segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Caso Eloá

conselho pede inquérito sobre ação da PM

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) pediu hoje a instauração de inquérito para apurar a responsabilidade dos disparos que mataram Eloá Cristina Pimentel e feriram sua amiga, Nayara Rodrigues da Silva. "Em que pese o acúmulo de competências da Polícia Militar (PM), chama a atenção que os responsáveis pela operação não tenham reconhecido a complexidade do caso, em que o detentor apresentava claros sinais de distúrbios emocionais, fato este que demandava, portanto, o envolvimento de outros profissionais habilitados para mediar conflitos, minimizando os riscos à integridade física das meninas", afirma o Conanda, em nota.

As estudantes ficaram em poder de Lindemberg Alves, de 22 anos, por mais de 100 horas em Santo André, no ABC paulista. No comunicado, o órgão da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) também critica a PM pela autorização do retorno de Nayara ao cativeiro, expondo a garota a um ato inseguro e de violência, o que, segundo o órgão, descumpre a lei 8.069 (13/07/90) do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).


Secretário nacional vê 'erro flagrante' no caso Eloá



O secretário Nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, afirmou, em Teresina (PI), que houve "erros flagrantes" na operação do seqüestro que terminou com a morte de Eloá Cristina Pimentel, 15 anos. A jovem foi baleada na cabeça e na virilha depois de ficar cerca de 100 horas em cárcere privado em um apartamento de Santo André, no ABC paulista.

"Houve erros flagrantes. A reintrodução de uma das vítimas no local de seqüestro, que pelo padrão internacional de polícia é inadmissível. Tivemos uma tentativa de invasão, que demorou alguns segundos, que deveria ter sido uma operação múltipla. No mínimo ter alguém entrando pela janela. Pelas cenas que tivemos nos vídeos, houve dificuldades de mobilização do criminoso e há técnicas internacionais em que de três a quatro policiais se mobilizam imediatamente", afirmou o secretário ao visitar a Central Única de Flagrantes na capital piauiense.

Balestreri disse ainda que compreende que "houve momento de muito estresse", mas é preciso ter cuidado para não "demonizar" a ação da polícia. Ele destacou que o episódio ensina que é preciso aprofundar as técnicas para atuação de seqüestro no Brasil.

"A gente percebe que esse tipo de atuação está mal coberto no Brasil do ponto de vista técnico. O episódio é dramático, mas nos alerta para que no futuro outras possibilidades iguais sejam trabalhadas de forma diferente", disse o secretário.

Balestreri destacou que houve "boa vontade" da polícia de preservar a vida do rapaz Lindemberg e que ação ficou "pouco romantizada". "Eu acho que o comandante da Policia Militar de São Paulo tem toda razão quando disse que, se tivesse alvejado o rapaz, hoje a nação inteira e a mídia estariam contra a Polícia de São Paulo".

O secretário defendeu que a operação deveria ter usado atiradores de elite. "No mundo inteiro é comum o uso de atiradores de elite, mas o Brasil ainda é um País emocional na área de segurança pública", disse Balestreri.

Cárcere Privado

Lindemberg Alves, 22 anos, invadiu o apartamento da família da ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, na tarde de segunda-feira da semana passada. Armado com um revólver, o jovem fez reféns, além da ex-namorada, uma amiga dela, Nayara, 15 anos, e dois colegas de escola, que estavam no local para fazer um trabalho para a aula. A ação foi motivada pela recusa de Eloá em reatar o namoro.

O seqüestrador libertou os dois adolescentes no mesmo dia. Nayara foi libertada no dia seguinte, após passar 33 horas no apartamento. Já na quinta-feira, Nayara voltou ao cativeiro. Segundo a polícia, a jovem foi chamada para ajudar nas negociações e decidiu entrar no apartamento por conta própria.

A polícia invadiu o apartamento por volta das 18h10 de sexta-feira, depois de mais de 100 horas de cativeiro. Eloá foi baleada na virilha e na cabeça, e Nayara, na boca. Segundo a Polícia Militar, os tiros partiram da arma de Lindemberg. Na ação, o jovem foi detido e Eloá e Nayara levadas para o hospital.

Médicos anunciaram a morte cerebral de Eloá às 23h30 deste sábado. Os órgãos foram liberados para doação pela família. Nayara passa bem e deve receber alta nos próximos dias.

Lindemberg, que está preso no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros (CDP), na zona oeste de São Paulo, responderá por homicídio e dupla tentativa de homicídio, segundo a polícia.

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