Feijó, que é adversário da tucana e agravou a crise política ao divulgar na sexta-feira a gravação de diálogo que provocou a demissão do chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, disse ontem que costuma gravar conversas que mantém com políticos e que outras gravações surgirão "no momento oportuno".
A informação sobre o papel de Lair Ferst como arrecadador de fundos para a campanha vem sendo reiteradamente negada pelo Palácio do Piratini desde que a Polícia Federal deflagrou a Operação Rodin, em novembro de 2007, prendendo temporariamente Ferst e mais 12 pessoas acusadas de participar do esquema no Detran.
Feijó afirmou que Ferst freqüentava "quase diariamente o comitê" e que teria captado recursos para a campanha. "Ele e tantos outros, eu também fui um daqueles que buscaram recursos no meio empresarial de modo geral para apoiar a campanha. Lair foi um dos que ajudaram nesse sentido. Não dinheiro dele, recurso dele, [mas] dinheiro das relações dele."
O vice de Yeda também disse que não há ilegalidade na gravação que fez da conversa com Busatto no dia 26 de maio. Busatto, que admitiu o uso de estatais como Detran e Banrisul (banco estadual) no financiamento de campanhas, não sabia da existência de um gravador no meio dos papéis espalhados sobre a mesa de Feijó. Eticamente, disse, a atitude se justifica por se tratarem "de homens públicos discutindo assuntos de interesse público".
"Gravo aquilo que é do interesse do governo ou sobre o governo. Fora disso, não." Ele disse que há outras gravações, mas não detalhou com quem seria ou do que se trataria. Segundo ele, a divulgação da conversa foi discutida com o presidente estadual do DEM e pré-candidato à Prefeitura de Porto Alegre, Onyx Lorenzoni.
O vice também se contrapôs ao argumento de Busatto de que o uso de estatais mencionado na conversa se trataria das contribuições de ocupantes de cargos comissionados (não concursados). "Ele se refere a fortunas e nenhuma fortuna vem de cargo em comissão nem se fosse doada ao partido 100% da remuneração dos cargos."
Busatto depôs ontem na CPI do Detran, na Assembléia. Ele classificou a gravação da conversa como "uma facada pelas costas" e se disse "crucificado pelas verdades que falei".
O ex-chefe da Casa Civil voltou a dizer que não se referiu a desvios de recursos públicos quando citou a relação dos partidos com estatais, mas a financiamento através de contribuições voluntárias de servidores.
Em depoimento na CPI, ele negou ter sido arrecadador da campanha de Yeda.
Intervenção federal
O ministro da Justiça, Tarso Genro, descartou hoje a possibilidade de uma intervenção federal para conter a crise política que se instalou no Rio Grande do Sul.
"Não é caso de intervenção federal. As instituições do estado gaúcho estão funcionando normalmente, o processamento político é um processamento que compete aos partidos e as lideranças, e não há nenhuma anomalia lá, não há nenhum tipo de violação constitucional. Tudo está funcionando de maneira adequada", afirmou o ministro após participar de um debate sobre a internacionalização da Amazônia promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Apesar de descartar a intervenção, o ministro observou que o governo federal irá acompanhar o caso por considerar haver "incidência jurídica" nas denúncias de corrupção. "Acompanhamos todas as questões políticas que tenham incidência jurídica no país. Não existe uma instabilidade política grande, mas nosso compromisso é para verificar se as instituições estão funcionamento normalmente, e estão. Não há violação constitucional", disse.
Genro lembrou que o caso decorre de uma investigação da Política Federal e de um inquérito envolvendo verbas públicas do Detran. "É um inquérito de muita qualidade. Dos 48 indiciados, 44 foram denunciados. Agora o resto é uma questão do estado do Rio Grande do Sul e da legislação estadual sobre o assunto", afirmou.
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