sábado, 2 de agosto de 2008

Desembargador gaúcho admite contato com as Farc




Interpol/AFP
Raúl Reyes, número 2 no comando dos rebeldes, foi morto em operação do Exército colombiano em território equatoriano, em março
O desembargador gaúcho Rui Portanova, 58 anos, admitiu ter mantido contato com integrantes do movimento guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, Portanova declarou: “Mantive contato durante meses com eles, por e-mail. Tinha curiosidade por saber como vivem”.

O magistrado é um dos nomes citados nos e-mails que estavam no computador de Reúl Reyes, o número 2 do movimento, morto em operação do Exército colombiano no Equador, em março. Anteontem, a revista colombiana Cambio publicou uma reportagem de capa na qual fala das supostas ligações de integrantes da guerrilha com políticos do governo brasileiro. "Os e-mails mostram que as Farc estabeleceram contatos com as mais altas esferas do governo Lula", afirmou a publicação. A revista teve acesso a 85 e-mails que estavam no computador de Reyes, apreendido pelo Exército colombiano, e se baseou neles para escrever a reportagem.

Portanova é famoso por decisões favoráveis ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Ele, que se define como “homem de esquerda”, diz que conheceu Hernán Ramírez, um representante das Farc, em 1999. “Recebi o sujeito no meu gabinete no tribunal. Perguntei a ele como estavam, como viviam na selva, se tinha como ir. Disse que conhecia bem os acampamentos do MST”, afirmou ao jornal gaúcho. Quando questionado sobre se considerava normal um desembargador brasileiro manter contato com uma guerrilha, Portanova é direto. “Acho normal, foi por curiosidade.” Ele diz que não contribuiu com dinheiro, mas admite que chegou a planejar uma visita aos acampamentos das Farc na selva colombiana.

Selvino Heck, assessor da Presidência da República, explicou que a maior proximidade que houve entre o governo e a guerrilha colombiana foi o contato de entidades de direitos humanos sobre as condições de detenção do padre colombiano Olivério Medina, considerado o representante das Farc no Brasil. “Foi apenas um gesto de apoio a um preso”, declarou. Medina estaria detido em condições insalubres no Presídio da Papuda, em Brasília. Heck teria ajudado o representante das Farc no Brasil a ser transferido para prisão domiciliar.

Heck afirmou que não tem contato com o padre, atualmente. Disse saber somente que Medina está em Brasília e teria pedido naturalização. O governo da Colômbia solicitava sua extradição, mas ela foi negada pela Justiça brasileira, de acordo com Heck.

Outros setores do governo brasileiro negaram ter relações com as Farc. A assessoria do Ministério das Relações Exteriores informou que o ministro Celso Amorim não teve contato com representantes das Farc, como aponta a Cambio. Já o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, classificou a reportagem de "fantasiosa".

O tesoureiro nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e ex-secretário de relações institucionais do partido, o gaúcho Paulo Ferreira, admitiu ter se encontrado com integrantes da guerrilha. “Em vários momentos fomos procurados por representantes das Farc com pedidos de ajuda. Mas a posição do PT sempre foi de absoluta divergência com os métodos praticados pelo grupo. Nunca houve cooperação”, explica.

VISITA

Salvo alteração de agenda, o novo chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, desembarca em Brasília na próxima semana para analisar, entre outros assuntos, as reverberações do suposto "dossiê" sobre relações entre a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e personalidades próximas ao governo brasileiro. Bermúdez assumiu o cargo no último dia 17.

O chanceler é esperado nos próximos dias 13 e 14, para encontros com Lula e com o colega Celso Amorim. Bermúdez explicou que as informações divulgadas pela revista já haviam sido repassadas ao governo brasileiro e que as autoridades brasileiras determinarão "quais investigações cabe fazer e as eventuais responsabilidades políticas e jurídicas".

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