sábado, 20 de setembro de 2008

Daniel Dantas só fala a verdade


"Lá em cima eu resolvo". Tem mesmo resolvido!


É incrível a força política de Daniel Dantas. Vejam só. Nélio Machado, ontem, no Globo, comemora as declarações do ministro Nelson Jobim de que "as escutas feitas com a participação de agentes da Abin na operação Satiagraha podem invalidar processos judiciais em curso". Leia-se: caso Daniel Dantas. O presidente do Supremo, Gilmar Mendes, está nos jornais de hoje, chegou ao ponto de condenar todas as escutas, tanto as feitas com autorização judicial como as realizadas sem essa autorização.

Comparou a Polícia Federal e a Abin a um novo SNI. Como? A lei prevê escutas mediante autorização judicial. O ministro Gilmar Mendes quer mudar a lei por vontade própria. Está se expondo demais. Nunca houve um presidente do STF como Gilmar Mendes.

Foram escutas telefônicas que levaram Fernandinho Beira-Mar à prisão, por exemplo, além de tantos outros traficantes, assassinos e ladrões, como Silveirinha e Ronaldo Adler.

Daniel Dantas não estava mentindo, de leve que fosse, quando afirmou: "Meu problema é com a Polícia Federal e a primeira instância, lá em cima eu resolvo". É um sábio, teve problemas com a Polícia Federal e com o juiz de primeira instância. Mas como ele mesmo disse publicamente, "lá em cima eu resolvo". Resolveu mesmo.

Como eu disse na época, Dantas e seu famoso advogado esperaram o recesso do Supremo e entraram com o habeas-corpus, quando o presidente do Supremo decidia sozinho. E anulou duas prisões seguidas, determinadas pelo juiz Fausto Martin de Sanctis.

Gilmar Mendes deveria ter evitado a participação no caso, pois quando foi advogado geral da União teve fortes ligações com Daniel Dantas. Assim que acabou o recesso do Supremo, houve aquele estranho documento "de apoio" ao presidente do Supremo. Sem assinaturas e sem a totalidade dos ministros. E logo se retraíram, compreenderam que cometeram pelo menos "um equívoco".

O Brasil sempre viveu "grampeado". É lógico que com o surgimento do SNI (copiando os modelos da CIA, FBI, Mossad e KGB) e o avanço da tecnologia, houve a multiplicação dessa descoberta.

Agora fazem estardalhaço com esse grampeamento, só que poucos sabem que o "grampeamento" é geral. E vem de muitos lugares. De órgãos interessados em investigação com autorização judicial sem controle. Até os "independentes", que cobram por gravação.

E a oferta de gravações é tão grande, que os "gravadores" contratam auxiliares e atendem a demanda, cada vez maior.

Em 1968, em plena ditadura, amigos do ex-ministro José Maria Alkmin alertaram-no: "Alkmin, você corre um sério risco. No teu prédio, no apartamento de cima, mora o chefe do SNI, e abaixo, um outro importante membro do time de gravadores".

E Alkmin, com a maior tranqüilidade: "Não tem importância, eu nunca digo nada". Agora, em discurso no Senado, Pedro Simon contou: "Há 40 anos foi alertado por gravações na sua casa, escritório, carro". Por isso advertiu: "Nunca digo nada no telefone".

O litígio e até hostilidade entre os Três Poderes é mais do que visível. E Daniel Dantas, triunfante, exibe todo o seu fascinante prestígio. O homem do Opportunity é o supremo senhor do seu próprio destino, envolve e desgasta grandes personagens.

PS - As coisas estão longe de chegarem ao fim. E como conseqüência de tudo o que foi provocado por Daniel Dantas, houve "o efeito dominó", linguagem da guerra fria, que Dantas tornou popularíssimo na guerra quente que trava e na qual vai aparecendo como o grande vitorioso.


Hélio Fernandes

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