ARGENTINA
Privatização das Aerolíneas Argentinas é exemplo de saque ao patrimônio público
Quando foi privatizada por Carlos Menem, em 1991, a Aerolíneas Argentinas era uma empresa lucrativa e considerada uma das mais seguras do mundo. Vendida para a espanhola Iberia, a empresa passou por um processo de desmonte e decadência, com venda de aviões, fechamento de oficinas e escritórios e demissão de funcionários. Agora, governo argentino decidiu retomar o controle da empresa.
Marco Aurélio Weissheimer
BUENOS AIRES - A mais recente crise nos aeroportos argentinos causada pela situação de penúria da Aerolíneas Argentinas e pela decisão criminosa de seus proprietários privados (logo após o anúncio da reestatização da empresa pelo governo) de vender passagens acima da capacidade dos aviões disponíveis é um retrato do fracasso do modelo de privatizações implementado pelo governo de Carlos Menem. Criada em 1950 pelo governo de Perón, a empresa chegou a ser líder das companhias aéreas do hemisfério Sul. Quando foi privatizada, a Aerolíneas Argentinas era uma empresa lucrativa e considerada uma das mais seguras do mundo.
Possuía uma frota de 28 aviões próprios e um alugado, com rotas internacionais e escritórios em algumas das mais importantes cidades do mundo. No início dos anos 1990, foi avaliada em cerca de US$ 600 milhões, muito abaixo do seu valor real. No leilão de privatização, a única empresa interessada foi a espanhola Ibéria, que ofereceu US$ 260 milhões em dinheiro por 85% das ações da empresa, mais outros US$ 560 milhões em títulos da dívida argentina. De lá para cá, privatizada, a empresa conheceu um processo de desmonte e decadência.
No dia 17 de julho, o governo argentino anunciou que o grupo espanhol Marsans, sócio-majoritário da Aerolíneas Argentinas e da Austral, teria 60 dias para transferir suas ações ao Estado. Mesmo atravessando uma forte crise, a Aerolíneas ainda é a principal empresa aérea do país, controlando 80% dos vôos domésticos e 40% dos internacionais. Até então, o grupo espanhol tinha 85% das ações, com outros 10% nas mãos dos funcionários e 5% com o governo argentino. A empresa foi privatizada em 1991, durante o governo Carlos Menem (1989-1999), passando a ser controlada pela empresa espanhola Ibéria, que acabou vendendo boa parte dos ativos das Aerolíneas para resolver seus próprios problemas financeiros. Em 1994, a Ibéria entrou em concordata, deixando a Aerolíneas com uma dívida de quase US$ 1 bilhão.
O governo espanhol, que assumiu os ativos da Ibéria na época, decidiu sanear as dívidas da filial argentina e passou as ações para o grupo Marsans, que assumiu o controle da empresa pelo preço simbólico de 1 euro. O grupo espanhol implantou uma política de forte redução de custos na empresa, entrando em rota de colisão com os sindicatos de funcionários da Aerolíneas e enfrentando uma série de greves e problemas nos aeroportos. Agora, o Estado argentino prepara-se para retomar o controle da empresa.
Quando foi privatizada, a empresa dava lucro aos cofres públicos. Motivo de orgulho para os argentinos, a Aerolíneas foi uma das primeiras empresas a ser privatizada na era Menem. Também foram privatizadas empresas estatais dos setores de ferrovias, petróleo e gás, de água e esgoto, Correios, de eletricidade e de telefonia, entre outras. Na maioria desses casos, o patrimônio público argentino foi saqueado e os serviços prestados à população pioraram de qualidade e aumentaram de preço.
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