domingo, 20 de abril de 2008

Cada país tem o seu Custer, diz Possuelo



O Sertanista Sydney Possuelo compara general Augusto Heleno a militar americano que massacrou os índios no século 19

Ex-presidente da Funai diz que Exército, agronegócio e garimpeiros somam suas forças para negar os direitos dos povos indígenas

O sertanista Sydney Possuelo, que completa 68 anos hoje, já viu antes o discurso de soberania nacional ser usado para tentar impedir a demarcação contínua de terras indígenas na Amazônia. Foi em 1992, quando era presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) e agiu, no governo Collor, para homologar a terra indígena ianomâmi, de 9,7 milhões de hectares, entre os Estados de Roraima e Amazonas.

"Eu me recordo de uma reportagem que saiu no jornal dizendo que meu objetivo era demarcar a terra ianomâmi juntamente com potências européias e os Estados Unidos e, ao final da demarcação, eu seria aclamado o rei da área indígena", recorda-se, completando: "Mais de 16 anos depois, a Amazônia continua com a mesma configuração". Possuelo diz que as declarações do general Augusto Heleno sobre a política indigenista "caótica" brasileira, feitas nesta semana no contexto da disputa em torno da terra Raposa/Serra do Sol (RR), refletem uma postura que ressurge toda vez que o Estado quer cumprir a lei a favor dos povos indígenas.

"Os militares com essa questão de segurança nacional, as pessoas do agronegócio, que se unem também aos garimpeiros. Essas forças se somam para negar aos povos indígenas o direito que eles têm." O sertanista comparou Heleno ao general americano George Custer (1839-1876), que massacrou os índios cheyennes e sioux ("Cada país tem o Heleno ou o Custer que merece") e disse que "ainda bem" que a política indigenista brasileira está dissociada da história do país: "O que seria interessante? O retorno ao que era antes? O retorno aos massacres? É isso o que ele propõe?"

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