segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A nova "diversão" oficial do Brasil



GRAVAÇÃO DA PRIVACIDADE, RETROCESSO DA DEMOCRACIA
Helio Fernandes

Em 1876, Graham Bell oficializou a invenção do telefone, que como acontece e aconteceu com outros inventos, foi tentado antes por muitos que não concluíram o avanço. Graham Bell ficou tão entusiasmado, que escreveu cartas a 10 personalidades do mundo, mostrando a capacidade desse instrumento de comunicação a distância, "unindo as pessoas, mesmo em lugares inimagináveis".

Um dos 10 escolhidos pelo inventor foi Dom Pedro II, grande figura, respeitado e admirado no mundo inteiro.

O inventor, que era um humanista, preocupado com o destino das pessoas, a solidão e o isolamento, achava que o seu invento teria enorme significação para unir indissoluvelmente as pessoas. Errou completamente no julgamento dos que iam usar a aparelhagem. Apesar do sucesso da invenção.

Bell teria morrido de desgosto, se soubesse a degradação a que submeteriam sua invenção e sua destinação. Nunca se gravou tanta conversa particular como no Brasil. A partir de 1964, o major (general na reserva por força de leis protecionistas) Golbery, instalou o que se chamava de "escuta". Chefe do novíssimo SNI, foi gravando indiscriminadamente.

São 44 anos de gravações perigosas, escutando o que não deviam, tentando devassar a vida dos que consideravam inimigos. Ou até de amigos para uma "reserva" no caso de mudança de lado, no futuro.

Inicialmente eram aparelhos rudimentares, cheios de barulhos, gravavam tudo, e depois não sabiam identificar. Ficavam tão perdidos, que um dia me prenderam, me levaram para o Primeiro Exército, apresentaram listas de gravações, queriam que o repórter identificasse. Uma delas, provocou gargalhadas do repórter, pois os "gravados" eram amicíssimos. O texto: "Hoje, Guguta e Darwin Brandão se encontraram, aparentemente têm um caso". Guguta, grande figura, Darwin Brandão, excelente repórter, eram casados há anos.

O interrogatório-identificação, era feito pelo coronel Agricio Faria de Pimentel, chefe de Gabinete do general Montagnha. Este, implacável entre os mais insensatos. Diante da minha resistência, o coronel disse irritado: "Acaba, acaba, leva ele para a cela". Eu já ouvira isso tantas vezes, já conhecia o som.

A aparelhagem foi melhorando, a técnica evoluindo, junto com a volúpia indecente de saber o que os outros faziam em casa ou no escritório. E a força dessa violência escondida era tanta, que a ida para a chefia do SNI, equivalia a uma quase indicação para "presidente". Medici era do SNI, João Figueiredo do SNI, se houvesse mais um "presidente" militar, seria o homem que mandou incendiar e destruir esta Tribuna, general Otavio Medeiros, chefe do SNI de Figueiredo.

Agora, gravam, vigiam, ouvem, não perdem de vista, perdão, de ouvido, o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal. A ditadura cassou ministros mas não fechou o Supremo. Agora, Gilmar Mendes protesta justamente e exige do presidente Lula que tome providências. Perguntinha inútil, ingênua, inócua: "O que fazem com tanta ESCUTA?". Obtido o resultado, arquivam o material? Por ordem alfabética?

Inicialmente o SNI e Golbery eram absolutos, gravavam o próprio "presidente" Geisel. Ficou famoso o episódio de uma obra que o "presidente" Figueiredo mandou fazer no seu escritório no Planalto. Descobriram formidável aparelhagem de gravação, registrando todas as conversas, do então "presidente".

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