terça-feira, 12 de agosto de 2008

Alunos cotistas da UnB se formam com melhor desempenho

Este ano, 44 alunos dos 378 alunos da primeira turma de cotistas da Universidade de Brasília (UnB) se forma em 19 cursos diferentes. De acordo com relatório do assessor de Diversidade e Apoio aos Cotistas da Universidade, Jaques Gomes de Jesus, a dispersão de formandos entre os cursos reforça a constatação do elevado empenho dos cotistas em sua formação, com menos trancamentos, reprovações e abandonos (menos de 1% do total de alunos cotistas), e desempenho acadêmico semelhante aos dos demais alunos.

"Embora sejam vistos como estudantes como quaisquer outros dentro do campus, os cotistas têm status diferenciado junto a suas comunidades de origem, em razão de serem, muitas vezes, não apenas os primeiros da família a ingressar no ensino superior, mas também os primeiros das comunidades. Exemplos desta nova realidade acadêmica foram a aprovação no vestibular, através do sistema de cotas, de um morador de rua e de uma quilombola", afirma Jaques de Jesus.

Em junho de 2003, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UnB aprovou a criação do Sistema de Cotas para Negros, com objetivo de, num período de 10 anos, destinar 20% do total de vagas de cada curso oferecido nos vestibulares aos candidatos que se declaram negros.

O impacto na sociedade foi imediato. O primeiro vestibular com o sistema de cotas, realizado no segundo semestre de 2004, atraiu 4.400 candidatos ao sistema, de um total de 23,5 mil inscritos no vestibular.

A UNB e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foram pioneiras na implantação do sistema de cotas, rompendo com a prática segregacionista de valorizar apenas um segmento étnico na construção do saber nacional. Antes de 2004, a UnB tinha 2% de estudantes negros, hoje conta com 12%, uma representatividade seis vezes maior. O número, no entanto, ainda está longe dos 45,9% de negros (pretos e pardos) que compõe a população brasileira. O Sistema de Cotas para Negros tem, portanto, uma importância estratégica para a construção de país efetivamente democrático.

Atualmente, dos 19.583 alunos de graduação da UnB (10.181 homens e 9.402 mulheres), 27 são de origem indígena (10 homens e 17 mulheres), que ingressaram por meio de vestibular diferenciado; e 2.332 são oriundos do Sistema de Cotas para Negros (1.218 homens e 1.114 mulheres), representando 11,9% do corpo discente.

Desempenho superior

Comparação entre os prováveis formandos cotistas com os demais alunos não-cotistas da UnB mostra que os primeiros alcançaram um desempenho acadêmico superior. Numa escala de 0 a 5, os cotistas alcançaram em média um coeficiente de rendimento de 3,9, contra 2,3 dos não-cotistas. A média de trancamento entre os cotistas é de 0,5, contra 1,0 dos não cotistas. E as reprovações entre os cotistas alcançam 1,5, contra 3,5 dos demais.

Dentre os 44 formandos cotistas, 57,9% já ingressou no mercado de trabalho, 18,4% estão em estágios, e 23,7% não trabalham ou estagiam, dedicando-se a outros estudos, como os preparatórios para concursos públicos ou pós-graduação.

A UERJ, em parceria com a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e o Ministério da Educação, fará uma pesquisa para avaliar o sistema de cotas raciais, implantado pela instituição em 2003. De acordo com o ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, o estudo vai apurar o desempenho e o índice de evasão dos alunos, as dificuldades por eles enfrentadas e a inserção dos diplomados no mercado de trabalho. A previsão é que o estudo esteja concluído em novembro deste ano.

Papel histórico

"A adoção de políticas desta natureza beneficia a sociedade brasileira como um todo, pois cria igualdade de condições para todos os indivíduos", afirma o ministro Edson Santos, acrescentando que "também fortalece os instrumentos para a extinção das práticas discriminatórias, e propicia às pessoas o exercício pleno de seus direitos fundamentais".

Ele avalia ainda que "são políticas que reconhecem e valorizam a pluralidade étnica que marca a sociedade brasileira e, ao tratar de maneira desigual os desiguais, avança no caminho da justiça social e da igualdade de oportunidades".

Ao mesmo tempo, admite que a política de cotas não deve ser uma política eterna. "Deve cumprir seu papel histórico apenas enquanto as ações de melhoria do ensino fundamental e médio estiverem incompletas. Neste tempo servirá também para reparar as injustiças que os negros(as) brasileiros(as) experimentaram para construir esta nação", concluiu.

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