Três trabalhadores rurais foram presos e seis ficaram feridos com balas de borracha na cidade de Pontal, interior de SP. Trabalhadores reivindicam reajuste de 10% no piso salarial e aumento no valor pago pelo metro de cana cortada, para R$ 0,20.
Terror e repressão na greve dos cortadores de cana
Três trabalhadores rurais presos, seis feridos com balas de borracha, comércio fechado, moradores aterrorizados. Esse foi o resultado do confronto, nesta segunda-feira (25), na principal rua de Pontal (SP), entre cortadores de cana que estão em greve há uma semana e policiais militares que foram chamados para cumprir liminar dada na última sexta-feira (22) a usinas. A decisão garantiu a saída dos ônibus para os canaviais com os trabalhadores que não aderiram à paralisação.
Foi o segundo confronto entre PMs e bóias-frias em três dias - o primeiro ocorreu no sábado em Cruz das Posses, distrito de Sertãozinho, quando os trabalhadores da usina Albertina tentaram fechar a rua para impedir a saída dos ônibus com trabalhadores. Quatro grevistas foram feridos.
O conflito desta segunda começou por volta de 9h30 quando, após a saída de 60 ônibus de rurais com escolta de policiais, cerca de 150 cortadores de cana das usinas Bazan, Bela Vista e Carolo, todas em Pontal, apoiados pela Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), decidiram protestar em frente à sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pontal, que não apóia o movimento.
Do outro lado da rua, 16 homens da Tropa de Choque da PM de Sertãozinho e Jaboticabal mandaram os trabalhadores recuarem. Não foram atendidos e passaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo, gás pimenta e balas de borracha.
As lojas da rua e o restaurante da rodoviária fecharam as portas. A diretora de uma escola pública que mora em frente à rodoviária, Reginalva de Lourdes Negrão de Carvalho, 46, se agarrou a uma imagem de Santo Expedito - a reportagem acompanhou o conflito da varanda da professora - rezando para que o confronto, que durou cerca de 20 minutos, acabasse. ''Fiquei apavorada. Isso nunca aconteceu aqui'', disse.
''A polícia se utiliza primeiro do diálogo, depois dos meios não-letais dos quais dispomos e, se preciso, de outros meios legais para evitar o dano do patrimônio público e privado'', disse o tenente Eduardo Martins Ribeiro.
Reivindicações
Os trabalhadores reivindicam reajuste de 10% no piso salarial, que chegaria a R$ 500, e aumento no valor pago pelo metro de cana cortada para R$ 0,20 - hoje varia entre R$ 0,08 e R$ 0,13.
Querem também que as usinas criem comissões, com representantes dos patrões e dos trabalhadores, para a aferição da medição da cana, por meio da qual as usinas calculam o valor do adicional de produtividade pago aos cortadores - documentos mostram não ser incomum fraudes ou erros na medição provocarem um pagamento aos trabalhadores abaixo do previsto nos acordos salariais.
Os três trabalhadores presos são indígenas. Sidnei Pereira das Neves, 22, Júlio Marcos da Silva, 28, e José Alípio Guimarães, 32, pertencem à tribo Xacriabá, de São João das Missões, norte de Minas Gerais. O trio foi solto no final da tarde.Segundo o delegado de polícia de Pontal, Maurício José Furtado Nucci, os trabalhadores detidos participaram da invasão da sede do sindicato e, por esse motivo, foram indiciados pelo crime de dano.
Decisão judicial
O tenente da PM de Pontal, Eduardo Martins Ribeiro, que comandou ontem as operações em Pontal que resultaram em três cortadores de cana presos e seis feridos, afirmou que os policiais estavam na cidade para cumprir a decisão da Justiça do Trabalho de Sertãozinho, que obriga a Feraesp a deixar os bóias-frias que não aderiram à greve saírem para o corte da cana, sob pena de multa de R$ 50 mil.
A decisão, assinada pelo juiz Renê Jean Marchi, foi provocada por uma ação de interdito proibitório proposta pelas usinas Bela Vista e Bazan, ambas de Pontal. A sentença foi dada na última sexta-feira. Segundo o capitão Luiz Fernandes da Costa, que comandou a operação no distrito de Cruz das Posses, em Sertãozinho, a Justiça do Trabalho também concedeu decisão semelhante à usina Albertina.
O advogado Paulo César Paschoal, assessor jurídico da diretoria do Grupo Bazan, ao qual pertencem as usinas Bazan e Bela Vista, informou que o prejuízo gerado às empresas pela paralisação soma R$ 4 milhões.Segundo Paschoal, as usinas já prevêem atraso para esta safra, já que a moagem da cana-de-açúcar foi diminuída em 26% nos seis dias de greve. ''Essa liminar veio reforçar um preceito constitucional que é o direito de ir e vir. A polícia só fez cumprir isso'', disse Paschoal.
Segundo Ribeiro, tenente em Pontal, cerca de 60 ônibus, transportando mais ou menos 30 trabalhadores, foram escoltados pelos policiais em direção aos canaviais na segunda. O advogado do grupo Bazan informou que as usinas só reconhecem como parte legítima para negociações o Sindicato Rural de Pontal, com o qual firmaram os acordos salariais para esta safra, que vigoram até 2009.
A vice-presidente do sindicato, Maria de Fátima Guimarães, 50, ex-cortadora de cana, informou que discorda do modo como a greve está sendo conduzida e disse que nenhum dos manifestantes procurou a entidade, antes da ocupação de segunda.
Fonte: www.vermelho.org.br
com informações da Folha de São Paulo
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