
"Inocente útil"
Com sua trajetória eleitoral, Ciro Gomes construiu uma imagem de democrata. Mas seus adversários preferem pintá-lo como um reacionário contido pelas circunstâncias políticas.
E lembram de um episódio ocorrido em 1978, quando Ciro estava na universidade. Naquele ano, o movimento estudantil tentava reorganizar-se no país e um grupo de estudantes da faculdade havia fretado um ônibus para ir a Minas Gerais participar do 1º Encontro Nacional de Estudantes de Direito.
Seria o primeiro evento político do movimento estudantil desde 1969, quando um decreto baixado pelo governo previa punições severas para alunos e professores universitários "indisciplinados".
A viagem corria tranqüila, até o início de uma discussão no fundo do ônibus.
"Alienado o que, rapaz. Aqui neste ônibus tem um monte de inocente útil. Mas você é um inocente inútil!"
O autor da frase, segundo relato de alguns dos passageiros, foi Ciro Gomes.
Ele queria dizer que seus colegas não podiam ser considerados nem mesmo massa de manobra de comunistas e socialistas ligados à luta contra a ditadura militar (e que era designada pela expressão "inocente útil").
A postura adotada naquela viagem deixou em Ciro a marca de “reacionário", nome usado para designar os que se opunham aos movimentos contra a ditadura.
Ainda na universidade, Ciro se envolveu em disputas que reforçaram o mito nascido no ônibus.
Em 1979, estudantes ligados ao Partido Comunista do Brasil decidiram reinstalar o centro acadêmico (CA) da Faculdade de Direito, fechado havia dois anos.
Os militantes se uniram à esquerda católica e formaram uma chapa.
Mas Ciro levantou-se contra o movimento e tentou inscrever uma chapa concorrente.
Não conseguiu apoio e acabou defendendo o boicote à eleição.
Recentemente, declarou ter sido responsável pela recriação do CA. Mas foi desmentido pelo deputado estadual João Alfredo (PT-CE), eleito presidente do centro em 1979. "Ele puxou o boicote às eleições e tentou impedir a vitória da esquerda naquele movimento."
O político Ciro Gomes é um produto do seu meio familiar.
O pai foi filiado à UDN, partido conservador que atuou no país antes do golpe militar de 1964.
Em Adamantina, cidade paulista próxima a Pindamonhangaba — terra natal de Ciro — José Euclides Gomes presidiu o diretório municipal da legenda.
Aos 20 anos de idade, já morando em Sobral, o pai se elegeu prefeito da cidade pela Arena, partido criado a partir da UDN.
Ciro diz que sua filiação ao PDS (que sucedeu a Arena na direita do espectro político brasileiro nos anos 80) foi uma conseqüência direta da influência do pai. "Professor Pedro, sou do PDS por cabresto do meu pai. Mas um dia eu me livro", dizia Ciro ao seu ex-mestre de História e Inglês no Colégio Sobralense.
Ele conseguiu se libertar da influência política do pai por meio do ex-governador cearense Tasso Jereissati, que hoje é seu principal conselheiro e confidente.
É Tasso, com a ajuda de alguns assessores, que tem conseguido fazer com que Ciro controle seu temperamento impetuoso para torná-lo mais palatável para o eleitorado brasileiro.
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