre no Reino da Dinamarca". Referia-se ao Hamlet, de Shakespeare, mas acrescentou: "Pelo menos no meu reinado não foi assim." Pronto. Caiu a máscara. Traiu-se aquele que se acha rei.

Dirão os partidários de Fernando Henrique tratar-se de uma blague, de uma pitada de bom humor em meio a uma discussão delicada envolvendo os cartões corporativos. Os psicólogos, porém, discordarão. Afinal, para os que conviveram com o ex-presidente, nos palácios do Planalto e da Alvorada, seus dois períodos de governo apresentaram características monárquicas.

O Estado era ele, à maneira de Luiz XIV, pois não hesitou em prorrogar o próprio mandato, obrigando o Congresso a mudar as regras do jogo depois dele começado. Eleito por quatro anos, ficou oito, disputando nova eleição no exercício do poder, sem precisar deixar o cargo.

Carlos Chagas

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