segunda-feira, 21 de abril de 2008

General Augusto heleno revela que deu permissão para tropa abrir fogo contra populares no Haiti


MISSÃO DE ESTABILIZAÇÃO NO HAITI

Ex-comandante revela que deu permissão para tropa abrir fogo contra supostos bandidos

General de Divisão Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-comandante da missão entre 2004 e 2005, diz que tomou decisão de atirar em supostos que viessem resgatar corpos de mortos e feridos num dos confrontos contra grupos armados. ONGs denunciam abuso de poder.

Natália Suzuki - Carta Maior

SÃO PAULO – Em fevereiro de 2004, com o objetivo de viabilizar a estabilização do Haiti e assegurar a realização das eleições presidenciais em 2005, a Missão de Paz da ONU, liderada pelo Brasil, foi enviada ao país caribenho, mergulhado num caos político-social desde a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide e a insurgência de grupos armados. Em março do ano passado, organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos apontaram possíveis abusos das tropas da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) contra a população civil haitiana. As acusações também falavam em omissão da força de paz em relação às violações de direitos cometidas pela polícia do país. Na época, o governo brasileiro respondeu duramente às denúncias, defendendo a importância da participação das tropas nacionais na missão internacional. Um ano e meio depois, o General de Divisão do exército brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-comandante da MINUSTAH entre 2004 e 2005, em evento público, assume que deu permissão para que uma das tropas da ONU abrisse fogo contra supostos bandidos que viessem resgatar corpos de mortos e feridos num dos confrontos contra grupos armados.

“Nós estabelecemos um ponto forte no interior da Cité Soleil, cheio de proteção. Olha a quantidade de tiro (mostra o slide do forte). Toda noite, tinha tiroteio de 15, 20 minutos em cima do ponto forte. Eu botei os peruanos lá. Eles fizeram uma festinha boa ali. Acertaram um monte de bandido; eles eram bons atiradores. Aí eles me perguntaram uma vez: ‘General, por tradição, bandido, quando cai lá, morto ou ferido, vem gente pra buscar o corpo. O que a gente faz? Podemos atirar em quem vem buscar o corpo do bandido?’ Eu tava tão machucado com essa crise e respondi: ‘Atira também, amigo de bandido também toma tiro para eles pararem de vir buscar o corpo’. Chega um ponto que a gente perde a paciência”, disse o general Heleno em palestra proferida para o curso “Segurança e Defesa Nacional na América Latina”, realizado no último dia 11 de setembro de 2006, no Memorial da América Latina, em São Paulo.


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