Prazo foi decidido pela Justiça; delegado considerou tempo curto
O delegado Edmilson Bruno, pivô da divulgação das fotos do dinheiro apreendido com Valdebran Padilha e Gedimar Passos para a compra do dossiê Vedoin, teve pedido de liminar para retomar suas funções negado pela Justiça Federal. A liminar solicitava que o delegado regressasse a seu cargo até decisão final do Processo Administrativo Disciplinar instaurado pela Polícia Federal para apurar se houve irregularidades na divulgação das fotos.
O DELEGADO BRUNO
O tal delegado prendeu os envolvidos, divulgou as fotos do dinheiro para a imprensa, que alegremente publicou sem se dar conta de que o processo corria em sigilo. Em outras ocasiões, como a do dossiê Cayman (que envolvia a cúpula do PSDB com remessa ilegal de dólares ao exterior), a imprensa se recusou a publicar os fatos conhecidos, alegando que o processo corria em segredo. Desta vez, porém, mesmo sabendo da origem promíscua das fotos, a ânsia em fazer campanha para o tucanato falou mais alto. Do conteúdo do dossiê, praticamente nenhuma linha.
Na revista Carta Maior, o jornalista Flávio Aguiar traça um provável roteiro das armações ocorridas desde que a ?operação tabajara? para a compra do dossiê foi desmantelada. Siga o roteiro e tire suas conclusões:
1) Na sexta-feira, 15 de setembro, data marcada pelos Vedoins para entrega do dossiê Serra/Sanguessua a um grupo de petistas, num hotel em SP, o delegado de plantão na PF na capital paulista era Edmilson Pereira Bruno;
2) O delegado prendeu os petistas em flagrante no hotel Ibis. Antes mesmo que os presos fossem conduzidos à sede da PF, em SP, uma equipe de TV da produção do programa do candidato Geraldo Alckmin já estava a postos no local, para filmar a chegada dos detidos e usar as imagens no horário eleitoral do tucano. A equipe de Alckmin demonstrou agilidade superior a de qualquer órgão da grande imprensa, no principal centro jornalístico do país;
3) No dia 18, três dias depois desses acontecimentos, o delegado Bruno foi afastado do caso após declarar que o suposto dossiê Serra/Sanguessuga continha mais de duas mil folhas e implicava todos os partidos. Na verdade, o que tinha mais de duas mil folhas era o inquérito que investigava a ação dos sanguessugas em Cuiabá;
4) Dez dias depois, na quinta-feira, dia 28, o mesmo delegado Bruno invade uma sessão de perícia na qual dois técnicos da PF fotografavam o dinheiro supostamente utilizado para comprar o dossiê Serra/Sanguessuga;
5) O delegado Bruno alega aos peritos que havia sido reconduzido ao caso. Enquanto eles realizavam seu trabalho, o delegado sacou uma máquina digital e fez 23 fotos do dinheiro;
6) Nos dias anteriores, à medida que se aproximava a data do pleito e a vitória de Lula no primeiro turno mostrava-se cada vez mais provável, Alckmin e todo o PSDB, bem como seus ventríloquos na mídia, elevaram o tom das cobranças. A artilharia tucano-pefelê-midiática centrava fogo em duas cobranças: a liberação das fotos do dinheiro pela PF e a presença de Lula no debate da Globo, marcado para o dia 28, quinta-feira, à noite;
7) Lula, na última hora, decidiu não ir ao debate prevendo um "massacre orquestrado" da oposição contra o seu governo;
8) O presidente escapou do massacre, que de fato ocorreu, e teve ampla repercussão no JN e nos diários. Mas não escapou das fotos;
9) Na sexta-feira, dia 29, pela manhã, o delegado Bruno pessoalmente entregou cópias em CDs das fotos que havia feito a três jornalistas em frente do prédio da PF, em SP. Sequer marcou um encontro em local mais Discreto. Segundo o jornalista Bob Fernandes do site Terra Magazine, teria explicado assim seu gesto aos repórteres: "Quero f... Com o Lula e o PT";
10) No mesmo dia, quando as fotos já circulavam na Internet ? divulgadas pela Agência Estado ?, o delegado procurou superiores e informou: "Estou desesperado, pegaram uma cópia das fotos que eu havia feito";
