sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Afinal, uma boa notícia

Crise mundial não impede ingresso de investimento estrangeiro no Brasil



Em meio ao agravamento da crise financeira internacional, o Brasil tem pelo menos uma boa notícia a comemorar: enquanto os dólares que aqui vieram especular na Bolsa de Valores ou ganhar com os juros mais altos do mundo estão batendo em retirada, o ingresso dos investimentos estrangeiros diretos continua fluindo em ritmo que chega a surpreender. E esse é exatamente o capital que mais interessa, pois trata-se de dinheiro aplicado em negócios perenes, como fábricas, minas, plantações ou instalações comerciais.

Apenas neste mês de outubro, o segundo da crise, levantamento preliminar do Banco Central indica que, até ontem, ingressaram no Brasil US$ 3 bilhões na forma de investimentos diretos e a autoridade monetária estima que outros US$ 500 milhões vão chegar até o fim do mês. Ninguém pode garantir que esse ritmo será mantido. Mas o desempenho dessa conta em plena crise não deixa dúvida de que as empresas que têm empreendimentos no país mantiveram seus planos de longo prazo.

Os investimentos diretos têm sido, aliás, os responsáveis por resultados menos desastrosos nas contas externas do Brasil este ano. Em setembro, o ingresso desses capitais tinha sido excepcional, totalizando US$ 6,2 bilhões, o maior valor registrado desde junho de 2007, quando o fechamento de negócios nos setores mineral e siderúrgico proporcionou a entrada recorde de US$ 10,3 bilhões. No acumulado de janeiro a setembro deste ano, os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 30,8 bilhões e, com as entradas de outubro, o recorde anual registrado no ano passado, de US$ 34,6 bilhões, ficará muito perto de ser superado. As projeções do governo para todo o ano eram de US$ 35 bilhões, valor que, mesmo com a crise internacional, certamente será alcançado.

A importância de manter elevado o fluxo de investimentos diretos torna-se ainda maior no atual cenário de desaceleração da economia mundial, em razão da escassez de crédito e aversão acentuada ao risco. É a garantia de que a capacidade produtiva terá alguma expansão nos próximos anos, o que significa que empregos serão criados. No caso brasileiro, o ingresso desse capital em moeda estrangeira, destinado a ativos fixos e a giro de negócios, ocorre em hora crucial e tem efeito ainda mais benéfico, tendo em vista o mau desempenho das transações correntes do país com o exterior.

Até setembro, essas contas já acumulam um desconfortável déficit de US$ 23,2 bilhões e a tendência é de que vão fechar o ano com um rombo próximo dos US$ 30 bilhões. Será o maior déficit desde 1998, resultado que seria ainda pior sem os investimentos diretos. É mais uma razão para que os governantes se conscientizem de que sempre vale a pena manter saudáveis os fundamentos da economia, com o firme controle da inflação, a geração de superávits, a manutenção de política cambial civilizada e, principalmente, o compromisso de honrar, a qualquer custo, o cumprimento dos contratos. Não foi outra coisa que deu ao país a condição de se tornar destino confiável de capitais. Mesmo em meio à tormenta atual, tudo deve ser feito para não sujar esse cadastro, duramente construído.

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