11) Pouco depois, em entrevista à mesma Agência Estado que havia distribuído as fotos e sabia sua origem, o delegado Bruno afirmou: "Estão veiculando que eu cedi o CD. Eu não cedi este CD. Eu não sei se é para me prejudicar ou não. Não sei quem foi o autor do crime, mas não fui eu que distribuí o CD". O delegado afirmou ainda nessa entrevista, divulgada amplamente por um veículo que sabia de antemão a versão verdadeira, que as fotos haviam sumido do seu arquivo pessoal;
12) No sábado, dia 30, as fotos dominaram o noticiário das TVs e as primeiras páginas de todos os jornais. No Globo, a foto ocupou mais de metade da página frontal. A Folha foi além e optou por uma composição grotesca. Sob a pilha de dinheiro colocou uma foto de Lula encapuzado, enquanto vestia um casaco. Uma mão apertada sobre o seu ombro sugeria um caso de detenção. Um truque de composição fotográfica reduziu o Presidente e induzia os leitores a enxergarem-no como um marginal preso em flagrante, a 48 horas do pleito presidencial;
13) Todos os jornais publicaram as imagens do dinheiro sem identificar a origem das fotos. Nenhum informou as palavras ditas pelo ofertante ? ainda que sua identidade fosse mantida em sigilo: "quero fu.. com Lula e com o PT";
14) No domingo, finalmente, os jornais traziam uma entrevista do delegado Bruno. Nela, o policial admite que fez e distribuiu as fotos ? o que antes havia negado peremptoriamente e os jornais ? embora sabendo que era mentira ? publicaram e atestaram a verdade. O delegado, porém, insiste, desta vez, que eu gesto não teve motivação política e nega qualquer ligação com a campanha tucana. Os jornais de novo publicam suas declarações sem contextualizá-las;
15) No mesmo domingo, dia do pleito, os jornais afirmam que o desgaste desse episódio reduziu dramaticamente a vantagem anterior de Lula nas pesquisas de intenção de voto, referentes ao primeiro turno. Segundo as novas enquetes, mesmo no segundo turno, a reeleição do presidente agora se tornara incerta;
16) Tudo fica como dantes no quartel do Abrantes. A imprensa continua a acobertar e a ser cúmplice do crime de violação do segredo de justiça. Por quê? Porque ao invés dos eventuais crimes cometidos por petistas, desta vez os crimes a interessam, e favorecem seu candidato, Geraldo Alckmin?.
Fonte: Agência CUT
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Chico Buarque: "há preconceito de classe contra Lula"
- O preconceito de classe contra Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca ví igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: `Que história é essa de burro? De ignorante? De imbecil?` Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem de Collor.
`Agora sai daí vagabundo!` É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. `Agora volta pra senzala`. Eu não gostaria que fosse assim.?
Por Chico Buarque de Holanda, cantor e compositor
"Mão de Deus"
Em uma carta manuscrita, datada de 24 de outubro (um dia após o depoimento ao Ministério Público Federal) e enviada a um suposto vidente, Bruno relata as prisões dos petistas, o vazamento das fotos e os problemas na PF.
No início do texto, o delegado se colocou como um "instrumento nas mãos de Deus para que se fizesse justiça". No dia em que assumiu a divulgação das fotos, alegou ter agido assim por descontentamento com o comando da PF, que o afastou do caso do dossiê.Na carta, o delegado afirmou que não mentiu quando falou em furto de um CD com as fotos do dinheiro apreendido. Disse que tinha três CDs e que um sumiu de sua mesa.
Depois disso, decidiu distribuir cópia para a imprensa. Afirmou ainda que não pretendia enganar seus superiores. Ele não fez nenhum comunicado de roubo nem de furto.O presidente do Sindicato dos Delegados da PF de São Paulo, Amauri Portugal, disse que Bruno estava "desesperado" quando escreveu a carta.
ABAIXO A SUPOSTA CARTA ENVIADA PELO DELEGADO BRUNO AO "VIDENTE" JUSCELINO (cuja previsão da eleição do Alckmin, ele errou). A história é muito interessante. Para ampliar clique na figura.